Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Lafusa e Lucy and the Popsonics confirmam vigor do rock brasiliense

Aparentemente, as bandas brasilienses Lucy and the Popsonics e Lafusa têm pouco a ver uma com a outra. Mas analisando o mínimo denominador comum entre as duas ; em especial, o atual momento de ambas ; é possível perceber várias semelhanças. Com mais ou menos o mesmo tempo de estrada, Lafusa e os Popsonics logo alcançaram algum reconhecimento de público e respaldo com a imprensa ; não só local, mas nacional. Hoje, um quinteto formado por Aloízio Michael e Jamil Chequer nas vozes e nas guitarras, Marcus Vinícius no baixo, Samy Aissami nos teclados e Guilherme Guedes na bateria, o Lafusa expandiu sua base de fãs com muitos shows e participações em festivais, entre eles, Cult 22, Móveis Convida, Porão do Rock e Lafusicando (este, organizado pela banda) e em apresentações pelo país. Com músicas que bebem do rock e da MPB, eles conseguiram um público cativo na cidade ; que ajudou a esgotar a tiragem de Quadricolôr, o bem recebido EP independente lançado em 2007. Com o hoje trio Lucy and the Popsonics foi parecido. Em pouco tempo, o electro rock da então dupla, formada pelo casal Pil e Fernanda Popsonic, pulou dos shows pequenos para os grandes festivais ; e deles, para as apresentações internacionais. Em 2007, saiu o primeiro CD, A fábula (ou farsa) de dois eletropandas (Monstro Discos). A banda atualmente tem um currículo com mais shows nos Estados Unidos e em países da Europa do que em Brasília. ;Parece que as outras cidades têm mais interesse por nós, né?;, comenta o guitarrista Pil, 29 anos. Mas não são apenas os detalhes da trajetória que aproximam as duas bandas. Os discos que Lucy and the Popsonics e Lafusa lançam esta semana apresentam reflexos desses primeiros anos de estrada e mostram o amadurecimento de seus integrantes e, consequentemente, da proposta musical das bandas. ;Nós buscamos novos horizontes, novos acordes, novos jeitos de tocar. As composições desse disco são inspiradas em constatações do cotidiano. O eu-lírico que sofria no Quadricolôr agora começou a aprender a lidar melhor com a vida e as fases dela;, conta Aloízio, 22 anos, sobre as composições de O preço do horizonte, disco que eles lançam amanhã com show no Arena Futebol Clube. Sobre Fred Astaire, segundo disco dos Popsonics, Fernanda afirma que eles queriam algo diferente, mas que ainda soassem como eles. ;Diminuímos os beats das nossas músicas, fiz aulas de cantos a mando do John ; inclusive, isso mudou minha vida em todos os sentidos ;, e pensamos mais nas letras;, detalha a vocalista e baixista, 28 anos. O John em questão é John Ulhoa, guitarrista do Pato Fu e produtor do novo trabalho dos brasilienses. ;Foi muito fácil trabalhar com ele. Gostamos e desgostamos das mesmas coisas e temos críticas muito próximas com relação a música. Às vezes, a gente já sacava a opinião do outro sem palavras, bastava um olhar para a comunicação. Foi mais que uma produção de disco, foi uma aula para a vida;, continua Fernanda. Pil dá mais detalhes sobre Fred Astaire: ;O processo de composição também foi bem distinto. A gente compôs o primeiro disco a com softwares. Aí, quando fomos gravar, o Zepedro Gollo e o Rafael Farret (produtores) falaram: ;Software é palha, vamos usar uns synths que eu tenho aqui e vamos bombar essa parada!’ Foi massa demais, daí a nossa vida passou a ser estudar manuais de hardware. Descobrimos um montão de timbres bacanudos e compusemos as músicas novas com esses hardwares. Fomos todos felizes para o 128 Japs, estúdio do John, pra gravar o disco. Conversamos sobre esses equipamentos e ele disse: ;Mané, hardware! Isso é coisa de velho. Tenho um monte de plugins fodaralhões aqui!’; A opção por acrescentar um baterista aos Popsonics veio de ver outras bandas tocando também sem um baterista e perceber a falta que eles fazem para o som ao vivo. Beto Cavani, ex-integrante da Suíte Super Luxo e banda de apoio do Beto Só, foi o escolhido para fazer companhia à bateria eletrônica Lucy. Cavani já tocou com os Popsonics em São Paulo, mas sua estreia brasiliense com a dupla será no sábado, na Drops Music Bar, no show de lançamento de Fred Astaire. Dinheiro Se os eletropandas contaram com um produtor de renome para ajudá-los, os integrantes do Lafusa optaram, por uma questão financeira, produzirem eles mesmos as 12 faixas (11 inéditas) do disco ; que, até eles juntarem dinheiro para bancar uma prensagem de CDs, existirá apenas em versão virtual, disponível para download gratuito no site oficial do quinteto (). E se os Popsonics diminuíram as batidas por minuto, o Lafusa ficou mais rock. ;Em uns shows no Nordeste chegaram a dizer que Lafusa era o Queens of the Stone Age tocando Chico Buarque;, brinca o baterista Guilherme Guedes, 23 anos. Sobre o futuro, o Lafusa pensa na possibilidade de correr atrás de outras possibilidades em outras cidades. ;Infelizmente, Brasília limita o desenvolvimento do artista médio, aquele grande demais para o barzinho, mas pequeno para o Nilson Nelson, por exemplo. Estamos considerando passar temporadas em algumas capitais do país no ano que vem;, adianta Guedes. Os Popsonics, por sua vez, querem continuar com a capital federal como base. ;Quando estávamos lançando o disco na Europa, fomos convidados para fazer turnês gigantescas por lá. Mas o way of life dentro de uma van é muito punk. Além disso, temos nossa vida em Brasília, empregos, gatos e nossa casa;, explica Fernanda. LAFUSA Amanhã, às 21h, no Arena Futebol Clube (Setor de Clubes Sul). Festa-show com a banda Lafusa lançando o CD O preço do horizonte. Abertura: Ganeshas (RJ), Cassino Supernova, Johnny Hooker & Candeias Rock City (PE). Ingressos: R$ 10 (antecipado, à venda no Keb -105 Sul) e R$ 15 (na hora). Não recomendado para menores de 18 anos. POP-POP-SONICS! Sábado, às 22h30, no Drops Music Bar (Setor de Oficinas Sul, ao lado do Shopping CasaPark). Festa-show de lançamento de Fred Astaire, segundo CD da banda Lucy and the Popsonics. Abertura com Electrodomesticks. Discotecagem com Holybitches, Léo in Hell & PG Amiss, Shacon & El Victon e Eek and The Shark. Entrada: com nome na lista (stericaproducoes@gmail.com) ou flyer: R$ 10 (até 1h30) ou R$ 15 (a noite toda). Não recomendado para menores de 18 anos. Críticas Pandas de pelúcia Tiago Faria O primeiro disco do Lucy and the Popsonics, A fábula (ou a farsa?) de dois eletropandas, era um gremlin: o bichinho de estimação que, inesperadamente, se revela uma criatura furiosa. O novo, Fred Astaire, não provoca esse tipo de susto: ao lado de John Ulhoa, do Pato Fu, a dupla encontra uma sonoridade mais macia, que casa as traquinagens debochadas de versos sobre viagens a Marte, pernas de silicone e bandas de indie-folk da Albânia. Não é, apesar das aparências, um disco confortável. Os brinquedos eletrônicos, sempre em miniatura ; na tradição do grupo alemão Kraftwerk ;, não amenizam as neuras do casal. ;Vivo numa maquete, me sinto um rato branco;, resumem na faixa-título, bem brasiliense. Mais Atari que Playstation, o pop diabólico do Lucy entra numa fase luminosa. ;Faça um loop idiota e coloque no repeat. Use duas ou três notas e cante que me ama em oito bits;, eles ensinam, em Oito-bits. E quem precisa de mais? Estreia madura É perceptível a evolução do Lafusa dos tempos de Quadricolôr para este O preço do horizonte. Se