A chave para entender o romance de estreia de Vinícius Castro está, em boa parte, solta em frases e pensamentos dos próprios personagens de Os sinais impossíveis. Como em um determinado momento que João ; personagem que, junto de Luísa, protagoniza o casal que conduz a narrativa ; troca mensagens pelo celular com um amigo. ;Eles descobriram antes dos 15 anos que a forma mais viável de se manter a sanidade diante dos movimentos absurdos do mundo era praticar com frequência todo tipo de verificação e acordo, confirmar com alguma outra pessoa o quanto aquilo tudo era maluco e assustador. Pingavam ao longo do dia citações inacreditáveis de algum professor ou colega, de algum programa de televisão ou jornal;.
O livro Os sinais impossíveis, que será lançado hoje, às 19h, na livraria Saraiva do Pátio Brasil, aborda personagens que beiram a superficialidade e situações banais, mas sua narrativa aponta em outra direção. Em meio a festas, discussões sobre futebol, blogs e outros temas mais ou menos empolgantes, e tratados com certo distanciamento, a juventude retratada por Vinícius Castro olha o mundo com um bocado de desdém. Nele, o leitor visita uma faceta um tanto quanto niilista da geração atual, e sua maneira de se relacionar com o mundo e entre si.
Esquisitices da alma de uma turma de 20, 30 anos, que ainda não está bem retratada no cenário literário brasileiro: o jovem adulto de Brasília. E é isso que o autor, de 22 anos, nascido e criado na capital, busca explorar, em parte. ;O romance se passa em Brasília, propositalmente. Nossa realidade não está registrada, capturada. Existem muitos romances que têm como pano de fundo o Rio, São Paulo, mas não conheço esse mergulho feito aqui;, diz o autor, que reforça, no entanto, que seu romance não pretende ser uma análise conclusiva da juventude da cidade. Longe disso. ;Não busquei ser didático, nem fazer um juízo de valor. Apenas fiz um recorte, tentando ao máximo me ausentar. Quero que cada um faça sua própria leitura;, destaca o autor.
Fragmentos
Vinícius Castro começou a construir sua obra literária há dois anos. O livro foi surgindo de fragmentos de um conto, feito anteriormente. Aos poucos, a narrativa foi crescendo e se tornando inteira, orgânica. ;No primeiro romance temos a tentação de jogar no texto tudo o que sabemos, de traduzir nossa experiência e jogá-la inteira. Aos poucos fui organizando o texto até entender a voz que buscava encontrar;, explica o autor que, apesar de cursar direito na Universidade de Brasília (UnB), sente-se cada vez mais confortável no terreno da literatura.
TRÊS PERGUNTAS PARA VINÍCIUS CASTRO
Sinais fala da juventude brasiliense. Quais as características dessa geração? Seu livro é autobiográfico?
Espero que ele fale a todos, minha intenção não era ser autobiográfico. Não gosto de escrever sobre coisas da minha vida, mas como a minha imaginação não é tão prodigiosa, falo de coisas ao meu redor. Invento a partir do que conheço e reconheço personagens reais ali. Eles foram mesclando características de várias pessoas. Acho que somos uma geração mais irônica, que tem dificuldade em falar sobre sentimentos e lida diariamente com uma sobrecarga de informação.
Você lê muito? Que tipo de literatura te atrai?
Sim, leio muito. Leio de tudo. Clássicos, renascença, vitoriana, moderna, contemporânea, autores americanos, poesia, teatro, ficção, romance. Até mesmo crítica literária. Acho que se não tivesse feito direito, teria ido para o curso de letras. Atualmente, estou terminando Dom Quixote.
Você é conectado ao mundo virtual?
Faz parte da cultura da nossa geração usar essas ferramentas tecnológicas e fiz muitos amigos em comunidades como as do Orkut e do Facebook, como críticos, leitores e outros escritores. Acho que a internet aumenta as possibilidades de formarmos redes, de nos unirmos a pessoas interessadas em um mesmo assunto. Não tinha o hábito de escrever até os 15 anos. Quando criei o blog foi algo muito particular; e, de fato, tinha constrangimento de escrever ali. Depois veio o livro e também, talvez por timidez, demorei a revelar que estava escrevendo. Mas é difícil você guardar esse tipo de segredo. Quando admiti que estava fazendo um livro, pensava nas situações emocionais e narrativas dele na sala de aula, no trânsito, fiquei completamente imerso naquilo.
Trecho do livro Os Sinais Impossíveis, de Vinícius Castro
"Nada foi dito, mas quando entraram no quarto sabendo que não haveria ninguém por perto por algumas horas, a coisa se anunciou bem claramente; pesou o quarto todo de um humor que não mais se reverteria, o ar todo instrumentalizado num mesmo sentido. Ele riu meio nervoso e ela sentou na cama, de frente para ele. A antecipação era incrível, embora ele houvesse tomado cuidado por não manifestá-la além do apropriado. Eles estavam juntos havia mais de duas semanas.
Apesar da experiência limitada, João já era confortável o bastante com sexo para endereça-lo naturalmente com naturalidade, poder lidar com todos os seus lados da mesma forma. Diferentemente de Luísa, que parecia entendê-lo como uma quebra, um ritual com formas específicas de começo e fim"(..).