Faltava ainda uma hora para o começo da apresentação do bailarino Mikhail Baryshnikov, 62 anos, ao lado da espanhola Ana Laguna, na noite de quarta-feira, e o foyer da Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional já estava lotado. Duas moças segurando uma garrafa de vinho cada uma chamava a atenção de quem passava por ali. Seria um agrado para o grande ídolo da dança? Não, os alvos eram outros: Plínio e Rafael, funcionários da bilheteria do teatro. ;Foi uma saga estar aqui e devemos muito ao Plínio, ao Rafael e à produção. Há praticamente um mês estamos tentando assisti-lo;, contaram bastante empolgadas as funcionárias públicas de São Paulo, Camila Benergui, 31 anos, e Poliana Andrade, 32.
Logo que viram que Baryshnikov estaria em turnê no Brasil, não pensaram duas vezes e trataram de comprar os ingressos. Porém, as sessões na capital paulista, onde moram, se esgotaram em um dia. Cogitaram o Rio. Esgotado! Porto Alegre. Esgotado também. ;Restou Brasília e Manaus. Como aqui era mais perto, tinha lugar para ficar, apesar de não ter venda on-line, a gente ligou durante vários dias para a bilheteria até conseguir. Por isso, fizemos questão de trazer um presente para os bilheteiros e agradecer. Nunca ninguém foi tão atencioso comigo e sem me conhecer;, contou Poliana, que levou um binóculo a tiracolo para observar os pés do artista.
As duas amigas paulistanas sentaram na primeira fila e, apesar da efemeridade da apresentação, que durou 80 minutos, mas teve, pelo menos, quatro intervalos, não se arrependeram. ;A gente veio hoje (quarta) mesmo de São Paulo só para vê-lo. Fiquei impressionada com as feições dele, seu vigor, apesar da idade. Foi muito emocionante. É um sonho sendo realizado;, declarou Camila.
Quem também veio de longe para ver o bailarino foi a estudante Bruna Sahão, 21 anos. Tentou assistir em São Paulo, Rio e Porto Alegre, mas como as sessões estavam esgotadas, a saída foi Brasília. Saiu de Londrina (PR), sozinha, mas não se arrependeu. ;Foi muito rápida a apresentação, mas só de vê-lo valeu a pena. Sou fã dele desde criança porque faço balé também. Então queria muito estar aqui. O último dueto foi maravilhoso;, comentou.
Lotado
Os 1.400 lugares do Teatro Nacional se esgotaram dois dias antes do espetáculo e foi necessário colocar cadeiras extras. Alguns espectadores preferiram sentar-se nos degraus da sala Villa-Lobos para poder conferir mais de perto a performance do grande astro da dança. ;Sentei lá atrás e ainda paguei o mesmo preço de quem sentou na fila A. Acho meio injusto, mas como comprei de última hora, vou fazer o quê?;, lamentou a peruana Delfina Codina, 42 anos.
Ela disse que ficou um pouco frustrada com a rapidez da apresentação e que o carisma de Baryshnikov a tocou mais do que a própria dança. ;O final, em que ele faz um dueto com a Ana Laguna, é muito bonito. Aquela coreografia em que mostra imagens dele mais jovem também é emocionante. Mas acho que vim aqui mais para ver o mito do que a dança propriamente. Foi interessante, em todo caso;, opinou.
Delfina levou a amiga, a também peruana Elvia Hembree, 36, para o programa e só ficou chateada por não conseguir trazer os filhos. ;Foi rapidinho né? Minhas filhas dançam balé, mas a gente comprou ingressos de última hora e não dava pra trazê-las. Mas fiquei encantada. Não sei quando poderei ter uma oportunidade como essa de novo;, disse. O bailarino encerra a turnê brasileira em Manaus, nos dias 14 e 15, no Teatro Amazonas.
EU FUI...
; O ponto alto foi quando ele dançou
na frente do telão com imagens dele mais jovem. Ele lida bem com essa coisa do envelhecer porque brinca o tempo todo com a própria imagem;
Júlia Horita, estudante de medicina, 20 anos