O nome resume bem a aliança: Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro. A união da mais antiga escola de samba do Distrito Federal com os moradores do Cruzeiro não está só no nome. Os moradores são os protagonistas dessa história. Prestes a comemorar 50 anos, a Aruc enfrenta uma crise que só não a levou à derrocada graças à ajuda de amigos e colaboradores, em sua maioria formada por moradores da cidade.
Enumerar os problemas entristece a voz de Moacyr de Oliveira Filho, o Moa, presidente da escola, que cita um samba de Nelson Sargento ao dizer que a escola ;agoniza, mas não morre;. Estrutura física em estado precário, falta de recursos financeiros e irregularidade no terreno são os principais problemas enfrentados pela administração da entidade. Por conta da falta de regularização, a escola não pode cobrar mensalidade dos associados e, portanto, vive às custas das apresentações da bateria da escola em festas e shows, da ajuda da comunidade e do dinheiro dos próprios dirigentes.
Em fevereiro de 2009, a escola recebeu o título de Patrimônio Cultural e Imaterial do Distrito Federal, concedido em decreto assinado pelo ex-governador José Roberto Arruda. ;Vivemos em um dilema. Uma entidade de quase 50 anos, reconhecida oficialmente pelo próprio governo, está de mãos amarradas. Estamos sem receber prêmio do carnaval há três anos. Esse é um problema que envolve outras escolas também. É com o dinheiro das premiações que sobrevivemos ao longo dos anos;, desabafa.
Durante o carnaval são mobilizadas 1.200 pessoas e a despesa mensal da escola gira em torno de R$ 3 mil. Paralelamente às atividades carnavalescas, a entidade atua com programas esportivos, oficinas e cursos. E para a Aruc não adianta só se preocupar com a realidade atual do carnaval de Brasília. Com recurso do FAC e de emenda parlamentar, há dois anos a escola formou oficinas de carnaval com aulas de confecção de fantasia, adereços, carros alegóricos, ritmistas, escultura em isopor e maquiagem artística. ;Trouxemos os professores do Rio de Janeiro em parceria com outras escolas do DF. É importante a gente formar futuros carnavalescos;, explica Moacyr.
A vida na escola
Abelardo Lopes presidiu a Aruc de 1998 a 2002 e hoje é vice-presidente de carnaval da escola. Entre as festas no barracão, os ensaios da escola e as atividades culturais ele cresceu, treinou equipes de handebol e conheceu uma bela menina que se tornaria sua esposa. ;Construí minha vida na escola, como outros moradores do Cruzeiro;, afirma o dirigente, que acredita em uma volta por cima da escola. Para o presidente Moacyr, a solução é a construção de uma vila olímpica. ;Esperamos que o reconhecimento do governo represente ações efetivas e concretas que garantam a nossa sobrevivência;, avalia. A vila olímpica é um projeto que virou novela. A ideia original era uma obra nova que construiria um novo espaço na área da Aruc, mas após uma reformulação no contrato, ficou decidido que o local seria somente reformado. A licitação foi feita e a Aruc se tornou uma organização social para cuidar da administração da área, mas até hoje as obras não saíram do papel.
O aniversário da escola é em 21 de outubro, mas no dia 22 haverá uma festa de lançamento do projeto Aruc 50 anos, com a programação do ano comemorativo. A previsão é que a escola consiga publicar um livro e um CD. O enredo, a gente adianta: Uma história de amor em azul e branco.
Patrimônio humano
Em 30 de março de 1959, Ivone Araújo desembarcou em Brasília. A carioca com então 28 anos participou do grupo que fundou a Aruc. Hoje com 79 anos, Dona Ivone além de ter sido uma das responsáveis pela criação da escola é a presidente da ala das baiana há 30 anos. Perto de completar 80 anos, Dona Ivone é otimista e acredita que a idade não diminui a disposição para cuidar e zelar pela Aruc. ;Quando a gente gosta faz qualquer sacrifício;, conta. E o alto astral fala ainda mais alto quando se trata de assuntos delicados, como a crise que a escola vive atualmente. ;Nós venceremos. Já passamos por problemas piores e vamos em frente;, vibra a simpática senhora.
Assim como o samba de Nelson Sargento, a Aruc continua firme e forte: ;Samba, agoniza mas não morre/Alguém sempre te socorre, antes do suspiro derradeiro;.