Mario Abbade
Havana ; Apesar de suas dimensões continentais e da economia estável, o Brasil produz um número semelhante de filmes que a Argentina: cerca de 80 longas de ficção. Se estreitarmos os algarismos para somente os filmes que representam o cinema fantástico ou de horror, o Brasil perde de goleada. Essa estatística comprovou-se no 32; Festival do Novo Cinema Latino-Americano de Havana, em Cuba, encerrado no último domingo.
O festival cubano teve uma mostra destinada ao filme fantástico, com longas e os curtas mais significativos do gênero, que foram produzidos na América Latina. Esse ano o comitê reuniu seis produções: Dormir al sol, de Alejandro Chomski; Lo siniestro, de Sergio Mazurek; Recortadas, de Sebastián De Caro; El hombre apnea, de Francisco Pavanetto; Incordia, de Pablo Polledri; e Molina;s Ferozz, de Jorge Molina.
Interessante que os cinco primeiros da lista foram concebidos na Argentina. São três longas e dois curtas, sendo que um dos deles é uma animação. Fica a certeza, que mesmo com cineastas consagrados como o oscarizado Juan José Campanella, Lucrecia Martel, Pablo Trapero, Daniel Burman e Lisandro Alonso, o novo cinema argentino abriga realizadores de toda a espécie de cinema.
Esse predicado da Mostra de Filmes Fantásticos e de Horror, que faz parte do Festival de Havana, não é uma exclusividade desse ano. A cada nova edição, o numero de filmes fantásticos selecionados, oriundos da Argentina, aumenta. Está tão recorrente, que em Cuba, a mostra vem ganhando um outro nome: Del HorrAr (horror argentino).
A produção brasileira parece estacionada nos filmes de José Mojica Marins, o popular Zé do Caixão. Esse argumento comprova-se na homenagem que Mojica recebeu em Havana com a exibição do seu filme Essa noite encarnarei em teu cadáver, um clássico do horror sul-americano. O adendo residiu na performance do guitarrista Gary Lucas. Ele tocou ao vivo a trilha sonora, ao mesmo tempo em que o filme estava sendo exibido. O cinema La Rampa estava abarrotado de pessoas e a reação entusiasmada demonstrou o quanto Mojica é admirado. Inclusive, os diretores do festival irão fazer uma retrospectiva completa da filmografia de Mojica com a sua presença no ano que vem.
Até mesmo o Uruguai tem um filme fantástico em Havana: A casa (La casa muda). O longa do jovem diretor uruguaio Gustavo Hernández foi ovacionado no último Festival de Cannes, por sugerir a concepção em um único plano-sequência. A casa foi recentemente exibido no Festival do Rio com sessões esgotadas e vai estrear em janeiro de 2011 no circuito nacional.
Vale ressaltar que esses filmes fantásticos não são simplesmente filmes de monstros ou assassinos em série, mas também dramas psicológicos que flertam com o sobrenatural de diversas formas. E o Festival de Havana parece entender as diferenças que acompanham o gênero sem preconceitos, por ter em sua programação uma mostra especifica. Um diferencial em comparação a Cannes, Berlim, Veneza, Sundance e Toronto, entre outros festivais relevantes ao redor do planeta.
Curta brasileiro premiado
O curta Chapa, do brasileiro Thiago Ricarte, recebeu a Menção do Júri no 32; Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano, encerrado neste domingo em Havana. Chapa conta a história de Antônio, um trabalhador informal de beira de estrada, quebra a rotina de serviço para esperar a visita de sua filha. O título do filme surgiu do tempo que Ricarte, ainda estudante, passou percorrendo a estrada e se deparava com os ;chapas da estrada;, barraquinhas de trabalhadores informais que ajudam caminhoneiros a chegar ao seu destino final e também auxiliam no descarregamento de mercadorias. ;Embora a história fale pouco sobre eles, me inspirou contar a vida desses personagens, na rodovia, que é um ponto forte cinematograficamente;, comentou em recente entrevista. Outro brasileiro, Cadu Macedo, obteve o Primeiro Prêmio Coral de Animação, com Sambatown.