anteriormente a influência de Los Hermanos chegava a soar como cacoete e incomodava, agora aparece mais controlada, quase discreta. Letras, arranjos, vocais, tudo soa mais bem resolvido do que no passado. A MPB surge como referência para as canções, mas os arranjos são definitivamente roqueiros ; aliás, o trabalho instrumental é um dos fortes do quinteto. Nas letras, a banda também está mais direta nos assuntos abordados, falando de amores e outras percepções cotidianas. O repertório é consistente da primeira a última faixa. Tanto que fica difícil escolher um destaque. Mas candidatos não faltam. Sépia, Maria boba e Dois pra lá, por exemplo, são reflexos da experiência adquirida nos últimos anos: músicas sem medo de soar grandiosas, mas ao mesmo tempo sem a afetação que poderia tirar delas seus méritos. O preço do horizonte é sonhar alto, mas com os pés nos chão. O Lafusa cerra os olhos e enxerga isso muito bem. Entrevista - Lucy and the Popsonics Como está o Lucy em Brasília quanto a público? Parece que aqui não dão muita bola para vocês - ou, pelo menos, essa é a impressão que eu tinha, não sei se isso mudou%u2026 Fernanda: Não sei como está nosso público aqui porque desde 2007 tocamos mais fora de Brasília, nos EUA e na Europa. Espero que nosso show tenha um público legal, mas se não tiver faremos um show foda de qualquer jeito porque nós temos um estilo agressivo. Pil: Nos últimos três anos, fizemos no máximo cinco shows em Brasília e mais de 50 no exterior. Parece que as outras cidades têm mais interesse por nós, né? A minha impressão é a mesma da sua. Já estão pensando em clipe para alguma música do disco? Fernanda: Sim. Qualquer banda pensa em clipes para todas as músicas. É natural isso. Porém uma coisa é querer, outra é realizar. Pil: Devem rolar uns quatro clipes. Mas nenhuma megaprodução. Por onde já tocaram este ano? Alguma outra viagem programada? Fernanda: Este ano fizemos apenas oito shows. Foram muitas coisas ao mesmo tempo desde que paramos para compor o disco. Simplesmente, cancelamos vários shows nos EUA e escolhemos a dedo o que iríamos fazer. Este ano foi cheio para nossa vida pessoal. Quanto tempo durou a produção do disco? Fernanda: Compomos o disco inteiro em uma semana em casa dedicados 24 horas a isso. As ideias rolam sempre, mas você tem que ter um momento dedicado a colocar tudo em prática. Pil: Estamos pensando nesse disco desde o início de 2009. A maior parte das canções foram compostas em setembro do ano passado. Fomos pra BH em janeiro/fevereiro desse ano para gravar e mixar. Depois o processo de masterização, capa e prensagem foi lento, mas não tivemos pressa em nenhum momento. Foi beeeeeem sossegado. Quem bancou? Fernanda: O FAC bancou a gravação e a gente o resto, design e prensagem. Pil: O FAC e alguns shows maneiros. Quem é responsável pela capa e encarte do disco? Fernanda: Zé Otávio, um artista de São Paulo que sempre fomos fãs. Inclusive ele nos está devendo um autógrafo em nosso disco. Haha. Qual era o conceito que vocês tinham para o disco antes de entrar em estúdio? E o que mudou a partir do momento em que vocês começaram a pré-produzir e a gravar as músicas? Fernanda: Diminuímos os beats das nossas músicas, fiz aulas de cantos a mando do John - inclusive, isso mudou minha vida em todos os sentidos, e pensamos mais nas letras. Queríamos um disco diferente, sendo o mesmo Lucy. Pil: A ideia inicial era tirar as guitarras e desacelerar o bpm. O processo de composição também foi bem distinto. O primeiro, a gente compôs com softwares e aí quando fomos gravar, o Zepedro e o Rafinha falaram: "Software é palha, vamos usar uns synths que eu tenho aqui e vamos bombar essa parada" Foi massa