O humorista, atualmente dono de um dos programas mais respeitados da grade aberta, Programa do Jô, incorporava personas escrachadas, em esquetes trabalhados com grande elenco de apoio e participações de convidados ; entre eles, Chico Anysio. Atrizes como Cláudia Jimenez, Cláudia Raia e Louise Cardoso, então coadjuvantes quase anônimas, comandavam picardias ao lado de Jô. Entre os tipos encarnados pelo ator, sujeitos genuinamente brasileiros e outros com um quê de comentário social: Zé, operário que ficava estarrecido com as notícias dos jornais; Bô Francineide, atriz de pornochanchada; Venturoso, mensageiro do rei D. Manoel que enviava novidades do Brasil; e o Capitão Gay. A lista é longa. A cada ano, novos papéis eram incluídos no roteiro.
Gerente de desenvolvimento de novos negócios do Viva, Fernando Schiavo acredita que a volta da comédia alimenta a nostalgia de espectadores que viram a série nos anos 1980. ;É característica do canal resgatar a memória afetiva de quem já teve a oportunidade de acompanhar no passado. E também revelar para quem nunca viu a qualidade de tantos produtos da televisão brasileira;, explica.
Jô, de férias no exterior, ainda não se pronunciou sobre a reestreia. ;O Programa do Jô ainda está de férias, ele não falou oficialmente. Nós comemoraremos muito a chegada do Jô Soares ao Viva. Ele está à frente de um programa que marcou a história do humor na tevê brasileira. É um privilégio tê-lo na nossa grade. Ao lado de TV pirata, Sai de baixo, Escolinha do professor Raimundo e Chico total, entre outros, reforçamos nossa faixa de humor com Viva o gordo;, celebra Schiavo.
Memória afetiva
Carina Azevedo não vê a hora de dar boas risadas com o Capitão Gay, um de seus personagens favoritos. ;Eu amava quando ele fazia ginástica;, conta. Hoje com 35 anos, ela assistia aos esquetes escondida do pai, Damião Alves. ;Sempre fui muito fã do Jô, desde nova. E passava tarde. Então, meu pai geralmente não queria que eu assistisse. Tinha piada que não era pra minha idade. Mas eu fingia que ia dormir, ligava a tevê e via. Ria muito com os quadros. Poder ver de novo é fantástico. Não quero perder;, recorda a profissional de marketing.
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O filho único Rodrigo, 15 anos, também deve ser presença constante nas noites de segunda. ;Quero que o meu filho veja. Acho que ele vai rir mais de mim do que do programa. Isso sempre acontece quando a gente vê algumas coisas no YouTube. Eu gosto muito do Jô. Já vi peças e tive oportunidade de fazer dois trabalhos de marketing para ele. Mas me comportei direitinho, não fiquei tietando!”, brinca.
Adriano Siri, da companhia de teatro Os Melhores do Mundo, elogia a criatividade dos esquetes. ;Lembro do programa. Devia ter mais ou menos 14 anos. Jô é uma referência como humorista, como programa de quadros. Não é explícita na companhia: especialmente naquela época, a gente tinha pouca informação do que vinha de fora. Tudo de humor era absorvido. Acho ele talentoso, e o programa era, de fato, divertido. Os personagens são muito bons. O Capitão Gay era um dos mais engraçados;, destaca.
O piauiense Carlos Anchieta, do espetáculo Ou vai ou raxa, diz que Jô é um exemplo para novos humoristas e grupos de comédia. ;A televisão precisa de programas nesse estilo, mesmo sendo num canal fechado. Hoje, o humor precisa de referência. Vai ajudar os novos comediantes, quem não teve oportunidade de ver. Pela interpretação, pela forma inteligente como ele criava cada personagem, acabou influenciando muita gente;, avalia.