Claude Monet vai tomar conta das Galleries Nationales do Grand Palais em Paris a partir de hoje. A maior galeria pública de exposições da capital francesa recebe uma retrospectiva com obras que percorrem a trajetória do pintor impressionista. É a maior exposição de Monet desde 1980, quando a mesma galeria realizou uma mostra de grande porte do autor dos jardins mais famosos da história da pintura.
A atual exposição reúne obras de todos os museus franceses ; Orsay, Orangerie, Marmottan, Giverny ;, além de exemplares de outros museus como o Hermitage, de São Petersburgo, o Kunsthalle Bremen, de Bremen, e o Ordrupgaard, de Copenhague, num total de 200 quadros realizados entre 1860 e 1926, ano da morte do pintor. A expectativa do Grand Palais é receber 500 mil visitantes durante os três meses de megamostra. Antes mesmo da abertura, a galeria já vendeu 83 mil entradas.
A intenção é revelar aspectos desconhecidos e novas perspectivas para a obra do artista, fruto de pesquisas recentes que, segundo o curador Richard Thomson, ainda não existiam nos anos 1980. Monet não nasceu impressionista. Antes de turvar as paisagens com pinceladas largas, rápidas e quase displiscentes, fez pinturas bastante convencionais e muitas delas não costumam integrar as exposições dedicadas ao pintor.
O Grand Palais vai mostrar algumas, como a marina Le phare de l;histoire, um retrato do farol da cidade de Honfleur, e Le bord de la mer à Honfleur, ambos de 1864, quando o pintor contava apenas 24 anos. São pinturas quase realistas, mas que já revelam a habilidade do artista para o registro de paisagens. A exposição reúne também as obras mais conhecidas, como os fragmentos do inacabado Déjeuner sur l;herbe, pintado em resposta ao quadro homônimo de Édouard Manet, que escandalizou a sociedade parisiense ao mostrar moças nuas reclinadas na relva ao lado de rapazes elegantemente vestidos. Monet nunca terminou sua versão do almoço, bem mais comportada que a do colega.
Está na mostra também o ciclo Le bassin aux Nymphéas, realizado no jardim da casa de Giverny, nos últimos anos de vida, já no início do século 20. ;Ele é um artista tão variado. Ele sempre mudou muito. É um artista caleidoscópico e nada estático. Talvez seja o paisagista mais importante do século 19;, diz Thomson, em entrevista gravada para o site da exposição.
Postura crítica
Monet enveredou para a pintura de uma maneira meio marginal. Para o desgosto da família, que não era contra o estudo da arte mas reticente quanto à postura crítica, Monet não concordava com as normas da pintura acadêmica. Durante a adolescência, chegou a fazer caricaturas para um jornal. Mesmo crítico, acabou por ingressar na Escola de Belas Artes de Paris, depois de passar um tempo como aprendiz do pintor Eug;ne Boudin e de explorar ao máximo as possibilidades pictóricas e os efeitos óticos proporcionados pela luz da paisagens da Normandia, região na qual viveu quando jovem.
Em Paris, ele encontraria em figuras como Alfred Sisley e Pierre-Auguste Renoir as mesmas inquietações e buscas por uma pintura mais livre. Foi a partir de uma tela de Monet ; Impressions, soleil levant ;, apresentada em 1874 no Salão dos Independentes, que o movimento ganhou o nome de Impressionismo. O pequeno grupo de artistas, todos com média de 30 e 40 anos, reivindicava um novo modo de pintar. A tela deveria ser resultado do deleite do próprio autor e o tema representado era totalmente subjetivo, já que dependia exclusivamente da perspectiva de quem o pintava. Pela primeira vez se falava na ideia de arte pela arte. Monet 2010, que fica em cartaz até janeiro de 2001, ajuda a contar um dos capítulos mais fascinantes da história da arte francesa.
MONET 2010
Exposição de 200 obras de Claude Monet. Visitação até 24 de janeiro de 2011, no Grand Palais (Avenue Wionston-Churchill, Paris)