As luzes se acendem e começa o frisson da plateia. A barra de metal, que brilha sozinha no palco, ganha uma companhia reluzente. Coberta por um vestido branco, que faz lembrar um copo de martini, e vestindo um chapéu em forma de rodela de limão, a bielorrussa Alesia Vazmistel invade o palco, sorridente e glamourosa, como uma pin up à moda antiga. Depois de livrar-se da ;taça;, ela adere a pele ao mastro e começa uma sequência de movimentos impossíveis aos reles mortais. O corpo se mantém na horizontal, sustentado apenas pela força dos braços. Ao rodopiar de ponta-cabeça, fica presa por um dos joelhos. No momento mais impactante, faz uma abertura completa na barra, suspensa apenas pela força dos tornozelos. Em poucos minutos, desfia um repertório de movimentos que desafiam ginastas, pontuados por sua dança sinuosa.
Alesia é referência internacional em pole dance, modalidade cada vez mais badalada mundo afora, e foi a grande estrela do Cabaret nostalgique, o cabaré old school exibido no sábado, no Teatro Garagem, como parte do Festival Novadança. Ela ganhou o Miss Pole Dance do Reino Unido, em 2008, e sagrou-se vice-campeã mundial duas vezes seguidas. No ano passado, alcançou o estrelato ao participar do programa de TV Britain;s got talent, que, em 2009, revelou ao mundo a cantora Susan Boyle. Chegou à semifinal, diante dos olhos estupefatos da plateia. ;Você executou movimentos que só vi minha filha de 4 anos de idade fazer com sua boneca Barbie;, admirou-se Amanda Holden, jurada do programa.
A artista se empenha para imprimir glamour e elegância à modalidade, associada a casas de stripease e a uma sedução meramente sexual. ;O mastro é só o apoio que uso na minha dança. Uso meu corpo para mostrar sentimentos e emoções. Toda coreografia tem que contar uma história, como uma música sem palavras;, alerta a performer, que também costura os próprios figurinos e já ganhou premiação máxima nessa categoria, em um campeonato mundial.
Treinamento continuado
Aos 4 anos de idade, na fria e distante Minsk, capital da Bielorrúsia, Alesia começou a trajetória de educação corporal, que incluiu aulas de balé clássico, ginástica artística e circo. Depois de entrar para a universidade, onde estudou economia, ela usou o conhecimento para pagar as mensalidades. Após um ano integrando o elenco de um espetáculo que explorava os dotes de canto, dança, atuação e acrobacias, decidiu montar a própria companhia, que durou até o fim do período universitário. Já formada, foi visitar uma amiga na Suíça, conheceu o marido, um finlandês que atua no mercado financeiro, e mudou-se com ele para Londres. Na capital inglesa, encontrou o ambiente ideal para participar de competições e imprimir o próprio estilo de dança no mastro, desenvolvido em uma barra instalada em um parquinho para crianças, parto de sua antiga casa.
Hoje, ela se divide entre um vilarejo suíço cercado de lagos e bosques, onde vive com o marido e a filha de 6 anos, e viagens pelo mundo. A bailarina/performer é constantemente convidada a ensinar os movimentos que contestam a lei da gravidade e levam o corpo ao limite. Nos intervalos de tanta atividade, ela desenvolve novas coreografias, que aprende nos sonhos. Quando novas posições surgem, Alesia acorda, anota tudo em um caderninho e coloca em prática no dia seguinte. Alguns movimentos são impossíveis de reproduzir, mas ela tenta fazer algo parecido. ;Eu tento ser mais sexual do que atlética nas minhas performances. A pose revela muito do que você quer demonstrar. Quando alguém vê uma mulher bonita, é como estar diante de um diamante: você quer tocar, mas pode danificá-lo. É algo especial, você quer pôr as mãos, mas é perigoso. Essa é a imagem que tento criar;, descreve.