A relação dos premiados
Ficção
Primeiro Prêmio Coral
La vida útil, de Federico Veiroj (Uruguai/Espanha)
Segundo Prêmio Coral
Post Mortem, de Pablo Larraín (Chile/México/Alemanha)
Terceiro Prêmio Coral
Las buenas hierbas, de María Novaro (México)
Prêmio Especial do Juri
La mirada invisible, de Diego Lerman (Argentina/França/Espanha)
Curtas
Prêmio Coral
Los bañistas, de Carlos Lechuga (Cuba)
Menção do Juri
Chapa, de Thiago Ricarte (Brasil)
O curta "Chapa", do brasileiro Thiago Ricarte, recebeu a "Menção do Juri" no 32; Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano, encerrado neste domingo em Havana.
Outro brasileiro, Cadu Macedo, obteve o Primeiro Prêmio Coral de "Animação", com "Sambatown".
A relação dos premiados é a seguinte:
Ficção:
Primeiro Prêmio Coral: "La vida útil", de Federico Veiroj (Uruguai/Espanha)
Segundo Prêmio Coral: "Post Mortem", de Pablo Larraín (Chile/México/ Alemanha)
Terceiro Prêmio Coral: "Las buenas hierbas", de María Novaro (México)
Prêmio Especial do Juri: "La mirada invisible", de Diego Lerman (Argentina/ França/Espanha)
Curtas:
Prêmio Coral: "Los bañistas", de Carlos Lechuga (Cuba)
Menção do Juri: "Chapa", de Thiago Ricarte (Brasil)
Por categorias:
Melhor Direção: Fernando Pérez, por "José Martí: el Ojo del Canario" (Cuba/Espanha)
Atriz: Antonia Zegers, por "Post Mortem" (Chile/México/Alemanha)
Ator: Alfredo Castro, por "Post Mortem"
Roteiro: Pablo Larraín e Mateo Iiribarren, por" Post Mortem"
Fotografia: Damián García, por "Chicogrande" (México)
Edição: Eliane Katz, por "Por tu culpa" (Argentina/França)
Música Original: Santiago Chávez e Judith de León, por "Las buenas hierbas" (México)
Trilha Sonora: Raúl Locatelli e Daniel Yafalián, por "La vida útil" (Uruguai/Espanha)
Direção Artística: Erick Grass, por "José Martí: el Ojo del Canario" (Cuba/Espanha)
Documentários:
Primeiro Prêmio Coral: "Pecados de mi padre", de Nicolás Entel (Argentina/ Colômbia)
Prêmio Especial do Juri: "El tesoro de América - el oro de Pascua Lama", de Carmen Castillo Echeverría. (Chile/França)
Segundo Prêmio Coral: "El edificio de los Chilenos", de Macarena Aguiló Marchi. (Chile/Cuba/França)
Terceiro Prêmio Coral: "Memória Cubana", de Alice de Andrade e Iván Nápoles (Brasil/Cuba/França)
Menção Especial: "Cuchillo de palo", de Renate Costa (Paraguai/Espanha)
Animação:
Primeiro Prêmio Coral: "Sambatown", de Cadu Macedo (Brasil)
Segundo Prêmio Coral: "Marcela", de Gastón Siriczman (Argentina)
Terceiro Prêmio Coral: "El alicanto y la veta de cobre", de Roberto Avaria (Chile)
Prêmio especial do Juri: "Nikita Chama Boom", de Juan Padrón Blanco (Cuba)
Obra Prima:
Primeiro Prêmio Coral: "Alamar", de Pedro González-Rubio (México)
Segundo Prêmio Coral: "Octubre", de Diego Vega e Daniel Vega (Peru/Venezuela/Espanha)
Terceiro Prêmio Coral: "Del amor y otros demonios", de Hilda Hidalgo (Costa Rica/Colômbia)
Prêmio Especial do Juri: "Hermano", de Marcel Rasquin (Venezuela)