Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Livro reúne 500 imagens da capital francesa, clicadas por Robert Doisneau

Robert Doisneau não gostava muito de deixar Paris. ;As grandes viagens sempre me atormentaram;, escreveu. ;Não consigo suportar os olhares desdenhosos dos nativos. Tenho vergonha.; Em Paris, Doisneau se sentia um nativo, parte de um cenário que se acostumou a observar com afeto e curiosidade despretensiosa. Nascido em abril de 1912, o fotógrafo foi um dos mais importantes retratistas da capital francesa. Se Cartier-Bresson, parceiro na Agência Magnum, viajou o mundo e trouxe imagens de terras distantes, Doisneau pouco se afastou de Paris. Eventualmente, recebia chamadas de Bresson, que insistia na necessidade de o fotógrafo ver outros mundos. Mas Doisneau fazia vista grossa. Se sentia seguro no perímetro entre o Arco do Triunfo e o Louvre, e ponto. Tal segurança é o alicerce das 500 imagens organizadas em Paris Doisneau, lançamento da CosacNaify. Dividido em cinco capítulos, o livro faz uma compilação de fotos agrupadas por temática. Em Paris por acaso, o fotógrafo assume a condição de flâneur para perseguir registros instantâneos das cenas de rua. ;Caminhei tanto sobre os paralelepípedos e depois sobre o asfalto de Paris, sulcando a cidade em todos os sentidos durante meio século;, conta, no texto que acompanha as imagens. Paris se revolta é um retrato da ocupação alemã durante a Segunda Guerra. No entanto, não são os alemães os protagonistas e sim os próprios parisienses, em cenas que evocam a guerra, mas nunca a tornam explícita. Paris dos parisienses faz um passeio por rostos e locais. Os habitantes podem ser os floristas ou verdureiros de Les Halles, uma cartomante, uma dona de casa, gatos, cachorros e atrizes. Em Paris se diverte, Doisneau visita cabarés, circos, parques de diversões e casas de alta costura, fotografadas durante os anos em que trabalhou para a Vogue. O desencanto marca a última parte do livro, Paris concreto. Entristecido pela maneira como a arquitetura moderna se espalhara pela capital francesa na década de 1970, o fotógrafo avisa: ;Vi desaparecer um a um meus pontos de referência confidenciais, o calçamento em forma de coração diante do Institut de France, o crucifixo em frente aos gasômetros da Rue de l;Évangile; O que me incomoda mais é o confisco do meu oásis.; Doisneau já quase não fotografava quando morreu, em 1994. Não compreendia mais a Paris que chegava ao século 21. Sua cidade era a dos contrastes em preto e branco, do beijo romântico ; encenado ou não ; em frente ao Hôtel de Ville, dos bistrôts, das personalidades em lugares comuns. Paris Doisneau De Robert Doisneau. CosacNaify, 400 páginas. R$ 110.