Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Em 2010, filmes brasileiros de pequeno e médio porte não vieram a Brasília

Os números de bilheteria são tão expressivos que não abrem margem para polêmicas: 2010 foi um ano iluminado para o mercado do cinema brasileiro. O público de filmes nacionais chegou a 25,5 milhões de espectadores ; o maior do período conhecido como retomada, que teve início em 1995. Tropa de Elite 2, que superou os 11 milhões de ingressos vendidos, tornou-se a produção brasileira de maior sucesso da história. Em Brasília, no entanto, o cenário otimista esconde um contraste cada vez mais incômodo: com o fechamento do Cine Academia, o principal exibidor de produções brasileiras de pequeno e médio porte, quase 60% dos lançamentos nacionais de 2010 não chegaram à capital do país.

De acordo com o site Filme B, especializado em pesquisas de mercado, 76 filmes brasileiros foram distribuídos em 2010. Mas 44 reprovaram no ;vestibular; do circuito brasiliense. Entre eles, obras como Viajo porque preciso, volto porque te amo (de Karim A;nouz e Marcelo Gomes), O sol do meio-dia (de Eliane Caffé), O amor segundo B. Schianberg (de Beto Brant), Solo (de Ugo Giorgetti) e o documentário Dzi Croquettes (de Tatiana Issa e Raphael Alvarez), vencedor da Mostra de São Paulo. Outros filmes que despertaram interesse nos frequentadores de salas alternativas do Sudeste, como Os inquilinos (de Sérgio Bianchi) e Os famosos e os duendes da morte (de Esmir Filho), se espremeram nas sessões das 14h do projeto Cine Cult, no Cinemark. Na prática, não estrearam.

;É uma decepção profunda ver o talento de um jovem como o Esmir não alcançar a aceitação do público porque não tem a chance de ser visto; , lamentou a produtora Sara Silveira, de Os famosos e os duendes da morte (vencedor do Festival do Rio em 2009). Há 20 anos trabalhando com produção no Brasil, Sara nota um descaso com as criações autorais, que se tornam invisíveis em meio à euforia dos sucessos de bilheteria. ;Os filmes comerciais ajudam os filmes médios. O sucesso deles faz com que o espectador desperte a curiosidade em relação ao cinema brasileiro. Mas está muito difícil entrar na malha exibidora, tanto das capitais quanto do interior;, constata.

Sem as 10 salas do Cine Academia ; fechadas há oito meses após incêndio no complexo de lazer ;, os distribuidores encontram dificuldades crescentes para programar os títulos na cidade.

O circuito alternativo de Brasília, o terceiro maior do país (atrás de Rio e São Paulo), desapareceu do mapa. Adhemar de Oliveira, do grupo Espaço de Cinema, afirma que o ;gargalo; para a exibição dos filmes brasileiros está cada vez mais estreito. As opções são o Liberty Mall (onde ele exibe o documentário José e Pilar, inspirado na trajetória de José Saramago) e a Embracine, cujo cardápio se limita quase totalmente a produções de grandes estúdios. ;O filme comercial está sendo exibido normalmente, mas o filme independente fica na fila à espera da tela. Em muitos casos, não compensa exibir. Tentamos lançar Viajo porque preciso, mas não foi possível; , observa. ;Estamos tentando buscar outras saídas;, afirma.

Cenário árido
Para os cineastas, a aridez das salas brasilienses provoca um quê de perplexidade. ;O filme foi distribuído no México, na Espanha, vai ser lançado em Nova York. É um absurdo que o público de Brasília, que tem tanto interesse pelo cinema brasileiro, não possa vê-lo;, comenta Marcelo Gomes (Cinema, aspirinas e urubus), codiretor de Viajo porque preciso, exibido no FicBrasília de 2009. O longa esbarra numa outra deficiência local: sem a Academia, caiu o número de salas com projeção digital, que barateia a exibição de pequenas produções.

Para Marcelo, a Secretaria de Cultura do DF deve planejar medidas para evitar a crise na exibição. Mas o Cine Brasília, a única sala gerenciada pelo governo local, ficará fechada por três meses para reformas na estrutura do prédio. Em 2010, abalado pela crise no GDF e pela falta de recursos, o cinema deu prioridade às reprises de filmes estrangeiros.

