Em 2010, ano em que o Oscar surpreendeu os apostadores mais cautelosos e consagrou o drama independente Guerra ao terror, os jornalistas estrangeiros que votam no Globo de Ouro preferiram a grandiosidade de Avatar. A discordância entre as duas maiores premiações hollywoodianas confirmou um descompasso cada vez mais frequente entre os eventos. O início do século alterou o status de uma cerimônia que, até o fim dos anos 1990, era tratada como uma prévia confiável para a entrega das estatuetas douradas. Na 68; edição, hoje à noite, o Globo de Ouro enfrenta o desafio de recuperar o prestígio na mídia norte-americana e na indústria do cinema.
Não será uma tarefa simples. A começar pelo fato de que o longa-metragem com o maior número de indicações (sete, no total) não é aquele mais bajulado por associações de críticos ou mais cotado na bolsa de palpites para o Oscar. A produção britânica O discurso do rei sai na frente do favorito A rede social e da cinebiografia O vencedor, ambos com seis chances de vitória. A origem e Cisne negro completam a lista de candidatos a melhor filme dramático ; o round principal da premiação. Com boa performance nas bilheterias dos Estados Unidos, o novo longa dos irmãos Coen, Bravura indômita, foi ignorado ; mas muito possivelmente aparecerá entre os 10 indicados ao Oscar.
Nos últimos anos, as escolhas do Globo de Ouro se mostraram mais conservadoras do que as da Academia. Esse perfil deveria privilegiar uma fita de época como O discurso do rei, reforçada pelo lobby dos produtores Harvey e Bobby Weinstein (ex-manda-chuvas da Miramax, a companhia independente mais poderosa dos anos 1990). Mas poucos contam com uma derrota de A rede social. O retrato de Mark Zuckerberg, criador do Facebook, é uma unanimidade entre os jornalistas americanos. Os três outros concorrentes têm pouca força na cerimônia realizada no Beverly Hilton Hotel e apresentada pelo comediante Ricky Gervais. Cisne negro, por exemplo, é um terror psicológico que pode intimidar parte dos votantes, ainda que deva garantir a Natalie Portman o prêmio de melhor atriz.
Mas a maior fraqueza do Globo de Ouro ; e que pode maltratar a reputação do evento, transmitido no Brasil pela TNT com comentários de Rubens Ewald Filho ; está na segunda categoria mais importante da festa, a de melhor comédia ou musical. A pobreza da seleção provocou críticas pesadas na imprensa após a divulgação dos indicados, em dezembro. O indie Minhas mães e meu pai, valorizado pelas atuações de Annette Bening e Julianne Moore (ambas lembradas entre as atrizes em disputa), é o preferido indiscutível numa contenda que se completa com os desacreditados Alice no País das Maravilhas, O turista, Burlesque e Red ; Aposentados e perigosos. Os quatro não estão cotados para entrar entre os 10 longas do Oscar.
Páreo duro
Se as performances em comédias não despertam muito interesse este ano (Johnny Depp foi convidado por dois filmes, O turista e Alice no País das Maravilhas), a competição mais acirrada da noite será entre os atores de drama. Colin Firth (O discurso do rei) é o mais bajulado, ainda que Jesse Eisenberg (A rede social), James Franco (127 horas) e Mark Wahlberg (O vencedor) mereçam respeito pela condição de protagonistas absolutos dos filmes que defendem. Entre os diretores, a briga deve privilegiar a tarimba de David Fincher (A rede social) sobre Tom Hooper (O discurso do rei), Darren Aronofsky (Cisne negro), Christopher Nolan (A origem) e David O. Russell (O vencedor). Todos os cinco também estão indicados ao troféu do sindicato dos diretores.
Ignorado entre as produções estrangeiras, o Brasil assistirá a certa distância ao embate imprevisível entre a coprodução mexicana e espanhola Biutiful, de Alejandro González Iñárritu (Babel), o francês O concerto, de Radu Mihaileanu, o russo Kray, de Aleksei Uchitel, o dinamarquês Em um mundo melhor, de Susanne Bier, e o italiano I am love, de Luca Guadagnino. Na tevê, a competição parece ainda mais embolada, com seis candidatos a melhor comédia (entre eles, Glee, 30 Rock e The Big Bang theory) e cinco a melhor drama (Boardwalk Empire, Mad men e The walking dead são os destaques). Promessas de surpresa numa festa que faz de tudo para se tornar menos previsível.
68; GLOBO DE OURO
Hoje, às 23h, com transmissão pela TNT (NET/Sky). Às 22h, o canal por assinatura exibe pré-show com a chegada dos indicados ao tapete vermelho.
Principais indicados
FILME ; DRAMA
; Cisne negro, de Darren Aronofsky
; O discurso do rei, de Tom Hooper
; A origem, de Christopher Nolan
; A rede social, de David Fincher
; O vencedor, de David O. Russell
FILME ; MUSICAL OU COMÉDIA
; Alice no País das Maravilhas,
de Tim Burton
; Burlesque, de Steve Antin
; Minhas mães e meu pai, de Lisa Cholodenko
; Red ; Aposentados e perigosos, de Robert Schwentke
; O turista, de Florian Henckel von Donnersmarck
DIRETOR
; Christopher Nolan (A origem)
; Darren Aronofksy (Cisne negro)
; David Fincher (A rede social)
; David O. Russell (O vencedor)
; Tom Hooper (O discurso do rei)
ATRIZ ; DRAMA
; Halle Berry (Frankie and Alice)
; Nicole Kidman (Rabbit hole)
; Jennifer Lawrence (Winter;s bone)
; Natalie Portman (Cisne negro)
; Michelle Williams (Blue valentine)
ATOR ; DRAMA
; Jesse Eisenberg (A rede social)
; Colin Firth (O discurso do rei)
; James Franco (127 horas)
; Ryan Gosling (Blue valentine)
; Mark Wahlberg (O vencedor)
ATRIZ ; MUSICAL OU COMÉDIA
; Annette Bening (Minhas mães e meu pai)
; Anne Hathaway (Amor e outras drogas)
; Angelina Jolie (O turista)
; Julianne Moore (Minhas mães e meu pai)
; Emma Stone (Easy A)
ATOR ; MUSICAL OU COMÉDIA
; Johnny Depp (Alice no País das Maravilhas)
; Johnny Depp (O turista)
; Paul Giamatti (Barney;s version)
; Jake Gyllenhaal (Amor e outras drogas)
; Kevin Spacey (Casino Jack)