Em certa medida, a força do filme do criador do cinema-verdade é surpreendente até hoje. A obra é a principal atração da 4; Mostra Internacional de Curtas ; Os Diferentes Olhares do Mundo, que será apresentada de hoje a domingo, no Cine Brasília. O panorama é cinema que versa sobre direitos humanos. Apesar da chance única para conhecer um clássico da antropologia visual em película, a mostra, que teve curadoria do cineasta Iberê Carvalho, não se restringe a etnografias. ;A intenção era evitar o óbvio. Era interessante reunir histórias dos índios que moram na Amazônia, mas também a importância do futebol dentro da cultura argentina (tema de Las pelotas). O interessante é não se prender somente ao que é exótico, distante do nosso olhar;, reflete o curador.
Seguindo esse pensamento, um dos exemplos surpreendentes é o canadense D;une rive à l;autre em que a diretora Maxime Desmons faz um curioso exercício de análise de preconceitos ao retratar o amor interracial entre duas mulheres. ;No caso desse filme, especificamente, o conflito não é a homossexualidade dos personagens, mas o fato de que uma delas estaria traindo as tradições africanas ao ficar com uma mulher branca;, observa.
Mas nem só de filmes estrangeiros se faz uma mostra internacional. Dois títulos brasilienses estão entre os selecionados para a mostra. Rap, o canto da Ceilândia, de Adirley Queirós, melhor curta em 35mm do 38; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, e A noite por testemunha, de Bruno Torres (leia quadro). ;A ideia é que cada sessão tenha um clima, uma atmosfera. Às vezes dialogando, às vezes contrapondo. Nós sempre tentamos incluir títulos da cidade que dialoguem com o tema proposto, ma que não se limita a curadoria;, acrescenta Carvalho.
; HORA DE REAGIR
; Recém-eleitos, os deputados distritais petistas Arlete Sampaio, Cabo Patrício, Chico Leite e Wasny de Roure e os deputados federais do PT Érika Kokay e Paulo Tadeu e José Antonio Reguffe, do PDT, já têm compromisso firmado. Assinaram o ;manifesto público em defesa do patrimônio cultural de Brasília;, proposto durante o abraço simbólico no Cine Brasília, em 9 de setembro. Encontro realizado na última quarta-feira à tarde, na Câmara Legislativa, reuniu outros defensores da cultura e parlamentares preocupados com a situação de abandono do cine e de outros espaços, como a Biblioteca Nacional, Centro de Dança do DF, Museu da Cidade, Teatro Nacional, Casa do Cantador, Espaço 508 Sul, Torre de TV, entre outros. Políticas para evitar tal deterioração, escolha dos dirigentes mais capazes e comprometidos com o setor e a consequente ;administração profissional em todos os equipamentos culturais; são os três pontos que a sociedade pode exigir a partir do ano que vem.
POR QUE ASSISTIR
HOJE
Madagascar, arnet de voyage (2009)
francês Bastien Dubois descreve um diário de viagem por Madagascar feito com a mistura entre animação e documentário.
Rap, o canto da Ceilândia, de Adirley Queirós (2005)
A primeira produção da CeiCine usa como mote os versos do hip-hop para falar do surgimento e a exclusão social que opera na maior cidade-satélite do Distrito Federal.
Os mestres loucos, de Jean Rouch (1955)
O curta anticolonialista de Rouch tratou com olhos de observador o ritual de possessão dos haouka muito antes da publicação do lançamento do livro A interpretação das culturas, de Clifford Geertz. Significou uma quebra de paradigma no documentário etnográfico de então.
AMANHÃ
Procurando Madalena (2010)
A congada do Espírito Santo, uma das mais tradicionais do Brasil, é apresentada neste documentário praticamente inédito no país.
DOMINGO
A noite por testemunha, de Bruno Torres (2009)
Ao contrário do que fez parecer o sensacionalismo midiático nacional que cercou o assassinato do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, em 1997, uma geração de jovens brasilienses ficou abalada diante da barbárie. Bruno Torres é dessa geração e decidiu se concentrar numa história sobre culpa universal.
Karai norte, de Marcelo Martinessi (2009)
Todo falado em guarani, esse filme paraguaio usa a história da moradora de uma das regiões mais ermas daquele país para falar de uma situação presente em quase toda a América Latina. O filme integrou a seleção do 59; Festival Internacional de Berlim.
4; Mostra Internacional de Curtas ; Os Diferentes Olhares do Mundo
De hoje a domingo, às 20h, no Cine Brasília (106/107 Sul; 3244-1660) . Hoje, às 15h, haverá um debate sobre a mostra também no Cine Brasília. Entrada franca. Não recomendado para menores de 12 anos.