Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Revelação em 2010, cantora Tulipa Ruiz apresenta-se no projeto Sai da rede

Há seis anos, ela nem cantava. Hoje, a mineira-paulistana Tulipa Ruiz, de 31 anos, é dona de um dos shows mais concorridos da nova geração da MPB. A prova é que a primeira apresentação da cantora em Brasília, marcada para as 21h de hoje, no Centro Cultural Banco do Brasil, pelo projeto Sai da rede, dedicado a artistas lançados pela internet, ganhou sessão extra, às 19h. Culpa da enorme procura por ingressos.

Tulipa é o nome da flor de uma geração que abraçou o pop como sonoridade e atitude. No caso dela, o pop é florestal. ;Tratar o meu som como ;pop florestal; é não rotular. É pop porque é a mistura de um monte de coisas. É pop porque é 2011, porque viaja de avião;;, define, referindo-se ao som criado com influências de São Lourenço (cidade mineira onde morou até os 22 anos) e da capital paulista, onde vive hoje. ;Tudo que é feito no Brasil é chamado de MPB. Mas começou a surgir uma galera que é meio rock, eletrônico ou indie. O gênero de um artista é uma coisa mutante. Estou ;pop florestal;, mas no próximo disco eu já posso mudar;, avisa.

Ela faz parte de uma nova geração de cantores paulistanos que trocam figurinhas constantemente e que, apesar de negarem, deixam no ar um quê de movimento musical em andamento. O empresariado de lá desenvolveu um projeto chamado Novos paulistas. Dudu Tsuda, Tatá Aeroplano, Thiago Pethit, Tiê e Tulipa Ruiz apresentam-se juntos esporadicamente, mas ninguém pensa em formar um grupo. ;Não vejo um movimento, vejo um momento. Nós somos um recorte do que está acontecendo em São Paulo hoje. Temos uma característica comunitária. Bandas parecidas, produções compartilhadas;, acredita a cantora. Tiê (que também se apresentou no Sai da rede, há duas semanas), Céu, Thalma de Freitas, Tatá Aeroplano e Léo Cavalcanti são os amigos que participam do disco de Tulipa, Efêmera.

As composições do álbum, a maioria de autoria de Tulipa, falam de amor, de temas femininos e cotidianos em linguagem simples. Já a produção feita pelo irmão Gustavo Ruiz é detalhista e preza pelo uso variado de instrumentos. É importante uma audição atenta para perceber as dezenas de camadas sonoras. ;Meu irmão é o guitarrista da banda e o meu pai é o guitar hero;, derrete-se a filha prodígio de Luiz Chagas, músico que acompanhou Itamar Assumpção por duas décadas, na banda Isca de Polícia. A produção em família repete-se no encarte do CD, feito com desenhos dos Ruiz e amigos.

Na internet, a família de Tulipa se reproduz como coelhos. A popularidade profissional, calculada em ;web escalas;, acumula cerca de 6 mil amigos, divididos em três perfis no Facebook, e mais de 5 mil seguidores no Twitter. Muita gente tem baixado as músicas, mas o lançamento do disco físico também gerou dividendos. ;As duas coisas foram importantes, colocar o trabalho na internet e passar pelo ritual do disco físico. Ele serve como um cartão de visitas. Eu só consigo viajar com o show por causa do CD;, constata. Alguma preocupação em relação à longevidade dos trabalhos lançados diretamente na internet? ;Se vai durar mesmo, a gente só vai saber daqui a uns 20 anos;, calcula a cantora e compositora. Até lá.

sai da rede

Hoje, às 19h e às 21h, show da cantora Tulipa Ruiz. Amanhã, às 20h, show de João Brasil. No Centro Cultural Banco do Brasil (SCES, Tc. 2, Cj. 22; 3310-7087). Ingressos: R$ 15 e R$ 7,50 (meia). Classificação indicativa livre.

O que ela diz
;Descobre o peito/ Pinta a boca e beija o espelho/Que reflete a silhueta/ Que você acabou de descobrir/ Perfuma a nuca/Perfuma o pulso/ Sente o seu perfume/ E sai de salto por aí; (Da menina) ;Cada pinheiro é lotado de andorinha/ E o eucalipto acolhe o joão-de-barro/ A ordem das árvores não altera o passarinho; (A ordem das árvores) ;Martelo o tempo pra eu ficar mais pianinho/ Com as coisas que eu gosto e que nunca são efêmeras/ E que estão despetaladas, acabadas, sempre pedem um tipo de recomeço; (Efêmera)

O bonde dos independentes

A internet tem proporcionado não só a divulgação de novos artistas, mas intensificado o intercâmbio entre eles. ;No nosso caso, o intercâmbio flui com uma certa naturalidade, porque sempre foi ideia do Instituto a união entre artistas e cabeças pensantes do Brasil para articular a cena musical independente;, comenta Daniel Ganjaman, integrante do Instituto, grupo paulistano que se apresentou no Sai da rede no domingo passado.

Músico e produtor, Ganjaman já trabalhou com artistas brasilienses como Flora Matos, Lua, Natiruts e com a equipe da festa Criolina. ;A internet é um divisor de águas, sem ela nem 20% deste novo momento seria possível;, avalia Ganjaman.

Em sua apresentação no CCBB, amanhã, o carioca João Brasil contará com algumas participações: a paranaense Marina Gasolina, o grupo brasiliense Sapabonde e a paraense Gaby Amarantos, com quem João fez uma versão tecnobrega para Águas de março.

;Conheci o Sapabonde pelo site Funk na Caixa. Gostei do som e o Renato, do site, me mandou as faixas para remixar ; fiz uma mashup misturando uma música delas com Jack Johnson;, ele conta. O DJ Faroff é outro artista da cidade com quem João troca figurinhas. ;O Leo (Faroff) tocava no Móveis Coloniais de Acaju. Já fui a uns dois shows deles, gosto muito deles ao vivo. Também curto o trabalho do Hamilton de Holanda e a turma da música instrumental de Brasília.; (Pedro Brandt)