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Diversão e Arte

Crítica aos EUA é outro atrativo do Green Day, hoje no Nilson Nelson



Mais do que um show de rock, a apresentação do Green Day esta noite no Ginásio Nilson Nelson é um verdadeiro encontro do brasiliense com um referencial personagem da cultura pop dos últimos 20 anos. Nesse tempo todo, a banda americana influenciou moda, comportamento e música. E conseguiu, como poucas, reinventar-se nos anos 2000 - sem, necessariamente, mudar radicalmente seu som - e conquistar uma nova geração de fãs que a transformaram, outra vez, em uma das mais populares bandas do mundo em atividade.

Fãs como Daniel Affonso Alcântara, 19 anos: "Conheci o Green Day em 2005 com o disco American idiot. A partir dele, fui conhecendo os CDs anteriores e amigos que também gostam da banda". Foi por conta dessa relação entre fãs que ele acabou conhecendo a namorada Lívia Theocharides Oricchio, 19, moradora de Campinas (SP). Eles são colaboradores do site brasileiro www.thenimrods.com, dedicado à banda. "Pegamos matérias internacionais, traduzimos e colocamos no site para os brasileiros ficarem por dentro do que está acontecendo com a banda", explica ela.

Daniel e Lívia não tinham idade para ver Billie Joe Armstrong (vocal e guitarra), Mike Dirnt (baixo) e Tré Cool (bateria) ao vivo quando eles vieram ao Brasil pela primeira vez, em 1998; por isso, a expectativa para o show de hoje é grande. "Curto mais a fase antiga da banda, que é menos pop. Gosto do que eles fazem atualmente também, mas eles são uma outra banda hoje em dia", analisa Daniel. Ele e Lívia assistirão ao show brasiliense e ao de São Paulo, na quarta. "Se pudesse, acompanharia toda a turnê nacional", conta Lívia.

"O disco Dookie foi um dos meus primeiros contatos com o rock", conta Eduardo Oliveira, 24 anos, guitarrista da banda brasiliense Tiro Williams, responsável pela abertura da apresentação dos norte-americanos em Brasília: "É muito surreal abrir o show de uma banda que ouço desde moleque. Por mais que eles não sejam uma influência muito direta no Tiro Williams, eles fazem parte da nossa formação musical e com certeza existe algum eco deles nas nossas músicas".

Em entrevista por telefone, de Bogotá, onde a banda tocou no último domingo, o baterista Tré Cool contou que os shows na América do Sul têm sido longos, com quase três horas de duração. "Não posso dizer quais músicas vamos tocar aí, pois ainda não sabemos. Às vezes as pessoas nos pedem para tocar coisas que não estavam programadas e acabamos atendendo. Mas serão muitas músicas. Tocaremos no mínimo por duas horas e 40 minutos", adiantou.

O baterista comentou também que o repertório terá canções de quase todos os discos: "Nos shows, vemos fãs de diferentes épocas, desde adolescentes que nos conheceram agora até pais que eram adolescentes nos anos 1990 e vão ao show com os filhos".

Felipe Romero, 28 anos, responsável pela seleção dos CDs e dos DVDs que entram em uma grande livraria de Brasília, é um desses fãs "das antigas". Mas ao contrário de muita gente, ele não parou de acompanhar a produção do trio. "Numa época em que as bandas se levavam a sério demais, o Green Day tinha letras que beiravam o existencialismo e traziam uma crítica sutil à sociedade americana, em especial aos jovens", contextualiza: "Já em American idiot, o grupo tornou-se descaradamente político, deixando as sutilezas de lado. Talvez eles tenham sacado que só o deboche não funcionava com os EUA, a coisa precisava ser dita na cara. É um disco para ouvir de cabo a rabo."

Amigos de infância
O que começou como um sonho adolescente no fim dos anos 1980, quando os amigos de infância Billie Joe Armstrong e Mike Dirnt montaram a banda Sweet Children, tomou proporções gigantescas no começo da década seguinte, quando eles - já como Green Day - saltaram do circuito alternativo de shows para as paradas de sucesso na rádio e na MTV.

Em 1992, a banda (já com Tré Cool na bateria) lançou o primeiro álbum (se desconsideramos a coletânea de EPs 1,039/Smoothed out slappy hours), aquele que para muitos fãs é seu melhor disco: Kerplunk. A boa recepção do trabalho chamou a atenção da Reprise Records (ligada à Warner Brothers) que estava em busca de um novo nome para aproveitar a boa recepção que as bandas vindas do underground ainda conseguiam naquele momento. Dois anos depois, com a ajuda do produtor Rob Cavallo, o grupo atingiu no disco Dookie seu passaporte para o estrelato.

Videoclipes como os de Basket case e Longview promoveram a imagem do trio: cabelos descoloridos, caretas e olhos arregalados, piercings no nariz, roupas despojadas (meio grunge, meio skatista) e atitude debochada.

Inspirado pela situação dos Estados Unidos depois dos atentados de 11 de setembro, Billie Joe compôs um disco conceitual, a ópera-punk American Idiot, de 2004, agraciado com o Grammy de melhor disco de rock. O novo visual da banda, com roupas pretas e maquiagem escura nos olhos, também virou referência para os adolescentes. O mais recente CD, 21th century breakdown, vendeu 2,7 milhões de cópias em 2009.