Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Ex-Engenheiros do Hawaii, Maltz embarca na literatura com ficção filosófica

Admirável mundo novo (1932), a antevisão do escritor inglês Aldous Huxley sobre um mundo desumanizado pela tecnologia, encontrou uma espécie de continuação décadas depois, e pelas mãos de um brasileiro. Carlos Maltz, primeiro baterista e um dos fundadores da banda de Porto Alegre Engenheiros do Hawaii, estreia na ficção com Abilolado mundo novo. ;É como um daqueles livros de filosofia antigos, escrito todo em diálogos, só que se passa na internet, saca?;, revela.

Hoje astrólogo e dono de consultório na 412 Norte, Maltz confessa que a experiência musical contribuiu para a construção da narrativa. ;Diálogo é música, ritmo, escuta, fala. Eu gosto de banda porque banda é diálogo. Com a minha vivência na banda, aprendi o que é diálogo, esse conhecimento que a gente constrói junto, aprendendo a ouvir, respirar junto;, observa. O livro será lançado hoje, na Livraria Cultura do Shopping CasaPark (SGCV Sul, Lt. 22), às 17h, com pocket show do autor, e às 18h, em sessão de autógrafos.

Abilolado mundo novo descreve o fim ;de; um mundo, não o fim ;do; mundo, explica Maltz. Para ele, que não se diz nem otimista nem pessimista ;e muito menos gremista;, brinca, o mundo está em deslocamento. ;Estamos saindo de um período de tempo e entrando em outro. Fim do mundo de peixes e começo do mundo de aquário, mas qualquer um que tenha meio olho pode ver o estado deplorável de decadência moral, cultural, e etc. e tal, em que nos encontramos. Nossa civilização não tem mais mitos nem símbolos vivos. Somos um bando de zumbis sem sonhos. Esse é o fim de um mundo, a morte de uma civilização;, analisa. E profetiza: ;Quem tem um olho também pode ver um outro mundo, um outro paradigma científico, religioso, geopolítico, cultural que está começando a botar a cabecinha de fora;.

O mundo em duas rodas
O motociclista G. Gaitero, pseudônimo de Gláucio Braga Assis, possui diversas paixões. Além das motocicletas, o brasiliense de 45 anos divide as horas vagas entre outros dois prazeres: as estradas e a escrita. Como resultado deste mix de atividades, surge seu segundo romance De homens de motos e os poemas do fim do mundo, distribuído pela Ixtlan. O lançamento, que acontece hoje no Clube 904 (904 Sul), às 21h, recebe o blues e o rock estradeiro de Engels Espíritos e banda, além de fotos da Patagônia e da Terra do Fogo, tiradas por Zael Batalha. ;O nome do livro vem justamente desses lugares, que também visitei e que ficam no fim do mundo;, explica.

Ainda menino, o escritor residiu em diversos locais do DF, como Guará, Asa Norte e Cruzeiro. Filho de servidor público, cresceu como classe média, mas jamais deixou de lado o prazer que obtinha das estradas. ;Já fui mochileiro e viajei pelo Brasil, pela América do Sul e a Europa. Já peguei muita carona, trem e caminhei muito;, relembra. Porém, o gosto por escrever sempre esteve presente em sua rotina, por intermédio de quadrinhos, poemas e contos. ;Enquanto todos praguejavam contra a redação na prova, eu adorava;, declara. A paixão pelas motocicletas apareceu em seguida. Para Gláucio, as motos vão além de um simples meio de transporte. ;São rápidas, eficientes para o dia a dia e ainda me levam para onde quero, sempre com vento no rosto e coração alegre;, destaca.

Após acumular ao longo da vida diversas atividades distintas (foi de apicultor a treinador de golfinhos em show itinerante), o escritor atua como chefe de segurança no Tribunal Federal Regional (TRF). Quando pode, deixa o terno e a gravata exigidos pelo serviço para montar em sua Suzuki Boulevard M800. ;Sempre tive sede de andar! De ônibus, carro ou carona, sempre estava visitando alguma comunidade alternativa ou conhecendo algum parque nacional;, relata.


Para ele, o material pode ser considerado um road book (termo em inglês para livro de estrada), já que foi baseado em uma de suas viagens. ;Ela é composta por duas partes: um romance de aventura e outra documental, com fotografias da expedição, chamada de Xshuaia 2009;, conta ele, que faz questão de enfatizar que visitou todos os lugares que menciona na obra.