Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Peça em cartaz no CCBB remete a bairro da prostituição em Amsterdã

O ator Rafael Primot sempre quis trabalhar com a diretora Monique Gardenberg. Um dia, um amigo lhe mostrou um texto do dramaturgo norte-americano Adam Rapp. Foi a chance para se apresentar a Monique, responsável pelos longas Jenipapo, Benjamim e Ó paí ó e por peças como Os sete afluentes do Rio Ota e Baque. ;Achei o texto muito contundente e a minha cara. Mas usei a peça como uma desculpa para me aproximar da Monique porque sempre acompanhei o trabalho dela no cinema e no teatro;, conta Rafael, que ficou conhecido por interpretar o cabeleireiro gago Ícaro, na novela Bela, a feia. O texto em questão era o Inverno da luz vermelha, que foi indicado ao prêmio Pulitzer, e será encenado de hoje (quinta-feira) a 19 de dezembro, no Centro Cultural Banco do Brasil (hoje, somente para convidados).

O espetáculo conta a história de dois amigos. Matheus (Rafael Primot) é um escritor depressivo e tímido, que sofre uma desilusão amorosa. David (André Frateschi), um cantor pop, com fama de machão. Os dois decidem fazer uma viagem até Amsterdã, na Holanda, e lá conhecem a prostituta Christine (Marjorie Estiano), no famoso Bairro da Luz Vermelha (Red Light District). ;Gosto dessa peça porque ela fala das relações contemporâneas, da dificuldade de se relacionar, um tema bem atual. Meu personagem acaba sendo um alterego do Adam Rapp. Ele passou por uma situação bem parecida e precisava contar essa história para os outros;, comenta Rafael.

Como o texto foi escrito por um homem, Rafael Primot, que também é autor (ganhou o Prêmio Shell pelo espetáculo O livro dos monstros guardados), achava que seria interessante equilibrar esse jogo. Por isso, optou por uma direção feminina. ;Para não ficar parecendo aquela coisa machista, achei legal ter o olhar da mulher. Não só da Monique, mas também da nossa codiretora, Michele Matalon, que tem um papel fundamental no resultado da produção;, diz.

Interpretação

Monique Gardenberg resolveu focar nos atores e foi em busca de profissionais que dessem a profundidade e a densidade que o texto pedia. ;No teatro, ou você consegue atingir um grau de identidade muito grande, ou vira algo irrelevante. A peça lida com questões aparentemente banais, mas no fundo, discute a busca incessante do homem por se sentir amado. É bem atual mesmo;, observa a diretora.

Ela chamou Marjorie para interpretar Christine porque já a conhecia da tevê e precisava de uma atriz que cantasse. ;Marjorie tinha ao mesmo tempo muito medo e atração pelo papel. Mas se jogou mesmo, nós a ajudamos a se preparar e o resultado ficou fascinante;, conta Monique. André Frateschi, segundo ela, também se encaixou muito bem no papel do manipulador David, ;um vilão muito charmoso;. ;É um personagem muito difícil porque a plateia precisa gostar dele para entender a paixão da prostituta por David.; Já Mateus, papel de Rafael Primot, ;é aquele rapaz sensível, totalmente vítima, um escritor e roteirista que vive isolado no seu próprio mundo. Ele é quase um deprimido e a sua graça é o seu intelecto. O interessante é que o Rafael é escritor de teatro, roteirista e então há essa identificação;. O cenário é de Daniela Thomas, e a iluminação, de Maneco Quinderé.

INVERNO DA LUZ VERMELHA
De sexta-feira (26/11) a 19/12, no Teatro I do CCBB Brasília (SCES Tc. 2 Lt. 22; 3310-7087). De quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h. Ingressos: R$ 15 e R$ 7,50 (meia). Não recomendado para menores de 16 anos

Confira trechos do espetáculo