Eles eram adolescentes quando fizeram parte da Banda Sinfônica de Brasília, que formou artistas de 1968 a 1985. E mesmo após um intervalo de 25 anos, um grupo de músicos que não se via há muito tempo vai voltar hoje à noite com o mesmo entusiasmo juvenil para se apresentar na Escola de Música de Brasília (EMB). Não é um retorno definitivo, mas um reencontro de amigos e ex-companheiros.
;Quando me falaram desta ideia de reunir o grupo, achei fantástico, mas pouco provável. Muitos dos músicos que fizeram parte da banda nem tocam mais. Como iriam reunir pessoas que moram em diferentes lugares pra ensaiar? Está sendo uma agradável surpresa e nunca imaginei que pudesse ter sido tão importante e para tanta gente;, confessou o maestro Reynaldo da Fonseca Coelho, de 73 anos, fundador da sinfônica.
Desde1995, quando se aposentou, o regente não abria uma partitura. Morando no interior do Rio, ele veio a Brasília só para participar do concerto. ;Sempre gostei de desafios, e, ao longo dos anos que regi a banda, a gente sempre se deparou com eles. Hoje, neste concerto de reencontro, será a mesma coisa e estou muito entusiasmado. Não só eu, como todos os músicos;, comentou.
A ideia do reencontro do grupo que fez história na música brasiliense foi do trombonista Marcos Wander. Integrante da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, ele vai defender sua dissertação de mestrado cujo objeto de estudo é justamente a Banda Sinfônica. ;Sempre ouvi falar muito bem da banda. Que os principais músicos da cidade tinham passado por ela. Era uma referência e, por isso, decidi resgatar parte da memória musical de Brasília, antes que ela se perca;, justifica.
Wander, com o casal de músicos Maria Cristina Goretti (flauta) e Roberto Leão (trombone), que se conheceram quando ainda eram adolescentes e tocavam na banda, sabia da tarefa difícil de reunir gente vinda de vários cantos do país, já que muitos não residem mais na capital federal. Porém, surpreendentemente, a grande maioria topou, mas alguns até ficaram de fora devido a compromissos profissionais. ;Cerca de 70 músicos que passaram pela banda vão se apresentar e outros ainda estarão na plateia assistindo. Os ensaios já foram uma grande festa. Pareciam adolescentes e o ápice vai ser mesmo durante o concerto;, revela Marcos Wander.
Outros caminhos
Alguns dos integrantes da sinfônica brasiliense deixaram a música de lado e tomaram outros caminhos, como é o caso do tenente-coronel da Polícia Militar Leobertino Rodrigues Lima Filho. Durante três anos, ele foi clarinetista na Banda Sinfônica e mesmo com a extinção do grupo, em 1985, ele continuou tocando. Até que em 1990, quando passou no concurso da PM, se viu obrigado a abandonar as notas musicais para se dedicar à carreira militar. ;Tive que estudar bastante para poder tocar com eles novamente, porque eu estava há muito tempo parado. Mas a gente não esquece; tem é que praticar. Muito do que aprendi na banda, como a harmonia para se trabalhar em grupo, a disciplina, as responsabilidades, eu aplico hoje na minha corporação;, destaca.
O professor Roberto Leão também não atuava na música há um bom tempo e estava se dedicando só à educação física. O reencontro com os ex-colegas despertou a vontade de tocar trombone novamente e ele já está com a agenda cheia de concertos e apresentações. ;Grandes músicos da cidade passaram por aqui. Gente que é doutor, chefe de departamentos de música em outros estados e até em outros países. Essa volta estimulou não só a mim, como outros. Quem sabe não realizamos mais concertos com essa turma?;, anseia.
Um dos que vieram de outros estados só para se apresentar com os amigos é o trompetista Ayrton Benck, que mora há muitos anos em João Pessoa. Solista na apresentação de logo mais, o artista, um dos mais requisitados em sua área no país, está com a agenda repleta, mas fez questão de retornar à cidade natal só para fazer parte do encontro. ;É uma emoção muito grande. A banda ainda é uma referência de sopro até hoje, não só em Brasília, mas em vários lugares. Você imagina como foi ser sabatinado novamente pelo professor que me sabatinou quando eu tinha 13 anos de idade. O frio na barriga é o mesmo e isso que é o mais interessante;, destacou.
Virtuoses
A Banda Sinfônica de Brasília começou a funcionar em 1968 na Escola Parque (307/308 sul). Com a inauguração da Escola de Música de Brasília, em 1974, o maestro Reynaldo da Fonseca Coelho foi convidado a se transferir, com seus alunos para a sede da EMB. A Sinfônica brasiliense chegou a conquistar, em 1978, o 1; lugar no Concurso Nacional de Bandas promovido pelo Instituto Nacional de Música, da Funarte. Por falta de apoio e por motivos financeiros, ela foi extinta em 1985, mas boa parte de seus alunos se tornaram grandes músicos, que estão fazendo carreira no Brasil e até no exterior.
Concerto de reencontro da Banda Sinfônica de Brasília
Hoje, às 20h, no auditório da Escola de Música de Brasília (602 Sul). No repertório, peças de Villa-Lobos, Hino nacional brasileiro, Mendelssohn, Franz Liszt, entre outros. Entrada franca. Classificação indicativa livre.