A franja loura e o gogó afinado de Justin Bieber têm poderes que nem o pop explica. Exemplo: em pleno sábado de carnaval, os tios Maristela e Graciliano Rosa cederam aos apelos da pequena Juliana Godinho, 4 anos, e trocaram a folia pelo ar refrigerado do cinema. A sobrinha, hipnotizada por comerciais de tevê, insistiu de tal forma ; e com tanta antecedência ; que a dupla enfrentou o desânimo e se obrigou a ver Never say never, filme sobre a vida do ídolo teen, no Kinoplex do Boulevard Shopping. Nos créditos finais, a menina confirmou a fé no queridinho do momento. Mas foi nos mais crescidos, com medo de sucumbir ao tédio profundo, que o feitiço bateu forte. ;Ele me surpreendeu. É um artista que vai durar;, avalia Maristela, 31. Eis o milagre.
A cena repete-se ao fim das sessões do documentário, em cartaz na cidade há duas semanas. Enquanto a meninada solta os agudos no refrão de Baby, o hit-chiclete do prodígio, os adultos se surpreendem ao descobrir o talento de um astro adolescente que, à primeira vista, cheira a fenômeno artificial, de curta validade. O longa-metragem investe pesado na construção de uma imagem respeitável, polpuda, para um canadense que, aos 17 anos, já foi indicado a dois Grammys e vendeu mais de 2 milhões de cópias de My world 2.0, o disco de estreia, de 2010. ;Eu esperava um filme fraco. Mas me lembrei da história de Michael Jackson. Com a diferença de que o Justin tem uma família sólida, muito presente;, comenta Graciliano, 31 anos.
Comparar a ;biebermania; com outros furacões pop, no entanto, pode ser motivo para polêmica. Desde que se instalou nas paradas de sucesso (entre 2009 e 2010), o petiz divide o público mirim entre fãs e desafetos. As amigas de colégio Iara da Silva Santos e Taís Alencar de Araújo, ambas com 10 anos, acostumaram-se a ouvir a ladainha de meninos que pegam no pé do cantor. ;Os garotos dizem que não gostam, mas fazem o penteado igualzinho. É inveja;, ataca Iara. A reação das crianças diante do cartaz do filme explica essa ;guerra pop;: inspira reações de amor e desdém. ;Ele está muito lindo. Quando mexe com o cabelo, então;;, suspira Taís, que caça informações sobre o ídolo na internet. ;Mas eu não sabia que o filme seria assim, sobre a vida dele. Achei ótimo. Descobri uma história que eu ainda não conhecia;, afirma.
Bilheteria
As piadinhas maldosas pipocam na fila do cinema. Mas silenciar esse disse-me-disse em torno de Justin é uma das principais intenções do lançamento, que já arrecadou US$ 64 milhões nos cinemas dos Estados Unidos e R$ 2 milhões no Brasil (na primeira semana, só ficou atrás de Bruna Surfistinha, que arrecadou R$ 4 milhões e levou 400 mil aos cinemas). ;Ele sofre muito preconceito. Nosso objetivo foi mostrar uma trajetória musical com honestidade;, explicou o diretor, em entrevista de divulgação. Na tela, os inimigos do cantor não têm vez. No lugar deles, ganha espaço a legião de tietes que lotam estádios, erguem cartazes coloridos e pedem a mão do rapaz (que namora a atriz Selena Gomez, 18 anos) em casamento. Numa das cenas favoritas das meninas, Justin escolhe fãs para subir ao palco ; e as presenteia com buquês.
;Ele tem muito apelo com as crianças. É pequeno, ;mignon;, muito bonito. Mas não sabíamos que ele era um músico tão competente;, elogia Juliana Brescianini, 36 anos. Acompanhada do marido, Eduardo, 39, ela levou a filha Giulia, 7, para uma sessão em 3D do filme, no Cinemark do Pier 21. Para a menina, as cenas preferidas foram as da infância de Justin. Os pais, que encararam o programa após uma campanha persistente da filha, prestaram atenção aos dotes musicais do rapazinho, que aparece tocando bateria, piano e violão. ;Ele é bom mesmo. Foi uma descoberta;, comenta Eduardo.
Sucesso na web
O filme destaca a trajetória de Justin, que atinge o ápice em um concerto no Madison Square Garden, em Nova York. Mas a narrativa abre um link curioso ao explicar a velocidade com que o cantor se transformou num nome poderoso do show business. Foram os vídeos amadores do YouTube que revelaram um menino até então escondido na cidade de Stratford, em Ontario. Tecnologia que, hoje, produz uma onda de candidatos ao trono de Bieber (veja quadro ao lado). Filhote da geração de reality shows como American idol, ele inspira meninos e meninas a usar câmeras digitais como iscas para grandes gravadoras.
Descoberto pelo produtor Scooter Braun e ;adotado; pelo cantor de R Usher, Justin é amparado por uma equipe de profissionais. ;É um filme sobre família;, interpreta Marcos André Machado Melo, 42 anos, pai do fã Arthur Joaquim, 6. ;Foi criada uma rede familiar para proteger esse talento. Isso é o mais importante;, observa. Para Marcos, o filme apresenta um ;Phil Collins adolescente;. Na opinião de Arthur, nenhuma surpresa. Sorridente, o menino só conseguia repetir a música mais pedida: Baby. Que, tal como os penteados de Bieber, ainda não dá indícios de que vá sair de moda.
JUSTIN BIEBER ; NEVER SAY NEVER
(EUA, 2011, documentário, 105min, classificação indicativa livre). De Jon Chu. Confira horários no Roteiro.