Diversão e Arte

Ricos e sem caráter, personagens comuns marcam nova obra de Sidney Sheldon

postado em 10/12/2010 08:00
O último lançamento de Sidney Sheldon, Depois da escuridão, uma parceria com a não tão notável Tilly Bagshawe (autora de Senhora do jogo), é mais uma das histórias que transforma quem lê em detetive, com inúmeras pistas falsas para confundir o leitor, o que foi, talvez, a característica mais marcante da obra de Sheldon. A narrativa cinematográfica, o roteiro teatral com diálogos rápidos e a descrição pouco precisa de cenários e personagens (pois é dedicada ao público norte-americano) dão a impressão ao leitor de que Sheldon escreveu o livro sozinho, pois as aparições do estilo de Tilly no texto não são detectáveis nem aos mais perspicazes fãs da autora.

Durante todo o enredo, não há personagem que chame a atenção do leitor, mas existe um motivo: são pessoas comuns ; ricas ;, mas sem qualquer outra qualidade que não seja a posição social que ocupam. Ao contrário dos romances tradicionais, neste, há uma completa ausência de virtudes. Os principais sentimentos que se demonstram são: ganância, inveja, ambição e desconfiança.

A personagem principal, Grace Brookstain, é uma jovem fútil, que não possui nada a oferecer além da beleza. Grace é mimada, ingênua, quase bobinha, e é casada com Leonard (Lenny) Brookstein, o homem mais rico de Nova York. Mas Lenny não nasceu rico. Ele levou uma vida difícil desde a infância, perdendo, um por um, todos os que amava. Esses episódios na vida do bilionário o fizeram criar ódio de todas aquelas histórias que romanceavam a pobreza.

Grace sempre foi a queridinha do papai, mas, quando ele morreu, sentiu-se sozinha em casa, convivendo com as irmãs invejosas. Depois da perda do pai, Grace reconheceu em Lenny, muitos anos mais velho, a figura paterna que faltava nela. Pouco tempo depois, tornou-se, além de órfã, viúva. E precisou encarar um tribunal, em que o promotor, o juiz e os jurados queriam-na a cabeça, e ela contava, apenas, com o apoio de John Marrivale.

John é único personagem cujo caráter é essencialmente bom. Gago, tímido e feio, ele demonstra uma qualidade muito rara em um momento de bastante instabilidade econômica nos Estados Unidos ; a crise de 2008/2009. Depois da morte do amigo (e ex-patrão) Leonard Brookstein, John demonstra uma lealdade canina à memória de Lenny, sendo o único a apoiar a viúva durante os julgamentos de desvio de dinheiro de investidores do fundo que pertencia ao ex-patrão.

O livro é previsível desde o prólogo. As pistas que o autor sugere estão sempre entre uma coisa e outra, e a hipótese que acaba se concretizando geralmente é a menos improvável. Deixando o leitor acostumado a saber o que vai acontecer no capítulo seguinte. Há outros problemas no livro, como o uso de palavrões e vocabulário chulo, quase sempre com conotação sexual. A repetição de palavras, pela falta do uso de sinônimos, às vezes irrita, pois há vocábulos que chegam a aparecer duas vezes na mesma frase.

Quem se desencantar com o egoísmo, a desonestidade e a completa falta de escrúpulos dos personagens de Depois da Escuridão devem se lembrar: não há, nesta obra de Sheldon e Tilly, um único sentimento, bom ou ruim, que não habite em cada pessoa no mundo. E essa é uma das morais do livro: ninguém é só bom ou mal.

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