O Centro-Oeste foi a grande surpresa na categoria teatral do programa Rumos Itaú Cultural, que apoia a produção artística e intelectual no Brasil. Dos 30 projetos inscritos no edital por grupos da região, quatro foram contemplados, o que significa aproveitamento de 15% das propostas. Em segundo lugar, ficou a Região Sul, com aprovação de 10% dos projetos enviados. %u201CGeralmente, as regiões com maior número de inscritos registram maior índice de seleção%u201D, destaca a coordenadora do Núcleo de Teatro do projeto, Sônia Sobral. Mas o Sudeste, que tradicionalmente envia maior volume de propostas, incluiu 5% do total de sugestões enviadas. Esta é a primeira vez que o edital se estende a grupos de teatro e a cena do Distrito Federal será representada pelos irmãos Guimarães, o grupo Celeiro das Antas e o Teatro do Concreto. Na categoria musical, a única artista da cidade a ser agraciada foi Fernanda Cabral. E os grupos não se inscreveram sozinhos: todos tinham de propor um casamento artístico, em que deveriam trocar experiências artísticas com trupes de outros estados.
Animados com a oportunidade de conjugar experiências, o grupo brasiliense Teatro do Concreto e o pernambucano Magiluth inscreveram o projeto Do concreto ao mangue:aquilo que meu olhar guardou pra você, um estudo inspirado em fotos de Brasília e Recife. Funciona assim: a cada mês, o grupo nordestino receberá três imagens do Planalto Central, e vice-versa, e com base nessas fotos criará suas cenas. Em duas ocasiões, os grupos se encontrarão para compartilhar as cenas e organizar seminários nas duas cidades. Nos períodos de distância, a comunicação será mantida por um blog, que terá uma janela de invenção, para tratar do espaço criativo, e uma janela de gestão, voltada para questões administrativas do grupo. %u201CVocê consegue aprender muito com a experiência de outro grupo, revê posicionamentos, encontra outras maneiras, aprende com os desafios do outro%u201D, comenta o diretor e ator do grupo Francis Wilker.
Já os irmãos Adriano e Fernando Guimarães estão indo para o que chamaram de encontro às escuras. Nunca tomaram sequer um cafezinho com os cariocas da Companhia de Teatro Autônomo, mas a admiração é mútua. Os artistas de Brasília fizeram uma lista de possíveis parceiros e ali incluíram o nome do grupo do Rio de Janeiro. Pouco depois, receberam uma ligação do diretor da companhia, Jefferson Miranda, que teve a mesma ideia. O projeto, batizado de ciateatroautônomo irmãosguimarães, investiga diferentes possibilidades para uma mesma questão: a expansão das fronteiras do teatro. %u201CNosso foco é a hibridização de linguagens, o alargamento da cena, o momento em que o teatro começa a arranhar outras áreas, como a música, a literatura, as artes visuais%u201D, explicam.
Já o grupo Celeiro das Antas decidiu promover um encontro de antigas afinidades ao se inscrever com o Teatro Experimental da Alta Floresta, de Mato Grosso. A amizade começou no fim da década de 1990, quando as trupes se encontraram em um festival. O diretor do grupo candango José Regino de Oliveira ficou impressionado com o grau de sofisticação das possibilidades do grupo. %u201CEles conseguiram fazer intercâmbio com pessoas importantes da cena internacional. São rigorosos, têm uma estrutura organizada, dirigem e produzem curta-metragens, viajam pelo norte do país carregando cenários pesados. Se estivesse em Alta Floresta, eu não sei se conseguiria fazer teatro desse nível%u201D, elogia. Juntos num projeto chamado Florestas e antas %u2014 experiências teatrais, eles seguirão em busca do teatro possível para cada grupo. (MM)
PARAÍBANA CANDANGA
; A cantora Fernanda Cabral também foi agraciada com o apoio do projeto. Criada em João Pessoa, na Paraíba, ela começou a estudar piano e violino na infância. Em Brasília, ela se formou em Artes Cênicas na Universidade de Brasília e mudou-se para Madri, para continuar os estudos musicais. Depois de se apresentar com artistas da cena espanhola, ela prepara seu primeiro disco autoral, Praianos, que conta com parcerias da artista com o cantor Chico César. Fernanda também excursiona com o cantor Carlos Nuñez em turnê. Nas apresentações, ela interpreta a canção Alvorada, de Cartola. Na categoria em que se inscreveu, chamada carteira coletiva, a cantora não sabe quem a acompanhará no processo. A banda será formada por outros integrantes contemplados.
CONHEÇA O EDITAL
Os valores de patrocínio teatral podem ser de R$ 56 mil, R$ 72 mil ou R$ 88 mil, de acordo com os custos de hospedagem e os das passagens aéreas que cada grupo precisará comprar para se encontrar. A previsão é realizar, no mínimo, dois encontros, além do evento nacional, marcado para agosto do ano que vem, em São Paulo, quando todos se encontrarão. As exigências do edital são: manter um blog por no mínimo seis meses, para divulgação do andamento da pesquisa, e apresentar o fruto da parceria, que pode ser um estudo, um trabalho, uma cena ou até mesmo uma peça. Como a intenção é promover diálogo, não há obrigatoriedade de produzir um espetáculo.