Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Grupo pernambucano Seu Chico levanta o público numa épica apresentação

Acostumados a cair no samba nas rodas dos fins de semana no Bar do Calaf, onde os grupos tocam clássicos de mestres do gênero, os frequentadores da casa viveram uma noite no mínimo diferente, no domingo. As mais de 500 pessoas presentes tomaram parte de uma festa em que se ouviu unicamente criações de Chico Buarque de Holanda. Quem propiciou esse belo momento foi a banda pernambucana Seu Chico, que há três anos reverencia o compositor com um elogiado projeto.

Formada por jovens músicos ; na faixa etária dos 19 aos 31 anos ; a Seu Chico é nada cerimoniosa em relação ao homenageado. Eles não chegam a desconstruir a obra do autor de A banda, mas em suas releituras, trechos de canções buarqueanas por vezes soam como maracatu, ciranda ou rock ; com a liberdade do jazz ;, sem que, no entanto, percam a essência e a qualidade.

Na verdade, com suas versões Tibério Azul (vocal), Vitor Araújo (teclado), Rodrigo Samico (violão sete cordas), Bruno Cupim, Negro Grilo e Amendoim (percussão) aproximam o universo musical de Chico às novas gerações, principalmente daquelas pessoas distanciadas do que há de melhor na MPB. Uma das ferramentas utilizadas para isso é a percussão diferenciada, que faz até a valsinha João e Maria, ser algo dançante.

O show no Calaf serviu de suporte para a Seu Chico apresentar ao brasiliense os recém-lançados CD e DVD Tem mais samba. Na abertura, Tibério soltou a voz em Partido alto, e emendou com Apesar de você (o quase samba-enredo com o qual Chico Buaque, em 1979, fustigou a ditadura militar). Aí o clima de festa se instaurou de vez e ficou assim até o encerramento.

Canções consagradas, como O que será, Roda viva, Não existe pecado ao sul do Equador e Tanto mar, estavam lado a lado no roteiro às chamadas de ;Lado B;: A volta do malandro, Brejo da cruz e Pelas tabelas. Mesmo as menos conhecidas foram assimiladas de imediato pela plateia que curtia tudo e cantava junto ; principalmente os refrões.

Tibério Azul, um trintão com jeito de adolescente, encantou as meninas, tanto cantando, como se dirigindo ao público para fazer algum comentário, ou convidá-lo a fazer coro com ele em alguma música. Foi assim no samba-clássico Quem te viu, quem te vê, antecedido por solo desconcertante do virtuoso e teatral pianista Vitor Araújo, de 20 anos.

Ele está se desligando do grupo para dar início à carreira solo. Recentemente, apresentou o show Paixão e fúria em São Paulo (onde está radicado), arrebatando os espectadores e a crítica. Piano teatro, seu próximo projeto, servirá de plataforma para o filme que dirigido pelo cineasta pernambucano Lírio Ferreira (Cartola ; Música para os olhos).

Sob ovação dos novos fãs conquistados, Vitor, Tibério e seus companheiros deixaram o palco para voltar em seguida no bis embalado por Jorge Maravilha (Você não gosta de mim, mas sua filha gosta), que Chico fez sob o pseudônimo de Julinho da Adelaide, na época da censura. Depois do show, muita gente levou para casa CDs e DVDs devidamente autografados pela turma.


Eu fui...

;A forma livre como esses meninos fazem releitura da obra de Chico merece todos os aplausos. E o sotaque pernambucano de Tibério Azul é um charme a mais;
Thais Cavalcante, empresária

;Não conhecia o trabalho da banda, mas fiquei impressionado como que eles propõem ao recriar as músicas do Chico Buarque. O show foi maravilhoso, mas podia ser mais longo;
Daniel Almeida, servidor público.