Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Taumaturgo Ferreira ganha cada vez mais destaque em Ribeirão do Tempo

Taumaturgo Ferreira ficou marcado por seus tipos mais irreverentes na tevê. Mesmo tendo estreado como o sério Dr. Horácio em Divinas & Maravilhosas, na Tupi, há 37 anos, foi apenas como o divertido Urubu, na minissérie Anos dourados, que a carreira desse paulistano de 54 anos começou a ser definida por tipos mais simpáticos. Atualmente na pele do bêbado Querêncio, em Ribeirão do Tempo, na Record, o ator vive um alcoólatra carismático, que ganha cada vez mais destaque na história de Marcílio Moraes desde que virou herdeiro da falecida milionária Madame Durrel (Jacqueline Laurence). ;Poderia estar em outra emissora ganhando um salário maravilhoso, mas parado, sem ser chamado para nada. Na Record, os diretores querem você, fazem com que você se sinta querido;, avalia.

De bem com a vida

Imaginava que Querêncio fosse crescer tanto na trama?
Sempre espero que cada papel que faço cresça muito. Aguardava por tudo isso. Faz tempo que não via uma novela tão bem escrita. Mesmo quando meus personagens têm poucas linhas na sinopse, sempre tenho de acreditar que amanhã vão falar: ;Agora vamos colocar novelas brasileiras no Oscar! Vamos concorrer com Brad Pitt, George Clooney; (risos). Sempre espero o máximo. Não é uma questão de ser pretensioso, mas sempre acho que meu papel é o protagonista. É uma questão de entrega e vontade de fazer bem feito. Se for para a Seleção Brasileira e ficar no banco de reserva a Copa do Mundo inteira, acho que vou entrar no último minuto para fazer o gol decisivo.

O gol do Querêncio seria o fato de ser um bêbado, mas sem o cansativo didatismo do politicamente correto sobre o mal causado pelo alcoolismo?
O maior gol foi pegar um texto que me inspirasse 80%. Quando o autor é bom e tem uma história densa para contar, o personagem já vem escrito. Com ele, não preciso colocar um caco, nada. Sempre crio coisas engraçadas, palhaçadas. Mas, neste caso, acho que atrapalharia. Para ele, me inspirei em alguns amigos. Também acho genial o personagem João Canabrava, do Tom Cavalcante. Mas ninguém aguenta um bêbado daqueles por mais de cinco minutos no ar. Sempre fazemos bêbados com uma tendência ao exagero. Não dá para ter uma voz enrolada por 200 capítulos que fica um saco. O legal dele é falar tudo na cara de todo mundo. Na sociedade, temos de representar o tempo inteiro, ser legal com um e com outro, ser político. As pessoas se identificam com um cara espirituoso, que fala a verdade na cara das pessoas.

Você também bebe muito?
Não bebo, não gosto de beber. Acho chata aquela coisa de entornar. Bebia quando era garoto. A bebida que gosto é milk-shake de chocolate. Se pudesse, tomava todo dia. Gosto de bebida doce, de Coca-Cola. Você pode me dar o vinho ou o champanhe mais maravilhoso do mundo que eu vou achar gostoso, mas não vou tomar com prazer. Geralmente, todo bêbado é meio chato, pegajoso ou agressivo. Quando soube que ia fazer a novela, comecei a reparar em todos os bêbados em filmes, misturando todos até ficar bacana. Ninguém quer ficar caricato.

Você é artista plástico, como Querêncio. Como foi essa composição?
Na sinopse, ele mexia com esculturas. O (diretor) Edgar (Miranda) sabia que eu pintava e gosta dos meus quadros. Ele combinou com o Marcílio de ele virar pintor. No começo, pintava num estilo meio naif. Quando ele fez o quadro da Madame Durrel, o trabalho já era mais acadêmico, clássico, requintado. O bom é que quando faço cenas de pintura, tenho intimidade total com a tela, fico bem à vontade.

Seus personagens na tevê, desde Urubu, são sempre leves e engraçados. A que atribui isso?
A uma graça divina. Procurei isso na minha vida. Adoro atores fortes, como o Anthony Hopkins. Mas sempre gostei de ser palhaço quando era garoto, de fazer meus amigos se divertirem. Há muito tempo não faço gracinhas, mas procurei isso na minha carreira. Os papéis engraçados foram vindo naturalmente. As pessoas esperam de mim um papel cômico, algum caco...