Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Pesquisadores colocarão toda a obra de Chiquinha Gonzaga em um site

Wandrei Braga é rigoroso. Para ele, da extensa obra de Chiquinha Gonzaga, algo em torno de 2 mil composições, o grande público só conhece quatro: a valsa Lua branca, a marcha rancho Abre alas, a polca Atraente e o tango brasileiro Corta jaca, depois transformado em choro. A preferida do pesquisador e pianista, porém, é a nada notória Balada romântica, que faz parte do repertório da opereta A corte na roça.

A musicista e pianeira, considerada um dos pilares da identidade musical brasileira, possibilitou a Wandrei, designer paulista residente em Brasília há 11 anos, e a Alexandre Dias, professor de piano brasiliense, serem selecionados no edital nacional 2010 do programa Natura Musical, na categoria fomento à musica, entre mais de 800 inscritos. Eles concorreram com o Acervo Digital Chiquinha Gonzaga, que vai disponibilizar em um site músicas e partituras pouco conhecidas da primeira maestrina brasileira.

"Diferentemente de sua história biográfica - apresentada em livro escrito por Edinha Diniz e contada na minissérie escrita por Lauro César Muniz e Marcílio Moraes -, mais de 95% da obra de Chiquinha Gonzaga ainda se encontram desconhecidos e inacessíveis, deixando uma lacuna misteriosa nesta parte da história sobre o nascimento da identidade musical brasileira", afirma Wandrei.

Fã de Chiquinha, o pesquisador buscou aprofundar seu conhecimento sobre a artista em 1999, ao ter a atenção despertada pela exibição da minissérie da TV Globo. "Até então, eu conhecia muito pouco sobre Chiquinha. Imediatamente pensei em criar um site, no qual pudesse, a partir de pesquisa, informar às pessoas sobre a importância dela para a música brasileira", conta.

Nessa tarefa, Wandrei teve o apoio de Alexandre Dias, a quem conheceu num recital da pianista Maria Teresa Madeira, no Clube do Choro de Brasília. "O site ChiquinhaGonzaga.com faz parte dessa história. Há mais de 11 anos no ar, divulga informações sobre a maestrina e coleciona admiradores e parceiros pelo Brasil e pelo mundo", comemora.

Inspiração
A ideia do acervo tem menos tempo. Em 2009, a pianista pioneira Neusa França, encantada com o repertório pouco conhecido da compositora, organizou na Embaixada de Portugal um recital chamado Saudades de Chiquinha Gonzaga, com a participação de 20 pianistas, entre eles Wandrei e Alexandre. De certa forma, esse recital foi fonte de inspiração para que os parceiros dessem início à concretização de um sonho: a elaboração e a articulação de um projeto para recuperar a obra de Chiquinha.

Consequência dessa história, o Acervo Digital Chiquinha Gonzaga foi aprovado pelo Natura Musical 2010, entre 860 projetos apresentados. "Para essa conquista, tiveram importância fundamental a parceria do Instituto Moreira Salles (mantenedor do acervo de Chiquinha Gonzaga), a biógrafa Edinha Diniz, o portal Musica Brasilis (realizador de projeto semelhante com a obra de Ernesto Nazareth) e a Escola Portátil de Música (especializada no ensino de choro)", ressalta Wandrei.

Além de Wandrei Braga (coordenador, pesquisador, designer) e Alexandre Dias (coordenador, pesquisador e revisor), fazem parte da equipe responsável pelo projeto do acervo, a gerente Ana Carolina Pereira (Integrar Produções Culturais e Eventos), a designer Cíntia Coelho e o músico especialista em digitação musical Douglas Passoni. O lançamento está previsto para outubro, com a apresentação de recitais de piano em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília e oficinas musicais na Escola Portátil, no Rio, dedicadas à obra da homenageada, sob a coordenação dos músicos Maurício Carrilho e Luciana Rabello, diretores da entidade.

Três perguntas - Wandrei Braga

A minissérie exibida na tevê foi fiel à história de Chiquinha Gonzaga?
O que os autores da minissérie fizeram não foi um documentário e sim uma história romanceada. De qualquer forma, ela foi importante para a popularização do legado da maestrina.

Qual é a avaliação que você faz da biografia de Chiquinha, escrita por Edinha Diniz?
É um documento histórico valioso, pois além de contar a história de Chiquinha, contextualiza, com riqueza de detalhes, a época em que ela viveu.

Há algo a destacar no projeto do acervo?
Posso citar a história de um broche que Chiquinha aparece usando em fotos. Esse broche, que ganhou de amigos, se perdeu, mas com Edinha (Diniz), saí à procura do enfeite e o descobrimos. Ele havia sido vendido pela filha da folclorista Marisa Lira, primeira biógrafa da maestrina, ao Museu da República (antigo Palácio do Catete), no Rio de Janeiro.