É quase uma unanimidade o brasileiro falar que o país não tem memória. A luta para manter vivo o legado dos grandes artífices da cultura nacional, por exemplo, é árdua. A Funarte tem contribuído mais ativamente para evitar o ocaso em torno de homens e mulheres que revolucionaram o teatro e a música. No portal Memória das Artes (), biografias, acervos de fotos, arquivos de voz e partituras estão disponibilizados gratuitamente ao público. Nomes como Dercy Gonçalves, Ida Gomes, Walter Pinto, Dulcina de Moraes, Ankito, Eva Todor, Cleyde Yáconis, Tônia Carreiro, Bibi Ferreira e Paulo Autran têm a trajetória refeita por pesquisadores e historiadores.
O projeto desenvolvido desde 2000, ganhou aporte financeiro em 2009 da Petrobras, do Itaú Cultural e da CSN, tornando-se mais acessível ao pesquisador on-line. ;A área Brasil Memória das Artes surge já sabendo que só tende a crescer, à medida que mais e mais conteúdos forem digitalizados pela Funarte e disponibilizados ao público e a ambição desse espaço não é apenas deixar acessível todo o acervo digitalizado, mas articulá-lo, contextualizá-lo, fazer o passado conversar com o presente, rastrear o que se produziu antes e trazer à tona com o olhar de agora, transformando esse diálogo num exercício constante que nos fará a todos mais conscientes de nossa própria memória cultural;, observa Tadeu Di Pietro, diretor do Centro de Programas Integrados (Cepin) da Funarte.
Um dos destaques é o texto destinado a Paschoal Carlos Magno, fundador do Teatro do Estudante do Brasil (TEB), grupo que está na base da modernização das artes cênicas nacionais. Crítico e agitador cultural, responsável por revelar nomes como Cacilda Becker, é um dos artistas brasileiros mais injustiçados no quesito preservação da memória. Lá, há, por exemplo, reproduções de programas de espetáculos históricos, como Hamlet, que revelou Sergio Cardoso, um dos maiores intérpretes do moderno teatro brasileiro. ;Creio que nunca outra pessoa, nessa Terra, foi responsável por um movimento cultural de tão amplas repercussões, pois criando o Teatro do Estudante, Paschoal não lançou apenas uma geração de artistas, foi realmente o cabeça de uma revolução. Tal é a importância de sua contribuição que se pode falar em teatro no Brasil antes e depois de Paschoal, como fases complementares separadas na vida de nossas artes dramáticas;, escreveu a escritora Rachel de Queiroz na antológica revista Cruzeiro.
O produtor e diretor Walter Pinto, que revolucionou o teatro de revista no Brasil com musicais de primeira, também ganha justo espaço, com a digitalização de fotos de Themistocles Halfeld, que registrou as vedetes e os astros do Teatro Recreio em imagens belíssimas. ;Juntos, Walter Pinto e Halfeld fizeram uma exposição com fotografias dos artistas, na sala de espera do Teatro Recreio, onde as revistas eram encenadas. Foi um momento peculiar, em que o empresário de teatro (Walter Pinto) se une a um representante de outra arte, a fotografia, valorizando as duas artes;, observa a pesquisadora de artes cênicas do Cedoc-Funarte, Filomena Chiaradia, que coordena o tratamento do acervo Walter Pinto.