Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Pirenópolis (Goiás) tem Festival internacional de cinema e alimentação

Tema do clássico de Charles Chaplin Tempos modernos, a crítica à exagerada dinâmica do mundo que já ameaçava desumanizar as pessoas, ao menos nas telas de cinema, em 1936, recebe um aliado de peso neste fim de semana, com as atividades do Slow filme ; Festival internacional de cinema e alimentação, com sede em Pirenópolis (Goiás).

Contrariando a pressa que impregna o cotidiano da sociedade, o evento propicia uma boa digestão de filmes selecionados pelo crítico Sérgio Moriconi, ao lado da atenção dispensada à origem de alimentos a serem consumidos sob os prazeres de uma gastronomia regional gabaritada no real valor dos ingredientes. ;Sou amante da gastronomia, mas não entendo nada disso, já que nunca cozinhei. Sou um bom comensal;, diverte-se Moriconi, curador do festival.

Numa postura antiglobalização e contrária ao consumo fast-food, a iniciativa acata os moldes do Slow food on film dedicado aos mesmos temas, mas que ocorre na Bolonha (Itália). ;Para se entender o movimento, optamos pela exibição de Terra madre (atração de hoje), um filme que tem teor didático, mas que conta com a classe do realizador Ermanno Olmi, o mesmo do premiado A árvore dos tamancos;, comenta Moriconi. Com entrada franca, restrita às atividades culturais no Cine Pireneus, Slow filme ; Festival internacional de cinema e alimentação reserva palestras sobre produtos artesanais e enologia.

Nascido pela adaptação de um engavetado projeto cinematográfico de Moriconi, intitulado Baru ; Slow food, o festival alinha a produção de cineastas consagrados do porte de Richard Liklater e Jonathan Nossiter (Mondovino) à de diretores experimentais como a romena Astrid Rieger e Louis Fox (de A revolução das bocas). ;A procura feita pelos realizadores interessados foi grande e o público, que já fez contato com a produção, também correspondeu às expectativas. Teremos visitas a fazendas e ações em cooperativas familiares;, explica o curador. O espírito que integra os participantes diz respeito à valorização de receitas tradicionais e ao desenvolvimento sustentável ; com granjeio de produtos agrícolas e consumo de alimentos orgânicos ;, ganhando ainda o respaldo do potencial turístico estabelecido em Pirenópolis.

Bate-papo
Slow filme tem no programa a exibição de 17 títulos com nacionalidades diversas, entre as quais brasileira, húngara, sérvia e dinamarquesa. Envolvida com projetos gastronômicos que beneficiam alunos de escolas públicas, a chef Teresa Corção participará de um bate-papo, além de apresentar o média-metragem Seu Bené vai pra Itália, feito em parceira com o marido dela (Manoel Carvalho) e que conta a competência transformadora do lavrador sexagenário Benedito Batista de Silva. Fotógrafa de cenas de Diários de motocicleta (de Walter Salles), a documentarista Paula Prandini tem representatividade no evento, com a exibição de Vinho de chinelos (2008), que revela preconceitos e particularidades da produção de vinhos na Serra Gaúcha.

Entre as fitas estrangeiras a serem mostradas, Moriconi destaca a animação Pig me ; ;uma crítica politicamente correta que contesta o avanço da cultura de consumo imediato; ;, centrada na história de um porco obrigado a viver na clandestinidade; o aspecto divertido dos ;hambúrgueres falantes; que entram nos pormenores da própria origem, na fita Nos bastidores do fast-food e no teor alternativo de Mamífero, ;onde um filho edipiano tem que se libertar da sopinha sistematicamente oferecida pela mamãe;. No foyer da sala de projeção dos filmes, haverá ainda exposição fotográfica de imagens peculiares de vegetais, captadas pela francesa Dorothée Jalaber.

SLOW FILME - FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA E ALIMENTAÇÃO
Cine Pireneus (Pirenópolis ; Goiás). De hoje a domingo, exibição gratuita de filmes alinhados ao movimento slow food, difundido em mais de 40 países. Nas atividades paralelas serão cobradas distintas taxas de adesão. Informações: 3343-8891.