Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Lua Music lança a caixa Johnny Alf entre amigos, com três CDs

Bem antes de a batida do violão de João Gilberto encantar meio mundo em Chega de saudade, um piano ensaiava, sob a meia luz das boates de Copacabana, as notas que serviriam de base para a bossa nova. O escurinho, aliás, parecia lugar confortável para o tímido Johnny Alf, músico carioca que nos anos 1950 já encantava quem assistia a suas apresentações em lugares como a boate do Hotel Plaza, frequentada por, entre outros, Nara Leão, Tom Jobim, Roberto Menescal e; João Gilberto. ;Johnny representava o novo, o moderno, o ousado e o criativo em termos musicais;, afirma Bruno Pompeu no encarte de um dos CDs que compõem a caixa Johnny Alf entre amigos, recém-lançada pela Lua Music.

Produzida por Thiago Marques Luiz, a caixa resume em três CDs a obra do compositor, cantor e pianista, autor dos clássicos Eu a brisa e Ilusão à toa. Mais importante: mostra a quem não sabe que a produção de Johnny Alf vai muito além dessas canções e é dotada de tal qualidade que nem mesmo a excessiva timidez ; característica marcante no músico ; foi capaz de esconder. ;Não tivessem sido a persistência e o incentivo de alguns amigos e produtores, talvez Johnny, por iniciativa própria, nunca tivesse se achado capaz ou merecedor de gravar um disco;, conta Pompeu.

Mesmo assim, entre 1952 e 2001, Johnny Alf lançou 20 discos ; se incluídos compactos e 78rpm. Deles, foram pinçadas as faixas que são interpretadas por Leny Andrade, Toquinho, Emílio Santiago, Joyce, Wanderléa e Zé Renato, entre outros, em Johnny Alf por seus amigos, primeiro volume da caixa. O título não é mero enfeite. Todos os participantes tiveram, de alguma forma, relação pessoal com o compositor. Caso mais emblemático é o de Maricenne Costa, que recebeu de presente dele a inédita Quem te ama sou eu e guardou por mais de 20 anos, conseguindo gravá-la somente em 2006 e reinterpretando-a agora.

No segundo volume, 10 composições do músico são entregues à voz doce de Alaíde Costa, outra que compartilhou da amizade de Alf até março do ano passado, quando ele morreu, aos 81 anos. São canções que já faziam parte do repertório da cantora e entre elas uma inédita, Em tom de canção, resgatada especialmente para o disco, ao qual dá título: Alaíde canta Johnny em tom de canção. Encerrando a trilogia, a voz do criador aparece interpretando canções próprias e de outros compositores em Johnny Alf ao vivo e à vontade com seus convidados, reunião de performances solo e duetos gravados em diferentes ocasiões, colhidas do acervo de Nelson Valencia, amigo de Johnny Alf por 20 anos e grande apoiador do artista nos últimos anos de sua vida. A qualidade de gravação deixa a desejar, mas são registros de momentos raros, como os encontros de Johnny Alf com Cida Moreira (A noite do meu bem) e Cauby Peixoto (Ilusão à toa e Gesto final).