Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Bandas locais lotam casas noturnas com clássicos do rock e do pop


Há cinco anos, cerca de 300 pessoas costumam lotar a UK Brasil, na 411 Sul, nas noites de sábado, para ouvir e dançar embaladas por clássicos oitentistas do rock nacional e internacional, tocados pela Zero 10, banda brasiliense que desde 2000 faz o maior sucesso na cidade. Assim como ela, vários outros grupos cover se mantêm há bastante tempo apresentando-se para plateias expressivas no circuito das casas noturnas, em clubes e festas particulares.

O cover disseminou-se de tal forma que não há um bar ou restaurante na capital ; entre aqueles que oferecem música ao vivo ; onde não se ouça canções consagradas sendo interpretadas por algum artista. Há os que, a exemplo da Zero 10, cumprem longas temporadas no mesmo local. Estão neste caso a Birinaite, há dois anos em cartaz no Bocanegra (403 Sul), às sextas-feiras, e a Soñadora, com presença frequente no O;Rilley (409 Sul), nos fins de semana.

A hegemonia das bandas cover é exercida de forma tão absoluta, que acaba limitando o espaço para quem procura se colocar com trabalhos autorais. E são muitas na cena independente de Brasília, em busca de um palco para mostrar o que estão fazendo. Há até as que conseguem, mas quase sempre para públicos reduzidos. E existem, também, as que, para sobreviver artisticamente, criam projetos paralelos ; uma forma sutil de fazer cover.

;Temos público cativo, que nos acompanha em todos os locais onde nos apresentamos, há oito anos. Fazemos cover de bandas de pop rock dos anos 1980 e 1990 para pessoas na faixa dos 30 anos, que saem de casa para ouvir sucessos, dançar com seus pares ou se jogar na azaração. Gente que não está nem aí para músicas autorais de novas bandas;, afirma convicto Paulo Delegado, baixista da Soñadora.

Esta é, também, a proposta da Zero 10, a mais longeva banda cover da cidade. ;No começo, quando éramos atração no extinto Zero Bar (QI 11 do Lago Sul), tocávamos Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, Pink Floyd, Rush, nossos ídolos na adolescência. Depois, quando passamos a levar a sério a história do cover, ampliamos nosso repertório, que agora é muito mais abrangente. Além de músicas de bandas internacionais, tocamos também as das nacionais;, conta Marcelo Barbosa, guitarrista da Zero 10.

;Nossa banda, ao longo da década, cumpriu longas temporadas em lugares como Dom Taco (309 Sul) e Frei Caneca (311 Sul). No UK Brasil a permanência tem sido maior, até porque formamos uma plateia expressiva. Entre os que nos assistem, há casais que se conheceram aqui e nos convidaram para tocar no casamento deles;, festeja Barbosa. ;Em 2005, lançamos o CD Novo dia, com músicas nossas, mas é o cover que paga nossas contas;, acrescenta o músico, que é dono do GTR Instituto de Guitarra.

;Projetos;
Bem que a Birinaite, outra banda cover bem-sucedida, tentou desenvolver projeto com músicas próprias, com o nome de Superaudio. Mas quem vai ao Bocanegra para ouvi-la só quer saber é de clássicos do pop rock. ;Não dá pra fugir dos hits do U2, Red Hot Chili Peppers, Dire Straits, Creedence, Guns;n Roses, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana e Skank;, conta o vocalista Nilo Ericksen. ;Com esse repertório, lotamos a casa às sextas-feiras, desde 2008.;

 

Ouça Novo dia, com a banda Zero 10

 

 

Mesmo sem se fixar em nenhum palco, a Magoo vive sempre de agenda lotada de compromissos. ;Desde que demos início à nossa trajetória tocando cover, há nove anos, temos trabalhado muito. Nosso mercado maior é o dos eventos corporativos, mas há muitos convites para tocarmos em casamentos, formaturas e festas diversas;, comemora o vocalista Marcelo Brandão, que está à frente, ainda, de um estúdio de gravação. ;O certo é que todos os fins de semana estamos tocando o velho e bom pop rock nacional e internacional em algum lugar.;

Caçula da turma do cover, a Surf Sessions, que no momento faz uma série de shows em Belo Horizonte, começou a se destacar na cena pop brasiliense há dois anos, como protagonista do Swell Surf Project, no Iate Clube. ;Em julho, lançamos disco de composições nossas, mas quem nos contrata para fazer shows exige que toquemos cover. Fazemos isso, mas sempre com novos arranjos;, revela o vocalista Renato Azambuja. ;O certo é que aos poucos estamos conquistando nosso espaço, inclusive fora de Brasília.;



Defesa do autoral
;A presença de bandas covers e de DJs na maioria dos eventos da cidade é tão hegemônica que não sobra espaço para quem tem trabalho autoral. As casas noturnas não apostam em novas bandas, pois querem resultado imediato. Mas, aos poucos, o público começa a manifestar interesse por trabalhos inéditos;
Penny Lane, editora do site Rock Brasília

;Na programação da boate, damos boa acolhida ao trabalho de bandas autorais, mas abrimos, também, para as que fazem cover, por uma questão de retorno comercial. Quem disponibiliza trabalho próprio na internet precisa divulgar e fazer o mesmo em relação aos shows que apresenta;
Gustavo Guimarães, dono da Velvet, na 102 Norte

;Já toquei cover e tenho a Brown-Ha, banda de trabalho autoral, que não desperta interesse em Brasília. Fora daqui, porém, já somos conhecidos e temos feito shows. Isso tem a ver com o fato de eu pertencer ao Coletivo Esquina, que é uma rede nacional;
Fernando Jatobá, músico

;Há duas semanas fizemos um show do nosso projeto NYC Cops, cover do Strokes. Entramos no palco às 3h da madrugada e tocamos para mil pessoas. No dia seguinte, ao acordar, me bateu uma tristeza, pois com a Tiro Williams, a nossa banda, temos nos apresentado para plateias bem pequenas;
Vitor Moraes, vocalista


Em dois caminhos
O músico, produtor e empresário Gustavo Vasconcelos, dono do selo brasiliense 8,lm 7 GRV Discos, produz e faz a distribuição de CD de cantores, instrumentistas e grupos da cidade. Por outro lado, ele criou duas bandas cover que têm presença marcante no mercado brasiliense: BSB Disco Club e Banda 80. E anuncia a chegada de mais uma, ainda sem nome. Outra iniciativa dele é o festival Caça-Bandas, que vem ocorrendo no UK Brasil e vai gerar álbum com as 12 finalistas.

Pragmático, ele acredita que são atividades convergentes. ;Criei grupos de entretenimento temático, assim como abri a possibilidade de levar ao público trabalhos originais, sempre atuando como parceiro de artistas candangos. Diante da grande demanda, estou dividindo a empresa. A GRV se mantém como produtora e distribuidora de conteúdo musical, enquanto a recém-nascida Canteiro de Obra passará a atender as solicitações do circuito de eventos corporativos.;