Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

De Erik de Castro, Federal entra em cartaz como maior produção brasiliense

;Brasília está para Federal na mesma proporção em que a Chicago antiga está para Os intocáveis, como Tóquio está para o longa-metragem Chuva negra e como Nova York se relaciona, nas telas, com Operação França. Quis fazer da cidade um personagem para a trama policial do filme;, conta o diretor brasiliense Erik de Castro. Aos 39 anos, ele está à frente do maior lançamento de um filme local no país: com 63 cinemas de 26 cidades reservados para o longa-metragem estrelado por Carlos Alberto Riccelli, Selton Mello, Michael Madsen e a ex-Miss Colômbia Carolina Gómez.

Orçado em R$ 5 milhões, o filme ; que trata do desmantelamento de uma rede de tráfico de drogas na capital ; chega no rastro do flamejante sucesso de Tropa de elite 2 ; O inimigo agora é outro, que Erik de Castro ainda não viu. ;Pode acontecer de o Tropa 2 estimular a ida das pessoas ao cinema. Estamos apostando no nosso trabalho e torcendo para que um filme alimente o outro;, observa.

Desde sempre definido, na cabeça do diretor, como o primeiro longa de ficção que faria, Federal concretiza um sonho de juventude do diretor entusiasmado com filmes como Guerra nas estrelas, Mad Max e O exterminador do futuro. Integrado à terceira sequência desse último, o coordenador de efeitos especiais Allen Hall (de Estrada para perdição) se associou ao filme, tendo enviado dois técnicos para trabalho na cidade. ;Conseguimos fazer o roteiro chegar às mãos do Allen e ele gostou muito do projeto. Federal foi todo desenhado no storyboard e tanto Giuliano Fiumani quanto George Zamora foram fundamentais para o realismo das cenas de tiroteio. Hall foi da equipe de filmes que me inspiraram a fazer o Federal;, explica o diretor.

Os anos 1988 e 1989 foram fundamentais à gênese de Federal, com o aparecimento de duas inspirações para o longa-metragem: Os intocáveis e Chuva negra. ;Viajei na ideia de uma história policial, trabalhando a linguagem para Brasília. Foi quando pensei em personagens adaptados para a realidade brasileira. Anotava observações em qualquer canto, em cadernos de colégio, ainda na época do pré-vestibular;, relembra o cineasta.

Já focado nos futuros estudos de cinema ; Erik é formado pelo Los Angeles City College ;, ele encabeçou o programa Sábado à noite no cinema (na Rádio Cultura), ao lado do montador (e corroteirista) de Federal, Heber Trigueiro. De volta à capital, em 1994, montou a BSB Cinema Produções, investindo na abertura da trilogia sobre o Brasil na Segunda Guerra, feita com o documentário Senta a pua. ;Na escola, lá fora, abri ainda mais meu leque de referências, com a ênfase dada pelos professores a movimentos como o expressionismo alemão, o neorrealismo italiano, a nouvelle vague francesa. Tudo isso foi estudado a fundo e complementou a minha formação. Foram elementos que sedimentaram a linha de um cinema autoral, mas que envolvesse o espectador. Foi isso que busquei no Federal;, diz.

Satisfação
Selecionado para abrir o Festival de Cinema Brasileiro em Los Angeles, Federal tem animado Erik de Castro, pela receptividade presenciada em eventos como o Festival do Rio, no qual foi recentemente exibido. ;Com relação às reações ao filme, sigo uma ideia lida de texto de Maquiavel, na qual ele diz que a melhor recompensa que o artista pode ter é que as pessoas interpretem como quiserem, fazendo a crítica que bem entenderem. O filme está entregue. Estou muito satisfeito e tenho recebido reações muito positivas;, comemora o cineasta.

Tendo como alvo um público exigente (;que goste de cinema de qualidade;), o cineasta garante objetivar mais do ;que o mero entretenimento;. ;Desde menino, eu gosto dos filmes que proponham reflexão;, diz. Ainda entre as referências do novo longa estão o clássico dos anos 1970 Serpico (com Al Pacino) e o mosaico de ;personagens considerados bad guys; conferido em O segredo das joias (1950), assinado por John Huston. Entre 10 longas selecionados para participar do laboratório de roteiro do Sundance Institute, Federal contou com diferenciado aparato de produção independente: tem vendas garantidas para alguns países da Europa e para os Estados Unidos, a partir de acordos com a EuropaCorp, empresa conduzida pelo francês Luc Besson (de O quinto elemento).

Com trilha sonora original composta por Eugênio Matos e músicas produzidas por Phillipe Seabra, da Plebe Rude (que responde pelo tema The wake, versão para A ida), Federal, para além do prazer, gerou em Erik de Castro uma demanda de ;adrenalina forte, o tempo todo;. Três dublês, sob a coordenação de Alex Aquino, ajudaram a imprimir a ilusão de realidade nas cenas mais perigosas.

No longa que mescla agentes federais, ação pesada e policiais civis e militares, a relevância das imagens captadas em Brasília talvez seja o ponto de maior surpresa. ;Sempre orientei para que fosse um filme quase inteiramente feito de locações. A única cena de estúdio rodada é a do templo em que aparece o reverendo interpretado por André Amaro. O resto, tudo foi locação, fossem internas ou externas, sempre com alguma relação forte de janela, direcionada para o exterior ; isso para mostrar bem a cidade;, conclui.

FEDERAL
Filme de Erik de Castro. Com Selton Mello, Carlos Alberto Riccelli e Michael Madsen. Em cartaz no Cinemark Iguatemi, Cinemark Pier, Embracine CasaPark, Kinoplex ParkShopping e Pátio Brasil Shopping. Confira os horários no Roteiro, na página 10.