demais, daí a nossa vida passou a ser estudar, estudar e estudar manuais de hardware (MC 303, MicroKorg, Kaossilator, JX-305, etc). Descobrimos um montão de timbres bacanudos e compusemos as músicas com esses hardwares. Fomos todos felizes pro 128 Japs pra gravar o disco, conversamos sobre esse equipamento com o John, aí ele disse: "Mané, hardware! Isso é coisa de velho. Tenho um monte de plugins fodaralhões aqui" Todas as músicas já existiam antes de entrar em estúdio? Ou alguma surgiu durante a gravação? Fernanda: A primeira faixa, Multitarefa, foi produzida no último suspiro no estúdio. Diria até na minha penúltima noite. Voltei para Brasília assim que terminei os vocais e o Pil ficou para mixar com o John. Pil: Todas existiam, mas tínhamos uma inacabada. Qual a melhor coisa de trabalhar com o John como produtor? Fernanda: Temos as mesmas influencias. Foi muito fácil trabalhar com ele. Gostamos e desgostamos das mesmas coisas e temos críticas muito próximas com relação a música. Às vezes, a gente já sacava a opinião do outro sem palavras. Apenas um olhar passou a ser necessário para toda a comunicação. Ele nos ensinou como tratar melhor as faixas e aprendemos muito sobre música com ele. Foi mais que uma produção de disco, foi uma aula para a vida. Eles são pessoas ótimas, sensacionais e desejo tudo de mais precioso no mundo para eles. Ficamos mais ainda apaixonados por eles. Pil: Comer sorvete na hora do almoço, ouvir histórias do Pato Fu, aprimorar o dialeto "mineirês" e trabalhar com um cara que tem a seguinte máxima "the devil is in the details". Os Popsonics pensam em sair de Brasília? Fernanda: Não mais. Quando estavamos lançando o disco na Europa fomos convidados a fazer turnês gigantescas por lá, mas o way of life dentro de uma van é muito punk. Além disso, temos nossa vida em Brasília, empregos, gatos e nossa casa. Pil: Não. Não. Não. Não. Quando Fred Astaire cruzou o caminho dos Popsonics? Fernanda: Quando caímos na vida real de um jovem adulto e passamos a imaginar uma vida mais tranquila. Tudo que desejava era sair dançando por um musical e dormir no final. Pil: Quando a gente sentou com o Nonato Dente de Ouro e dissemos: "O que você acha de fazermos uma outra música juntos? Poderia se chamar A dança do sonâmbulo". Como foi para conseguir gravar a música do Sepultura? Fernanda: É simples. Você paga e recebe o certificado de liberação da música. Pil: O John explica: a gente manda alguns e-mails, a editora cobra uma grana, a gente paga e formô! Por que decidiram que a banda precisava de um baterista? E por que o Betão? Fernanda: Quando assistimos aos shows na Europa. Há muitas bandas sem bateristas, mas quando entrava um baterista fazia uma boa diferença. Esta passou ser a diferença que queríamos experimentar e rolou. Fizemos uma seleção nacional e o Beto se destacou. O cara é um baterista nato de música eletrônica. Ele estava muito pilhado em tocar com a gente também. Na audição, o cara mandou muito bem. Agora nos tornamos uma equipe. Passamos uma semana em São Paulo e estamos ótimos e bem acertados no palco. Pil: Eu queria ouvir um som de prato bem forte no ouvido enquanto estivesse no palco. O Beto foi indicação do Pinduca, o cupido do rock brasiliense. Aí é simples, né? Tem alguém mais foda que o Beto pra tocar com a gente? Posso ser mais específico, mas aí vou começar a relacionar todas as qualidades do Beto e essa lista é gigantesca. O formato dupla será preservado para ocasiões específicas? Por exemplo, viagens ao exterior? Ou agora a banda é um trio em todas as circunstâncias? Fernanda: Ainda não colocamos um limite para nada por enquanto. Somos um trio. Estamos começando a pensar até na gravação do próximo