Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Pés de valsa rodopiam pelas pistas na dança de salão todos os dias

O Correio acompanhou, por três noites, os passos de fãs de ritmos como bolero, tango, chá-chá-chá, salsa, zouk e samba de gafieira

Foi-se o tempo em que passos de bolero, chá-chá-chá e tango faziam parte do repertório gestual dos mais antigos. Com uma nova geração de pés de valsa caindo no samba de gafieira, no rock soltinho e no zouk, as escolas de dança de salão e os bailes e festas especializados nesses ritmos proliferam por Brasília. Sinal de que a maré está pra peixe. ;Hoje, famílias inteiras dançam juntas. Tenho alunos com idades que variam de 11 a 80 anos;, revela Alessandra Macedo, proprietária de uma escola de dança na Asa Norte. A frequência neste começo de ano também a surpreendeu. ;Como é um período cheio de contas para pagar, as pessoas costumam esperar um pouco para se matricular. Mas a escola já está mais cheia do que nos anos anteriores;, conta.

E quem não quiser ficar restrito aos encontros semanais com instrutores pode cair na noite da cidade e dançar sem trégua, de segunda a segunda. É o caso do ator Waldomiro Alves, 22 anos, que pratica diariamente os passos da dança de salão e é instrutor de uma das principais escolas da cidade. Seu roteiro cansa só de ouvir: em sete dias, ele frequenta casas como o Barcelona, que oferece salsa e zouk às terças, passa pelo samba do Poizé, às quartas-feiras, se aventura pelo forró do Arena na quinta-feira e às vezes estica o programa até sexta-feira, com o forró do Ispilicute, no clube Cota Mil Iate Clube. Nos fins de semana, ainda tem fôlego para bailar nos eventos organizados pelas escolas de dança, raras ocasiões em que é possível praticar tango e bolero. ;Recentemente, reuni amigos que dançam samba e zouk para montarmos um grupo de competição. Nossa ideia é fazer algo diferente, mais acrobático;, relata.

Alheios à movimentação dos dançarinos ao redor, o casal de estudantes Bruno Ribeiro, 28 anos, e Juliana Possebon, 21, costuma dar show nos passos de salsa e zouk. Ele dá aulas em academias da cidade e ela, apesar de amadora, acumula vasto interesse pelos mais variados ritmos. ;Já fiz aulas de samba de gafieira, zouk, bolero, soltinho e forró;, conta. O entrosamento na pista tem razão de ser: ;Nos conhecemos em um baile de academia. A parceria fica melhor quando os dois curtem a mesma coisa;, acredita Bruno Ribeiro. Quando quer dançar, Juliana segue direto para casas como Caribeño e Cota Mil, enquanto seu par diz preferir os eventos produzidos pelas escolas de dança.

Gafieira
Quem mais aproveita a profusão de opções são os adeptos do samba de gafieira. Para eles, a farra começa logo na segunda-feira, em uma gafieira realizada pelo restaurante Feitiço Mineiro. A banda que desfia clássicos do cancioneiro brasileiro, com direito a naipe de metais, é surpreendentemente nova para o repertório. E a plateia também não fica atrás. Uma mesa de habituées é composta por estudantes que não passam de 30 anos de idade. ;Acho que somos os mais novos daqui. E sempre acabamos na pista de dança;, conta a médica Ana Luísa Ortega, 25 anos. Na hora do dois pra lá, dois pra cá, ela elegeu o amigo Roberto Tramontina, 21 anos. ;Um amigo nosso é integrante da banda e começamos a vir por causa dele. Mas continuamos frequentando e já chegamos a vir para a gafieira por um mês seguido. O som é muito bom;, destaca o estudante de engenharia florestal, que não frequentou escolas de dança para aprender os movimentos.

Além dos que estão ensaiando a estreia no universo da gafieira, a proliferação do ritmo vem fazendo muitos frequentadores redescobrirem o prazer de dançar juntinho. É o caso da aposentada Adélia Tavares, 64 anos. A carioca deixou para trás o hábito de frequentar os tradicionais bailes da Estudantina, no centro da capital fluminense, quando se mudou para Brasília, há mais de duas décadas. ;Agora, a tradição está ganhando força por aqui. Meu marido não gosta muito de dançar, mas é facinho de convencer;, brinca, enquanto arrasta o parceiro, Valdemiro Schneider, para a pista.

