O ano será de compositores brasileiros, artistas locais e foco na ação social para a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro. Nomeado regente titular no início de fevereiro, o violinista Claudio Cohen quer ampliar a função social da sinfônica. Pela segunda vez na história da formação, um regente foi escolhido por votação dos músicos em vez de ser indicado por alguém de fora. Cohen assumiu a batuta depois de receber maioria dos votos em uma eleição à qual concorreram 10 candidatos, incluindo nomes como Roberto Tibiriçá, Oswaldo Ferreira, Marcelo Ramos e Emílio de César. Silvio Barbato, que regeu a orquestra entre 1999 e 2006, também foi escolhido por voto dos músicos. ;Abrimos essa possibilidade porque a orquestra ficou muito desgastada com os últimos episódios;, explica Marconi Scarinci, diretor executivo da sinfônica.
O maestro anterior, Ira Levin, foi envolvido em denúncias de desvio de dinheiro em 2010. Genro da ex-deputada Eurides Brito, acusada de captar dinheiro destinado à orquestra e proveniente de emendas parlamentares, o maestro norte-americano foi substituído pela maestrina cubana Elena Herrera em setembro do ano passado. Cohen faz parte da orquestra há 33 anos e defende que a escolha reflete a vontade dos músicos de colocar no cargo alguém que conheça profundamente as dificuldades do grupo. ;Não é fruto de uma decisão nova. É fruto de uma experiência minha.;
O maestro elaborou um projeto focado em quatro propostas básicas na linha das ações educativas, das sociais e da relevância local para atender aos anseios dos músicos de projetar a orquestra nacional e internacionalmente sem deixar de contemplar a cena artística brasiliense. Durante o período de pré-temporada ; que vai até o início de março ;, Cohen vai privilegiar o aspecto social com concertos destinados às comunidades excluídas do Distrito Federal. ;Antes, durante a pré-temporada, os músicos ficavam trabalhando em detalhes, enchendo linguiça. Sendo um órgão público, a orquestra tem que atender à demanda da sociedade;, explica o maestro, que já fez acordos com ONGs como a Cufa (Central Única das Favelas) e projetos como a Mala do Livro para organizar as apresentações.
Fácil digestão
Cohen selecionou obras mais populares para o repertório da pré-temporada, como trechos conhecidos de peças como a Sinfonia n; 5, de Beethoven, e o Danúbio azul, de Johann Strauss. ;Se eu submeter obras inteiras, vou ter dificuldade de manter a concentração do público;, acredita o maestro, que quer facilitar o acesso à música erudita para a população do Entorno. Nas temporadas organizadas pelo então regente Ira Levin, a proposta seguia em direção contrária, com peças nunca executadas pela orquestra como maneira de educar e formar o público. Durante os três anos do norte-americano à frente da orquestra, o repertório incluiu obras inéditas em Brasília, estreias mundiais e uma qualidade de execução excepcional que projetou o nome da sinfônica como uma das 10 melhores do país.
A partir de março, Brasília será a homenageada do programa. O primeiro concerto, marcado para 22 de março, apresenta ao público Brasília episódio sinfônico, de Fernando Morais, trompista da orquestra, e Sinfonia Brasília, de José Guerra Vicente, além de quatro canções de Richard Strauss interpretadas pela cantora lírica Denise Tavares. Ao longo do ano, outros solistas da cidade, como o pianista Ney Salgado, integram a pauta. ;Nossos artistas ficaram muitos anos excluídos do palco e quero tê-los de volta;, avisa Cohen. ;Nessa área operística, muitos cantores foram embora. Quero criar um mercado aqui. Temos artistas de alta capacidade que não têm onde se apresentar.; Ainda em março, o público poderá conhecer obras como Concerto para piano, Impressões de uma usina de aço e Sinfonia Brasília, de Claudio Santoro; O massapé vivo, de Jorge Antunes; Sinfonia do Planalto, de Marcus Cohen, clarinetista da orquestra; e a Sinfonia Monumental, de Hamilton de Holanda.
O maestro pretende ainda criar um festival de ópera no mês de junho para turbinar o turismo na cidade. No programa, Cavaleria rusticana (Mascagni), Il Pagliaci (Ruggero Leoncavallo) e Réquiem (Mozart). ;Procurei títulos de menor dificuldade operacional. São obras curtas, de uma hora, e um só tipo de cenário;, diz Cohen. No encerramento, a cantora norte-americana Aprile Millo, figura frequente nos programas do La Scala (Milão) e do Metropolitan Opera (Nova York), fará homenagem a Giacomo Puccini.