Ela ainda guarda com carinho folhas avulsas de cadernos do passado com suas impressões sobre a vida. Um voo de borboleta, a primeira menstruação, a morte de um amigo. Na vida de Isolda Marinho, tudo é inspiração. ;A poesia me faz tão bem que me nutre, me alimenta. É como uma companheira de todas as horas; posso dizer que ela me salvou;, diz, com a segurança de quem escreve desde os 14 anos.
O filho mais velho, Gabriel, de 20 anos, herdou da mãe a necessidade de imprimir na arte as crônicas de sua vida. E a habilidade que une mãe e filho será exposta hoje, às 19h30, com a leitura dramatizada dos textos pelo ator e diretor J. Abreu (Jones Schneider, que acaba de mudar o nome artístico), a partir das 19h30, no projeto Quinta Crônica, no Auditório do Centro de Formação da Câmara dos Deputados (Cefor).
Na edição de hoje, além das leituras da obra de Isolda e Gabriel, o músico Alex de Souza executará composições de Djavan e também falará sobre métodos de criação, as influências musicais e contará histórias pessoais do cantor e compositor alagoano. A escolha do artista teve o dedo de Isolda, que assim como Djavan, é de Maceió. ;Sugeri o Djavan pela nossa origem. Temos amigos de infância em comum;, diz a poetisa, formada em letras e funcionária da área de fotografia da Câmara.
Dividindo a vida de escritora com o exercício do funcionalismo público, Isolda Marinho consegue agora manter em equilíbrio as duas carreiras, superando os conflitos pela dupla jornada. Mas nem sempre foi assim. Durante 12 anos, trabalhou editando textos do jornal da Câmara. ;Chorava todo dia;, recorda-se. A tristeza não comprometeu seu processo criativo. Pelo contrário, Isolda acredita que as dificuldades ajudaram a reforçar a poesia dentro dela.
;Lancei meu primeiro livro em 2000; a tristeza me fez poetizar com mais gana. Só me arrependo de ter colocado a tevê na sala;, brinca, para, em seguida, explicar que até mesmo em seu trabalho ; mais rígido e formal ; conseguiu, muitas vezes, exercer a criatividade.
Há três anos, na época com 17 anos, Gabriel escreveu seu primeiro livro ; O mundo sem fim ; ganhador do Prêmio do Movimento Orgulho Autista Brasil (categoria livro), no fim do ano. Estudante de cinema, ele já tem cinco romances escritos; dois deles estarão à venda hoje. Mas, para a performance do Quinta crônica, os trechos dramatizados foram retirados de desabafos,
rabiscados em folhas soltas.
A intenção de Gabriel foi ser o mais claro possível, não dando margem a ;mensagens desconectadas do todo, retiradas do sentido global;, explica o autor que desde menino acostumou-se a expressar-se por meio da arte. ;No cara a cara, sempre tive dificuldade em fazê-lo;, admite o artista que, atualmente, prefere pensar que viver de arte não é impossível.
Na faculdade de cinema, o artista também se sente à vontade e parece ter, finalmente, encontrado sua turma. ;Larguei jornalismo, pois não me encontrei ali. No cinema, posso ser criativo; sinto-me útil. Tenho colegas peculiares, e pessoas que respeitam minhas ideias;, completa, maduro e pronto para realizar mais um sonho. E sua mãe ; companheira de estrada ; estará lá, para lhe acompanhar.
Incentivo à leitura
O Quinta crônica, que funciona desde 2009, está em sua 8; edição. Nasceu pelas mãos do ator e diretor J. Abreu um ano antes (Terça crônica), no mesmo formato ; uma espécie de talk show ao vivo ; feito no palco do Teatro Goldoni, nas cidades de Taguatinga, Ceilândia e na Feira do Livro de Brasília. Levado para a Casa Legislativa, manteve o mesmo estilo e a proposta de revelar cronistas e músicos da cidade. Pelo projeto, já foram lidos textos de cronistas nacionais, como Luiz Fernando Veríssimo, e locais, como Conceição Freitas. Dentre os músicos brasileiros interpretados por Alex de Souza, estão Tim Maia e Caetano Veloso.
Letras femininas
Uma das vantagens de se viver em uma cidade como Brasília, repleta de embaixadas, é o contato que a população pode ter com culturas e ideologias de diversos países. Para a Embaixada da República Tcheca, aproveitar essa oportunidade é de extrema importância. Com objetivo de fomentar essa divulgação cultural, o órgão, em parceria com a Editora Thesaurus, lança hoje, às 19h, o livro Elas escrevem, no auditório do Instituto Camões, localizado na Embaixada de Portugal.
A obra reúne contos de 20 escritoras tchecas, entra elas Anna Zonová, Hana Andronikova e Iva Pekárková, essa última responsável por coordenar o trabalho das outras autoras. Para o embaixador Ivan Jancalek, o evento vai além de simples divulgação cultural. ;Essa ideia surgiu pois queríamos promover a cultura tcheca, mas também para contribuir com a afirmação das mulheres no Brasil. Lá em nosso país também investimos na vida social delas;, explica.
Organizada por Radim Kopác e traduzida por Martina Malechová de Andrade, a antologia contempla diversas fases da literatura do país. Entre as autoras, quatro nasceram antes da década de 1960, nove entre 1960 e 1968 e somente sete depois da Primavera de Praga (período de liberalização política daquela região durante sua dominação pela União Soviética, após a Segunda Guerra Mundial).
Quinta Crônica
Hoje, às 19h30, no Auditório do Cefor (Via N3 ; no Setor de Garagens Ministeriais Norte ; Complexo Avançado da Câmara dos Deputados ; atrás do anexo do Ministério das Comunicações ; Bloco B. Informações: 8153-8707). Entrada franca. Classificação indicativa livre.