disco com ele. Ele tá a fim de viajar pro exterior... bom, a gente optou por uma entrada natural e nada de metas agressivas com ele, nem com a gente. Ele está curtindo, a gente também... tá ótimo! A música serve para deixar as pessoas alegres e é isso que está rolando. Pil: Podemos ser dupla em algum momento, mas não consigo imaginar em qual seria. Entrevista - Lafusa Quem produziu o disco? Onde foi gravado? Quem lança? Guedes: O disco foi todo produzido pela banda, com uma pequena ajuda do Deigo Marx (Velhos e Usados), produtor do nosso primeiro EP, na pré-produção. A bateria foi gravada pelo Alexandre Griva, no Melhor do Mundo Studios, lá no Rio de Janeiro, e todos os outros instrumentos foram gravados no nosso estúdio. O lançamento é completamente independente - por isso mesmo, vai sair primeiro na internet. Lançamento físico só quando conseguirmos arrecadar dinheiro para a prensagem do CD. Por que escolheram este produtor? O que ele trouxe para a banda? Guedes: Pensamos em trabalhar com produtores renomados, cogitamos até alguns conhecidos nacionalmente, mas não tínhamos dinheiro para pagá-los. O Diego parou de produzir bandas profissionalmente, mas topou dar uma arrendondada nas músicas antes de gravarmos. Sempre fomos amigos desde que ele produziu nosso primeiro EP (Quadricolôr, 2007), e como ele conhecia o som da banda, foi essencial para destacar a essência das novas músicas. O Lafusa sempre foi comparado com o Los Hermanos. Como vocês lidam com isso? Essa comparação ajuda ou atrapalha? Guedes: No começo era um grande elogio, afinal todos somos grandes fãs deles. Mas depois muita gente passou a fazer essa comparação com objetivo de nos atingir, diziam que éramos cópia de Los Hermanos. Isso não existe, nunca tentamos nos igualar a eles. Acho que esse novo disco vai deixar bem claro que temos a nossa própria cara. Uma vez conversamos sobre isso com o próprio Rodrigo Amarante, que achou ridícula a comparação. Foi quando abrimos o show deles no Centro Comunitário, em 2007. Ele viu o show, elogiou muito a banda, e disse que não tinha fundamento essa história de cópia. E por falar em influências, está perceptível no disco que as músicas estão mais roqueiras. Esse direcionamento foi intencional ou aconteceu naturalmente? Guedes: Foi um processo natural. A banda surgiu com o propósito de fazer MPB com uma pegada roqueira, mas no começo não sabíamos misturar as influências. Era aquele esquema de tocar samba com distorção, tudo era muito evidente. Hoje a MPB influencia mais no processo das composições, com violões, mas o arranjo que a banda dá no final é mais roqueiro. Percebi algo de Muse, de Queens of the Stone Age nas músicas (estou certo?) do disco. Quais outras bandas vocês diriam que têm feito a cabeça de vocês e serviram de alguma forma como referência para esse disco? Guedes: Certíssimo. Em uns shows no Nordeste chegaram a dizer que Lafusa era o Queens of the Stone Age tocando Chico Buarque. No novo disco, o QOTSA foi influência forte principalmente nos timbres, na sonoridade. Outro fator foi começarmos a produção desse disco na mesma época do show do Muse no Porão do Rock, em 2008, que nos deixou encantados. Incubus, Radiohead, Death Cab For Cutie e a fase "blues" do John Mayer foram outras influências internacionais - sem falar no The Reign of Kindo, uma banda de NY muito boa que descobrimos recentemente, que faz um jazz/rock bem legal. Entre os artistas nacionais, as influências foram Moska, Arnaldo Antunes e os primeiros álbuns do Roberto Carlos. A banda deu uma sumida de shows desde meados do ano passado. Isso foi por conta do disco? Guedes: Sumimos, mas não foi uma opção consciente. Queríamos gravar o disco o mais