Elas aprenderam a cozinhar, descobriram técnicas e inventaram receitas, inicialmente sem muita pretensão. O amor pela culinária, no entanto, levou-as mais longe, e elas chegaram ao comando de um restaurante. As mulheres participantes da segunda edição do evento Brasília Gourmet, organizado pelo Correio, vão compartilhar ensinamentos, contar histórias e ensinar segredos de cozinha em aulas especiais, de 1; a 3 de outubro. Cada uma com trajetória e formação distintas, mas todas cheias de paixão pela gastronomia.
A portuguesa radicada em Brasília Olga Soares sempre gostou de cozinhar, mas a princípio escolheu a biologia para trabalhar. A culinária da terra natal estava no cardápio do dia a dia e nos jantares para receber os amigos. Quando chegou a Brasília há 27 anos, ela descobriu ingredientes brasileiros e passou a arriscar mais na cozinha. Até que, em 1995, resolveu abandonar a carreira de bióloga e abrir um restaurante português. ;Eu e meu marido largamos tudo e começamos com a cara e a coragem. Não tínhamos a menor noção de nada, ninguém da família havia tido um negócio do tipo. Eu ficava na cozinha e ele no salão, e deu supercerto;, conta a restauratrice.
Olga elaborou todo o cardápio do Sagres (316 Norte) inspirada nos pratos preferidos de sua família, mas confessa: nunca gostou de fazer nada por receita. Ela acredita que cada pessoa tem de dar um toque pessoal à refeição. ;Minha avó fazia isso. Procurei fazer tudo como ela, mas escrevi minhas próprias receitas;, diz. Agora, ela também conta com a ajuda de outra geração: as filhas Francine, que fica mais com a parte administrativa, e Vanessa, que bota a mão na massa na cozinha.
No Brasília Gourmet, a cozinheira vai ensinar a preparar o bacalhau à Brás (desfiado) e o bacalhau à minhota (em posta), pratos tradicionais da gastronomia portuguesa. Durante a aula, ela vai explicar como identificar o verdadeiro peixe e como dessalgá-lo, além de contar mais sobre os costumes culinários de Portugal. ;Ao contrário de que muita gente pensa, não comemos só bacalhau;, brinca. ;Lá, consome-se muita carne de porco, muito polvo, lula e frutos do mar;, completa Olga, que durante a entrevista estava em viagem à terra natal e se preparava para jantar um cabrito e tomar um bom vinho na casa da tia.
O gosto pela gastronomia também fez a chef e banqueteira Leninha Camargo deixar para trás outra carreira, em seu caso o funcionalismo público. Hoje, conta com um currículo invejável, que inclui cursos na Itália e especialização nos serviços de buffet e em azeites. Ela chegou a abrir um restaurante, mas as pessoas pediam tantos pratos sob encomenda que ela resolveu mudar de rumo em 2002 e começar o Grand Buffet. ;A cozinha é minha paixão, está no sangue. É o que eu domino e faço com prazer. Gosto muito da inovação, pesquiso muito e tento fazer uma linha de trabalho bem especializada;, comenta.
Durante o evento, ela vai apresentar cinco produções de finger foods, comidinhas que podem ser degustadas apenas com as mãos e fazem sucesso no mundo todo. ;É uma técnica que está muito na moda, em que é preciso usar a criatividade para transformar qualquer alimento em miniatura, com charme e sofisticação;, explica a chef. Para fazer a técnica, esqueça pratos e talheres; em vez de pratos, também é possível usar colheres chinesas, copinhos, espetos e panelinhas para servir um cup de pepino com tartare de salmão, por exemplo. Leninha ainda não revela quais receitas vai ensinar na sua aula, mas avisa: ;Vou colocar todo mundo para trabalhar;.
Tradição
Para Lucilene Silva, a gastronomia foi uma escolha. Ela se dividia entre a cozinha e o ateliê de costura. ;Comprava revistas de moda e não sabia se via primeiro as roupas ou as receitas. Até que a comida falou mais alto e apareceu a oportunidade de abrir um restaurante na Quituart (Lago Norte);, diz. Ela apostou na culinária árabe, aproveitando a experiência de ter morado oito meses na Cisjordânia e o que aprendeu ao testar receitas para o ex-marido, palestino.
O restaurante Beit Kaham foi aberto em 1994 e já virou tradição. ;Faço esse trabalho com muita paixão e gostei de abrir na Quituart pela simplicidade e pelo contato constante que temos com os clientes;, conta a restauratrice. Para o evento do Correio, Lucilene escolheu ensinar um dos pratos que fazem parte do cardápio da casa. ;Vou fazer o makulba de cordeiro, um prato cheio de história. Surgiu com a tradição do povo de, às sextas-feiras, juntar a comida da semana em um prato grande e oferecer na rua, para quem quisesse. Ele é conhecido como paella árabe;, explica Lucilene. Na lista de temperos, estão a pimenta, o açafrão, o cardamomo e a canela. A receita geralmente leva amêndoas tostadas, mas na versão da chef é utilizada a castanha de baru, em homenagem ao cerrado.
Mie Hiramatsu ainda fica um pouco sem jeito de receber o título de primeira sushiwoman de Brasília, porém a timidez vai embora quando o assunto é a gastronomia japonesa. Ela aprendeu a fazer sushi com a sogra e depois aprimorou a técnica quando morou, durante cinco anos, no Japão. Assim que voltou à capital federal, em 1995, ela recebeu o convite para comandar o restaurante Tayo, e ficou lá por 10 anos. ;Foi uma brincadeira que deu certo. Eu sempre fiz comida para a família e os amigos, fazia uma encomenda ou outra, mas nunca pensei que iria trabalhar com isso. Fiquei cheia de dúvidas na época, mas foi maravilhoso;, relembra.
Há mais de 15 anos ela ensina tudo o que sabe sobre a cultura gastronômica japonesa em uma escola de culinária. ;É uma aula superprática, tenho muitos alunos jovens e executivos. E quando eles conseguem fazer o primeiro sushi, ficam supercontentes;, revela. No Brasília Gourmet, ela vai ensinar como preparar temakis, os cones de algas com arroz que viraram mania nos últimos dois anos. Mie faz questão de preparar a versão mais tradicional da receita, não tão grande como das grandes redes. Ela vai dividir o curso com Cristiano Komiya, filho do chef Ryozo Komiya ; ex-cozinheiro-chefe da Embaixada do Japão ; e sócio do New Koto (212 Sul).