A estiagem do circuito prejudica até filmes que foram apresentados pela primeira vez no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O documentário mineiro A falta que me faz, de Marília Rocha, foi exibido em São Paulo com o segundo longa da carreira, Acácio (2008). Mas não entrou em cartaz na capital. ;É realmente uma pena ainda não ter conseguido espaço no circuito aí. Há ainda uma possibilidade que ele entre em 2011. Mas está difícil;, lamenta a diretora. ;Os espaços estão cada vez mais restritos para filmes realmente independentes. E não é só em Brasília, mas em todo o Brasil. Não podemos nos contentar com os festivais;, afirma.

Fora do circuito
Conheça alguns dos filmes brasileiros que, em 2010, foram excluídos da programação do circuito comercial de Brasília

Acácio e A falta que me faz, de Marília Rocha

Os dois longas da diretora mineira, integrante do coletivo Teia, estão entre os documentários mais elogiados da nova safra. Foram exibidos em São Paulo.

Antes que o mundo acabe, de Ana Luiza Azevedo
O conto adolescente produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre foi exibido apenas em pré-estreia no Festival Internacional de Cinema Infantil, no Cinemark.

O amor segundo B. Schianberg, de Beto Brant
Após Um crime delicado e Cão sem dono, cineasta paulistano radicaliza o próprio estilo ao usar câmeras de vigilância para registrar o cotidiano de um casal. Produzido originalmente para a tevê.

Bellini e o demônio, de Marcelo Galvão
A adaptação do livro de Tony Belloto, com Fábio Assunção à frente do elenco, estreou no Rio de Janeiro em setembro de 2010, um ano depois de ter sido exibido no Festival do Rio.

A casa verde e Em teu nome, de Paulo Nascimento

No infantojuvenil A casa verde personagens de quadrinhos ganham vida. Já o drama Em teu nome, exibido em Gramado, retrata a agonia dos presos políticos no período da ditadura militar.

Crítico, de Kléber Mendonça Filho
Premiado no Festival de Brasília com o curta Recife frio, o cineasta e jornalista Kléber Mendonça Filho estreou na direção de longas com um documentário sobre os conflitos entre artistas e críticos.

Dzi Croquettes, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez
O documentário conta a história do grupo de atores/bailarinos que se tornou símbolo da contracultura ao enfrentar a repressão nos anos 1970. Premiado na Mostra de São Paulo.

O grão, de Petrus Cariry
Dirigido pelo filho do diretor Rosemberg Cariry (de Lua Cambará), o longa rendeu comparações com Vidas secas, principalmente por conta do retrato árido da vida sertaneja.

Pachamama, de Eryk Rocha
O documentário do filho de Glauber Rocha, que concorreu este ano no Festival de Brasília com Transeunte, foi exibido em 2009 no FicBrasília e não entrou no circuito.

Rita Cadillac ; A lady do povo, de Toni Venturi
O filme infantil de Venturi, Eu e meu guarda-chuva, foi aceito no circuito brasiliense. Já o documentário sobre a chacrete mais conhecida do país permanece inédito.

Só dez por cento é mentira, de Pedro Cezar

A ;desbiografia oficial; de Manoel de Barros ganhou o prêmio de melhor documentário no 2; Festival de Paulínia, passou em 2008 nas mostras do Rio de Janeiro e de São Paulo.

O sol do meio-dia, de Eliane Caffé
Selecionada para o Festival de Brasília com Kenoma (1998), Caffé não lançou que vai à Amazônia para desvelar um triângulo amoroso.

Solo, de Ugo Giorgetti
O diretor de Boleiros filma, num estúdio da TV Cultura, um encontro com Antônio Abujamra. Em 73 minutos, o ;provocador; desabafa sobre a vida e a carreira. Entrou em cartaz no circuito paulistano.

Terra deu, terra come, de Rodrigo Siqueira
Vencedor do prêmio de melhor documentário brasileiro no festival É Tudo Verdade, em 2010, o filme embaralha fato e representação ao compor o perfil de um garimpeiro.

Viajo porque preciso, volto porque te amo, de Karim A;nouz e Marcelo Gomes
Os diretores de O céu de Suely (Karim A;nouz) e Cinema, aspirinas e urubus (Marcelo Gomes) assinam um ;road movie; narrado por um homem cuja imagem não aparece em cena. Imagens de documentário, prosa de ficção.

