Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Leia trechos do livro Um Diário Russo de John Steinbeck e Robert Capa



Um diário russo

"Desde que retornamos d Rússia, provavelmente o comentário que mais ouvimos seja este: "Aposto que montaram um espetáculo só para vocês; aposto que vocês foram enganados. Eles não lhes mostraram as coisas como elas são na verdade". Nesse vilarejo, os moradores de fato montaram um espetáculo em nosso benefício. O mesmo tipo de espetáculo que um fazendeiro do Kansas prepararia para um convidado. Agiram exatamente como os nossos concidadãos, para que os europeus dissessem que "os americanos só comem peru".

"Eles de fato se esforçaram para nos impressionar. Retornaram sujos dos campos e tomaram banho a fim de vestir suas melhores roupas, e as mulheres tiraram dos baús lenços de cabeça limpos e cheirosos. Lavaram os pés e colocaram botas, vestiram saias e blusas que haviam acabado de passar. As meninas colheram flores, fizeram anjos em garrafas e as usaram para decorar a impecável sala de visitas."

"Com seus laços imaculados, as mulheres espiavam pela porta da cozinha e acompanharam a conversa, que logo se voltou para a política externa. As perguntas eram inteligentes.
-- O que o governo americano faria se o governo soviético fornecesse recursos e ajuda militar ao México, com o objetivo explícito de impedir a difusão da democracia? ; perguntou um dos agricultores.
-- Pensamos por um instante e dissemos:
-- Bem, acho que não nos restaria outra saída além de declarar guerra.
-- Mas vocês emprestaram dinheiro para a Turquia, que é nossa vizinha, com finalidade de impedir a propagação do nosso sistema. E nós não declaramos guerra ; replicou ele.

Então foi a vez do nosso anfitrião:
-- Não temos dúvida de que o povo americano é democrático. Vocês poderiam nos explicar por que o governo americano mantém relações amigáveis com governos reacionários, como os de Franco e Trujilo, a ditadura militar turca e a monarquia corrupta da Grécia?"

"Havia montanhas de pão. A panificadora era inteiramente mecanizada, com batedeiras, masseiras e fornos automatizados. As compridas esteiras com as massas entravam pelos fornos e, depois, levavam os pães assados até uma área em que eram empilhados em carroças que os distribuíam pela cidade.

A população de Kiev tinha muito orgulho dessa panificadora, e o gerente nos perguntou se, nos Estados Unidos, havia algo tão maravilhoso. E aqui deparamos de novo com algo que havíamos encontrado muitas vezes: aparentemente, os russos acreditam que inventaram essas coisas. Eles são fascinados por máquinas automatizadas e sonham em automatizar completamente quase todos os processos técnicos."