O violeiro Roberto Corrêa ficou surpreso com o resultado do mapeamento do Voa Viola. Criado pelo próprio músico, o projeto percorreu todos os estados brasileiros em busca de violeiros de várias vertentes, idades e tradições. Encontrou uma mistura surpreendente. Tem gente tocando rock com viola, tem violeiro criança e cravo com viola. Um mix cuja interpretação, na visão de Corrêa, deve considerar a diversidade cultural brasileira e a versatilidade do instrumento, que pode ser comprovada no palco da Sala Villa-Lobos hoje com o quarto e último espetáculo do Voa Viola.
A mistura inusitada traz a Brasília artistas fascinados pela viola e pela pesquisa de estilos. O próprio Corrêa divide o palco com Renato Teixeira e Ricardo Vignini no primeiro momento do espetáculo. Teixeira apresenta clássicos como Romaria, composta em 1978, e Amanheceu, peguei a viola, parceria com Almir Sater, enquanto Vignini traz uma mescla que começa no rock e termina na moda de viola.
A mistura bizarra tem raiz em duas fixações e nasceu da tentativa de associar a diversão roqueira dos tempos de adolescência à admiração pelo virtuosismo necessário ao violeiro. ;A gente queria pescar a molecada mais jovem para mostrar que, com a viola, você pode fazer de tudo. E também se divertir um pouco lembrando da nossa adolescência;, avisa Vignini, integrante do grupo Matuto Moderno, cujo repertório inclui rock tocado com viola. No repertório de Vignini estão músicas de Led Zepellin, Iron Maiden e Metallica com pegada de pagode, combinação que norteia o CD Moda do rock.
Roberto Corrêa será o responsável por facilitar o diálogo entre os artistas durante a primeira parte do espetáculo. ;Vou fazer a costura;, brinca. A segunda parte é dedicada ao mapeamento do Voa Viola. O projeto começou com 389 inscritos, reduzidos a 24 após a seleção de um júri. Em seguida, os nomes foram disponibilizados no site do Voa Viola e coube ao público votar e escolher os 12 artistas que deveriam se apresentar durante os shows.
O site virou uma comunidade com mais de 12 mil membros distribuídos por 200 cidades. A possibilidade de postar vídeos e músicas atraiu internautas e ajudou a cumprir um dos maiores objetivos de Corrêa: estreitar a distância entre público e artistas. ;É cada vez mais premente a necessidade de um artista estar em contato com seu público, por isso fizemos a votação on-line;, avisa o violeiro. ;Isso permite ao artista ter noção do seu público. A ideia é despertar isso e mostrar para os violeiros. Conseguimos fazer a ligação dos violeiros com esse meio virtual.;
Para o show brasiliense ; o último depois de apresentações em Belo Horizonte, Recife e São Paulo ; os internautas escolheram os duos viola e acordeom e viola e cravo e a violeira mato-grossensse Bruna Viola. ;A Bruna tem 17 anos e está fazendo uma carreira brilhante. Ela faz clássicos e composições próprias, se apresenta em rodeios e está conectada com o que está sendo feito em viola, com o sertanejo universitário e com o pessoal tradicional;, conta Corrêa. A dupla pouco óbvia do violeiro Ricardo Matsuda e da cravista Patrícia Gatti pode, aparentemente, não combinar. Mas vale lembrar que são dois instrumentistas de cordas, ambos ex-integrantes do grupo Ânima e em busca de uma linguagem comum capaz de associar o caipira brasileiro ao barroco do cravo.
Já a parceria entre os gaúchos Valdir Verona (viola) e Rafael de Boni (acordeom) bebe na música tradicional e nas origens do uso do instrumento no Rio Grande do Sul. ;A viola chegou antes no Rio Grande do Sul e, quando o acordeom chegou, por causa da sonoridade, ela ficou de lado;, conta De Boni. ;Valdir é um pesquisador de ritmos gaúchos e fizemos o duo para resgatar a tradição, a música gaúcha como era tocada no início.; O repertório inclui milongas, tangos, chamarras e choros, música típica da região de fronteira do sul do Brasil.
VOA VIOLA
Hoje, às 21h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia).