São Paulo, início dos anos 1950. A chegada da tevê ao país, os bailes embalados pela clássica Fascinação e os shows de calouros são o cenário que Zélia Gattai usa para contar a história de Geane, no livro Crônica de uma namorada. Antes de completar 15 anos, a menina perde a mãe e é obrigada a viver sob a tutela do pai e da madrasta, na companhia do simpático avô italiano, da irmã de criação Ricardina e do primeiro amor, Beto.
Dividido entre os capítulos Menina, Mocinha e Namorada, o romance reeditado pela editora Companhia das Letras mostra como Geane passa por todas as fases e aprende, sem a ajuda de ninguém, a ser mulher. Sem pudor ou clichês, Gattai descreve como a menina descobre a sexualidade, a literatura ;proibida;, se ilude com um grande amor e sabe a hora de procurar (e encontrar) outro.
A fase de amadurecimento da personagem, tão cheia de descobertas, não passa por análises psicológicas e, ainda que com justificáveis digressões, tem narrativa linear. Deve ser por isso que a autora se limita apenas a contar a história despretensiosamente, sob a perspectiva de Geane, com imersões nos sonhos e nos pensamentos da garota. A análise fica por conta do leitor. É por esse motivo também que as 270 páginas podem ser facilmente devoradas, por meninas, em dois ou três dias.
Os personagens ficcionais ali apresentados, no entanto, não são os únicos presentes na obra. A autora também convida para a narrativa Eliseth Cardoso, Carmen Miranda, Hebe Camargo e o próprio Jorge Amado, que frequentava com ;uma moça desconhecida; os shows da personagem Ricardina em um fino restaurante.
Já na primeira página, a de dedicatórias, Zélia Gattai escreve: ;Para Jorge, na festa dos 50 anos de nosso amor;. O escritor Jorge Amado, com quem ela foi casada por 56 anos, também aparece quando Geane descobre a literatura e fala como ele sabia falar de sexo despudoradamente.
Lançado originalmente em 1995, o único romance de Zélia Gattai tem um quê de memória, gênero pelo qual ficou conhecida ao iniciar a carreira de escritora, aos 63 anos. As pinceladas autobiográficas mostradas na infância paulista e na influência italiana estão nas origens da escritora que ocupou a cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras. São, ao todo, 11 livros do gênero e mais três infanto-juvenis. Crônica de uma namorada é um dos dez publicados pela editora, que, desde 2009, capricha nas edições, com capas desenhadas por Rita da Costa Aguiar.
Crônica de uma namorada
De Zélia Gattai
Ed. Companhia das Letras
270 páginas
R$ 44