Jazz é pura espontaneidade. O álbum clássico Kind of blue, de Miles Davis, foi gravado assim: em 1959, sete músicos entraram num estúdio de Nova York e, em duas sessões, gravaram registros definitivos, em apenas um take. É um álbum único, o mais vendido e o mais importante da história do jazz. Nas noites de Brasília, cidade que abraçou o choro e que já foi casa do rock nacional, também é possível ouvir acordes livres e improvisados.
No Café Senhoritas (408), as sextas-feiras encerram a jornada de trabalho e abrem o fim de semana em tom contemplativo: iluminação baixa, suave, de cores quentes, ambientada por jam sessions ininterruptas. A roda de jazz da casa (couvert a R$ 8), propriedade de Renato Fino e Semíramis de Medeiros, existe há três anos. Quando a banda para de tocar, as mesas também parecem silenciar, e ouvem-se o tilintar distante uma taça, o choque entre dois talheres, e um burburinho ansioso pela próxima música. É nessa atmosfera tranquila que Gilberto Mendes aproveita para se divertir com a esposa, Rosana de Oliveira, e o pequeno Pedro, de 1 ano e 4 meses. ;Tomei conhecimento daqui casualmente, enquanto fazia caminhada. A musicalidade tranquiliza, é um ambiente gostoso, e um bom momento para a família;, diz o funcionário público, 51 anos.
O casal é de São José do Rio Preto, interior paulista, e pretende tornar a visita ao Senhoritas às sextas um programa habitual. ;Acho um atrativo excelente, calmo e aconchegante. Queremos vir mais vezes, principalmente por causa do Pedro, que adorou;, conta Rosana, 38 anos. Gilberto não se considera um especialista no assunto, mas revela que sempre apreciou jazz, desde jovem. ;Gosto muito de ouvir. Não tenho muito conhecimento, por exemplo, da tradição de Nova Orleans;, completa.
Ele ficou especialmente atraído pelo som do violino do norte-americano Ted Falcon, que tocou na última sexta na companhia de Pedro Martins (guitarra), Eduardo Belo (contrabaixo acústico), Rafael dos Santos (bateria). ;Saxofone me atrai bastante. Mas achei o violino encantador;, comenta. Pedro, hipnotizado pelo ritmo envolvente, acompanhou a sessão instrumental praticamente o tempo inteiro em pé, sem piscar os olhos.
Público rotativo
No shopping Pier 21, as terças-feiras são de jazz. O espaço reservado aos músicos fica próximo à praça de alimentação, rodeado por cafés e lanchonetes. O público é rotativo: pessoas que vão às compras, ao cinema ou aos restaurantes. Mas o jovem casal de namorados Diego Bueno, 23, e Francys Ovelar, 25, veio para ouvir música, e se sentou de frente para o palco, onde estavam Hudson Borges (voz) e Felipe Vieira (piano).
Diego ficou sabendo do som ao vivo pela internet e diz que a visita valeu a pena. ;Gosto muito de jazz por causa dos meus pais. Eles sempre ouviram muito, especialmente jazz e música clássica;, conta o vendedor, graduado em turismo. As vozes inconfundíveis de Ray Charles e Louis Armstrong estão na preferência dos dois, juntos há sete meses. ;O Ray é o favorito. A voz, o estilo, tudo é inovador, e muita gente hoje o imita;, explica.
Francys considera o ambiente perfeito para namorar e curtir tranquilamente a noite. ;Não tenho muito costume de ouvir em casa. Quase não paro em casa. Ouço mais nos lugares que frequento. O jazz deixa uma sensação de plenitude, traz paz, romantismo, bem-estar. A gente esquece os problemas. Gosto das músicas melancólicas;, expressa a estudante de administração. Diego prefere as baladas menos meditativas. ;As letras são melancólicas. Mas gosto mais das animadas e alegres. O Ray tem muito disso;, enfatiza. Aninhado entre centro de compras e salas de cinema, o jazz garante momentos delicados e contemplativos.
ONDE IR
Marabeau Jazz Restaurante
(216 Norte, Bl. C, Lj. 22; 8422-0158 e 9200-5846). Terça a sábado, às 21h. Couvert: R$ 20.
Pier 21 Shopping
(SCES, Tc. 2; 3251-2121). Terças, às 19h. Entrada Franca.
Schlob
(309 Norte, Bl. B; 3033-1766). Checar programação. Geralmente, terças, às 21h. Couvert: R$ 6.
Brasília Jazz Club
(SCES, Tc. 4; 3225-2861, 9290-8730 e 9662-4114). Negocia programação com patrocinadores e deve começar a funcionar a partir de março.
Café Senhoritas
(408 Norte, Bl. E; 3340-2696). Sextas, às 20h. Couvert: R$ 8.
Carpe Diem
(104 Sul, Bl. D; 3325-5301). Sábados (19 e 26/2), às 21h. Projeto Taste of Jazz. Entrada Franca.
Churchill Jazz Club
(SHS, Qd., Cj. A, Bl. D, térreo do Hotel Meliá Brasília; 3218-5555). Checar programação. Geralmente, às 21h e 22h. Couvert: R$ 10 (homem) e R$ 5 (mulher).
Genaro Jazz Bar Café
(114 Norte, Bl. A; 3273-1525). Checar programação.
Na próxima sexta-feira, confira o roteiro da axé music, última reportagem da série