Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Reforma do Cine Brasília depende de trâmites burocráticos entre GDF e MinC

A mudança de governo no GDF é a esperança para que a tão urgente reforma do Cine Brasília salte do campo das especulações e promessas. O clima de otimismo transmite a sensação de que a sonhada recuperação definitiva do espaço pareça estar bem próximo de sair do papel. ;Acredito que o destino do Cine Brasília esteja definitivamente selado.;

A declaração é do ex-coordenador e consultor de curadoria do Festival Fernando Adolfo durante o seminário ABCV Convida, organizado pela Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo (ABCV), no Hotel Kubitschek Plaza, aponta para a solução do descaso do patrimônio público.

Para tanto, é preciso que seja assinado um acordo de gestão compartilhada entre Governo do Distrito Federal (GDF), Ministério da Cultura (MinC) e cooperação técnica da Cinemateca Brasileira (sediada em São Paulo). Ainda não existe previsão de quando o acordo será fechado. Segundo o coordenador geral do Festival, Sérgio Fidalgo, o processo encontra-se na Procuradoria- Geral do Distrito Federal (PGDF). Existe a possibilidade de que o Cine Brasília fique fechado após o término do Festival.

A proposta é gestada desde 2003, durante a atuação de Orlando Senna como secretário do audiovisual do MinC e prevê, entre outras medidas, a execução completa do projeto original feito por Oscar Niemeyer (contendo inclusive a construção de uma galeria comercial, anexa ao edifício), que até hoje não foi colocada em prática.

O avanço das negociações de assinatura do acordo foram prejudicadas pela crise do GDF durante o ano de 2010. A transição de governos (federal e distrital) ainda causa indefinição no processo. ;Uma sugestão é que depois dessa edição do festival seja formada uma comissão com membros de várias instituições e sociedade civil para encaminhar as propostas do acordo para o novo governo. É importante que alguém da transição do GDF participe dessas reuniões;, sugeriu Ana Paula Santana, diretora de programas e projetos audiovisuais do Ministério da Cultura (MinC) e uma das autoras do projeto.

Cineasta e membro da ABCV, Dirceu Lustosa analisou a revitalização pelo ponto de vista da evolução tecnológica de projeção, com perspectiva de inclusão do digital na mostra competitiva de longas e curtas do Cine Brasília: a atual mostra em película 35mm. Se isso acontecer, há possibilidade que o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro sofra mutações severas. ;É certo como dois e dois são quatro que se a competitiva no Cine Brasília passe a englobar o digital, o número de inscrições aumentará muito. Como fazer para selecionar apenas seis longas no meio de um número tão grande de inscrições? Os dias de realização terão de ser extendidos? Como será o Festival daí para a frente?;, indagou Lustosa.

CRÍTICA - VIGIAS ***

S[FOTO2]ingelo retrato
; Ricardo Daehn

À distância, um dos protagonistas do documentário de Marcelo Lordello, na condição de porteiro, percebe o hiato em relação a uma prostituta observada: ;O suor dela é outro;, ele diz, sem exercer preconceito. Atrelado a essa mesma subjetividade, de notar a integridade do outro, Vigias mergulha num cenário singelo, sob o risco de corroborar uma visão magnânima daquilo que, apressadamente, nos remete a universo simplório.

Nascido em Brasília, Lordello, com olhar habilidoso, traz um produto pernambucano autêntico que, sem maquiagem, mapeia um microcosmo solitário dos profissionais que contam com a companhia do cigarro, do radinho de pilha e, em geral, de uma cadeira de plástico. Desprovido de artimanhas ou da necessidade de caçar personagens de exceção ; surpreendes ou divertidos ;, Vigias chega com fundamento cru. Vale a perspectiva dos profissionais enfocados: há desde o tipo insatisfeito com a falta de reconhecimento até aquele conformado ;com o que Deus deu;, passando pelo sistemático seu Ary desconfiado, a todo momento, da rotina (com padrão de militar).

Seres programados a trocar o dia pela noite, os vigias do filme chegam destituídos da pose de herói, mais colados a limitações: ;não podem fazer a feira como merecem;, duelam contra o natural sono e não dispõem de recursos para a autodefesa. Mesmo que o foco de Vigias, por vezes, ameace desmoronar ; como nas deslocadas discussões em torno da especulação imobiliária à beira-mar ;, o longa de final alongado permanece de pé, ainda que sob o amparo de raquítico orçamento de R$ 27 mil.

É um cinema que faz jus ao batismo da empresa produtora, a Trincheira Filmes. Atrelados a uma dedicação canina, os vigilantes reafirmam, de forma textual, a condição ;humana;. Um esforço redundante, diante de tanta lucidez de pensamento, ao, por exemplo, relativizarem o mundo de posses dos condôminos sob suas asas.