Há quem prefira os bailes repaginados, mas não são poucos os que gostam das noites dançantes à moda antiga. Há mais de 10 anos, o casal Demócrito e Léa Parra, 65 e 63 anos, vai às serestas comandadas pelo cantor Roberto Baez no antigo Ascade. ;Essa noite nos lembra os bailes de antes, com chão de taco preparado, mesas sempre enfeitadas, toalhas bonitas;, descreve. Anterior ao tempo das academias de dança, a dupla, casada há 35 anos, aprendeu os movimentos em casa, com os parentes, e com a convivência, desenvolveu um estilo próprio de dança, que resiste à técnica dos professores. ;Nesta noite, vejo alguns casais mais novos do que a gente. Não são muitos, mas tem gente de todas as idades que gosta de dançar cheek to cheek (cara a cara);, diverte-se

Nas escolas
Se a agenda de eventos oferecidas pelas casas da cidade não for suficiente para cansar os pés mais afoitos, ainda é possível se esbaldar nos bailes das escolas de dança. Segundo o professor Marcelo Amorim, a programação é feita em comum acordo, para que alunos de todas as instituições possam fazer o tour de festas, sem perder nenhuma. ;Uma mudança que venho notando é que os ritmos que eram estigmatizados como antigos, como tango e bolero, ganham adeptos cada vez mais novos. E a salsa e o zouk, que são relativamente novos, ganham adeptos mais velhos. Essa mistura está derrubando os estigmas;, constata o professor, que adotou a estratégia de levar os alunos para baladas da cidade, e não só eventos para pés de valsa, com o intuito de divulgar os passos.

A empolgação é tanta que, mesmo quem vive soltando a voz na noite da cidade, acaba escolhendo arrastar as sandálias pelos salões de baile quando tem um tempinho para sair. É o caso da cantora Renata Jambeiro. Depois de se revezar em vários eventos, ela ainda encontra tempo para uma comemoração em família em uma festa de gafieira. ;É bom para prestigiar os amigos e me manter a par do que está acontecendo na cidade;, explica. Bailarina de múltiplas habilidades e larga experiência, ela só vê benefícios na prática. ;A dança é coletiva, permite tocar o outro, negociar, ceder. Propicia um encontro social muito forte. Quem dança junto faz parte de uma comunidade.;

Segunda-feira
; Gafieira em Concerto (samba de gafieira) ; Feitiço Mineiro (306 Norte). Couvert artístico: R$ 15

Terça-feira

; Adora-Roda (samba) ; Calaf (Edifício Empire Center, Setor Bancário Sul ). Entrada: R$ 10. ; Noite de salsa e zouk ; Barcelona (206 Sul). Entrada franca. ; Cassimiro Bar e Restaurante (302 Norte) ; De segunda a sábado, uma banda toca ritmos dançantes, que passam pelo bolero, pelo xote e pelo sertanejo. Entrada: R$ 12 (de segunda a quarta) e R$ 15 (de quinta a sábado).

Quarta-feira

; Samba do Poizé (305 Norte) ; De terça a sexta, a casa apresenta uma variedade de ritmos, como samba, forró e sertanejo. Entrada: R$ 20 (homem) e R$ 10 (mulher), a partir das 20h. Na filial de Águas Claras (Av. Castanheiras, 1.060), a entrada custa R$ 15 (homem) e R$ 5 (mulher).

Quinta-feira

; Forró do Arena ; Arena Futebol Clube (SCES Trecho 3, Lote 1). Entrada: R$ 15 (homem) e R$ 10 (mulher).

Sexta-feira

; Forró Ispilicute (Cota Mil Iate Clube, SCES Trecho 2, Lotes 26/27). Entrada: até 22h, R$ 15; após esse horário, R$ 20. ; Clube dos Previdenciários (SEPS 712/912, Conjunto D) ; Bandas se revezam para executar vários ritmos dançantes. Entrada: R$ 25 (não sócio) e R$ 12,50 (sócio, estudante, acima de 60 anos e professor).

Sábado
; Seresta-baile ; Espaço Musical RB (609/610 Sul, antigo Ascade). A banda de Roberto Baez faz um pout-pourri de clássicos de todos os ritmos de baile. Entrada: R$ 25. Associados da Ascade, Asa CD e Sindilegis pagam meia.

Domingo
; Domingueira dançante ; Espaço Musical RB (609/610 Sul, antigo Ascade). Com a banda de Roberto Baez. Entrada: R$ 20. Associados da Ascade, Asa CD e Sindilegis pagam meia.

Obs: Todos os locais não são recomendados para menores de 18 anos.

; Caribeño repaginado
; Clássico da cidade quando os ritmos latinos entram na pauta, o Caribeño (Setor de Clubes Sul, Trecho 1, Lotes 1/4) reabre suas portas hoje, totalmente repaginado. A casa foi redesenhada para receber shows de música e dança, exposições, lançamentos de livros, workshops e festivais gastronômicos, em uma proposta desenhada pelo arquiteto Roberto Carril. Apesar das novidades, a programação será mantida. Hoje, as caixas de som serão dominadas pelos ritmos latinos. Amanhã é a vez da salsa, e domingo, do forró. Os ingressos custam R$ 30 para homens e R$ 20 para mulheres. Mais informações no site .