A artista plástica Helena Lopes fala com voz suave ao telefone. Enquanto explica as composições de suas obras, é quase impossível não associar a fala delicada com a leveza das coisas que ela produz. A combinação entre tecidos leves e de cores claras, produtos extraídos da natureza formam composições que passam a sensação de calma. Nos trechos em que os trabalhos assumem a cor branca, a artista enxerga algo mais além de uma experiência visual. "Parece até que dá para respirar dentro desses espaços", divaga a artista.
Ela exibirá uma coletânea de trabalhos de toda a carreira, até 12 de janeiro, na exposição Helena Lopes - Fragmentos: papéis, tramas e pigmentos, montada na Galeria Almeida do Café Savana (116 Norte). "O que dá para perceber, na seleção, é o meu gosto pelo papel. Sou papeleira convicta", admite. Muitas obras ao longo da carreira foram produzidas usando o finíssimo papel japonês tenjugo, que tem apenas 10g/m2 de espessura, feito a partir de um folha de monstera.
A artista também utiliza tramas de linho, vernizes feitos com cera de abelha, a terra vermelha (típica do cerrado) e sementes desidratadas de plantas da região. Duas peças feitas com peneiras de metal foram revestidas com trama de linho e receberam a aplicação de sementes de Pente de Macaco desidratadas e pintadas, que já foram exibidos na exposição coletiva denominada O círculo, que ficou em cartaz no Museu da República em 2007. "É o ritmo de um texto. É como se corressem as vírgulas e os pontos gráficos", analisa Helena.
São pelo menos 13 trabalhos de diferentes épocas, que misturam diferentes técnicas. Pode haver tanto pinturas feitas em nanquim quanto com serigrafia aquarelada. Mesmo assim, Helena enxerga na seleção pontos de contato. "Fizemos um conjunto de épocas tão diferentes, mas existem coisas bem parecidas no tratamento dado ao material. Algumas obras eram inéditas. Nunca haviam sido exibidas", entrega a artista. Pelo menos um trabalho remanescente da época em que atuou como gravurista nas décadas de 1980 e 1990 está na exibição. Helena é responsável pelo Atelier Revisão da Gravura.
Apesar da aparência etérea, a mensagem lançada pela artista precisa ser levada a sério. Desde a década de 1980, Helena mistura elementos extraídos do cerrado para chamar atenção para a questão da preservação do meio ambiente. Mesmo utilizando elementos orgânicos, a longevidade das obras é uma preocupação constante. "Não existe risco de decomposição desses materiais. Eles são secos e desidratados e recebem tratamento químico. O trabalho tem de resistir", explica. Em abril do ano que vem, algumas obras de Helena atravessarão o Atlântico e serão expostos em Lisboa, Portugal.
Helena Lopes - Fragmentos: papéis, tramas e pigmentos
Exposição com trabalhos da artista plástica Helena Lopes na Galeria Almeida Prado no Café Savana (116 Norte, Bl. A, Lj. 4). Até 12 de janeiro de 2011. Visitação todos os dias, das 12h às 15h e das 20h30 à 0h. Informações: 3347-9403.