FORA DO CIRCUITO

Conheça alguns dos filmes brasileiros que, em 2010, foram excluídos da programação do circuito comercial de Brasília

Acácio
e A falta que me faz, de Marília Rocha

Os dois longas da diretora mineira, integrante do coletivo Teia, estão entre os documentários mais elogiados da nova safra. Foram exibidos em São Paulo.

Antes que o mundo acabe
, de Ana Luiza Azevedo

O conto adolescente produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre foi exibido apenas em pré-estreia no Festival Internacional de Cinema Infantil, no Cinemark.

O amor segundo B. Schianberg
, de Beto Brant

Após Um crime delicado e Cão sem dono, cineasta paulistano radicaliza o próprio estilo ao usar câmeras de vigilância para registrar o cotidiano de um casal. Produzido originalmente para a tevê.

Bellini e o demônio
, de Marcelo Galvão

A adaptação do livro de Tony Belloto, com Fábio Assunção à frente do elenco, estreou no Rio de Janeiro em setembro de 2010, um ano depois de ter sido exibido no Festival do Rio.

A casa verde
e Em teu nome, de Paulo Nascimento

No infantojuvenil A casa verde personagens de quadrinhos ganham vida. Já o drama Em teu nome, exibido em Gramado, retrata a agonia dos presos políticos no período da ditadura militar.

Crítico
, de Kléber Mendonça Filho

Premiado no Festival de Brasília com o curta Recife frio, o cineasta e jornalista Kléber Mendonça Filho estreou na direção de longas com um documentário sobre os conflitos entre artistas e críticos.

Dzi Croquettes
, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez

O documentário conta a história do grupo de atores/bailarinos que se tornaram símbolos da contracultura ao enfrentar a repressão nos anos 1970. Premiado na Mostra de São Paulo

O grão
, de Petrus Cariry

Dirigido pelo filho do diretor Rosemberg Cariry (de Lua Cambará), o longa rendeu comparações com Vidas secas, principalmente por conta do retrato árido da vida sertaneja.

Pachamama
, de Eryk Rocha

O documentário do filho de Glauber Rocha, que concorreu este ano no Festival de Brasília com Transeunte, foi exibido em 2009 no FicBrasília e não entrou no circuito.

Rita Cadillac ; A lady do povo
, de Toni Venturi

O filme infantil de Venturi, Eu e meu guarda-chuva, foi aceito no circuito brasiliense. Já o documentário sobre a chacrete mais conhecida do país permanece inédito.

Só dez por cento é mentira
, de Pedro Cezar

A "desbiografia oficial" de Manoel de Barros ganhou o prêmio de melhor documentário no 2; Festival de Paulínia, passou em 2008 nas mostras do Rio de Janeiro e de São Paulo.

O sol do meio dia
, de Eliane Caffé

Selecionada para o Festival de Brasília com Kenoma (1998), Caffé não lançou aqui o terceiro longa da carreira, que vai à Amazônia para desvelar um triângulo amoroso.

Solo
, de Ugo Giorgetti

O diretor de Boleiros filma, num estúdio da TV Cultura, um encontro com Antônio Abujamra. Em 73 minutos, o "provocador" desabafa sobre a vida e a carreira. Entrou em cartaz no circuito paulistano.

Terra deu, terra come
, de Rodrigo Siqueira

Vencedor do prêmio de melhor documentário brasileiro no festival É Tudo Verdade, em 2010, o filme embaralha fato e representação ao compor o perfil de um garimpeiro.

Viajo porque preciso, volto porque te amo
, de Karim A;nouz e Marcelo Gomes

Os diretores de O céu de Suely (Karim A;nouz) e Cinema, aspirinas e urubus (Marcelo Gomes) assinam um "road movie" narrado por um homem cuja imagem não aparece em cena. Imagens de documentário, prosa de ficção.

OUTRAS AUSÊNCIAS

Amantes do futebol
, de Eduardo Baggio

Cildo
, de Gustavo Moura

Os inquilinos
, de Sérgio Bianchi *

Histórias de amor duram apenas 90 min
, de Paulo Halm*

Os famosos e os duendes da morte
, de Esmir Filho*

Depois de ontem, antes de amanhã
, de Christine Liu

Ao sul de setembro
, de Amauri Tangará

Um lugar ao sol
, de Gabriel Mascaro

Jards Macalé ; Um morcego na porta principal
, de Marco Abujamra

* Exibido em sessão diária única no projeto Cine Cult, do Cinemark