rápido possível para voltar logo aos palcos - essa "sumida" é perigosa, muitas bandas não conseguiram recuperar o status que tinham antes de diminuir a velocidade. Mas como fizemos tudo por conta própria, decidimos levar a produção com mais calma, mais paciência, para garantir tanto um disco bom como um show bom. Agora vamos tocar muito para tentar recuperar o tempo perdido. Como a troca de integrantes afetou a banda e o processo de gravação do disco? Guedes: A maior mudança foi a entrada do Samyr na banda. Os teclados e guitarras extras que ele faz trouxeram um refinamento que sentíamos falta no nosso som - inclusive nas músicas antigas. O Luiz Ribeiro, antigo baixista, foi estudar música nos EUA, mas gravou as linhas de baixo do disco uma semana antes de ir embora. As mudanças trazidas pelo substituto dele, o Marcus Vinícius, o público vai conferir ao vivo - nos ensaios, ele já mostra uma desenvoltura que muitos músicos com mais experiência não têm, foi a escolha ideal. O que queriam para o disco? Já tinham algum conceito antes de entrar em estúdio? Aloízio: O que o Lafusa sempre quer é tocar e evoluir. E essa é a sensação que dá quando você escuta o disco, especialmente quem já nos conhece: eles evoluíram. E ao mesmo tempo tem todo o conceito do horizonte que foi surgindo. O lance de que a evolução é uma coisa infinita, que nunca termina, que sempre temos algo mais a conquistar. Por que O preço do horizonte para batizar o disco? Jamil: Pensávamos muito no que se deve investir para alcançar um sonho, que pode ser interpretado na nossa realidade como o sonho de viver de música. Que muitas vezes é um sonho que está distante como o horizonte, mas só de continuar a sonhar, vale a pena. Das 12 músicas gravadas, algumas delas é inédita em shows da banda? Guedes: Nos arranjos atuais, há pelo menos umas três ou quatro que nunca deram as caras, estão tão diferentes que nem lembram as versões anteriores. Mas de um jeito ou de outro já tocamos as doze. Na hora de compor, o que inspira o Lafusa? Aloízio: Nós buscamos novos horizontes, novos acordes, novos jeitos de tocar. As composições desse disco são inspiradas em constatações do cotidiano. O eu-lírico que sofria no Quadricolôr agora começou a aprender a lidar melhor com a vida e as fases dela. Além disso, algumas músicas foram inspiradas em filmes. Dois pra lá, por exemplo, é totalmente inspirada no filme Chega de saudade, da Laís Bodanzky. Para vocês, quais os hits do disco e por que? Aloízio: Quando você constata algo diferente em uma situação da sua vida, é necessário passar isso pra frente de forma clara e objetiva. No show as pessoas nem sempre captam aquela ideia, mas no disco as músicas falam o que tem que falar e pronto. Seguindo esse pensamento, Caixa de balões, Todas as Metades e Maria Boba são até agora as músicas que quem ouviu gostou de cara, porque o raciocínio está todo ali. Pensam em sair de Brasília? Por que? Guedes: Pensamos. Quando percebemos que poderíamos construir uma carreira musical séria, decidimos pensar alto, sonhar com grandes resultados. Infelizmente, Brasília limita o desenvolvimento do artista médio, aquele grande demais para o barzinho, mas pequeno demais para o Nilson Nelson, por exemplo. Estamos considerando passar temporadas em algumas capitais do país no ano que vem, para construir um relacionamento mais próximo com o público e com a crítica em vários lugares do país. O Lafusa tem uma estrutura boa de divulgação. O que estão pensando com relação a isso para o disco? Aloízio: Descobrimos ao longo do caminho que todo mundo está disposto e preparado para consumir música e cultura, independente de classe social. E o objetivo é fazer a música chegar a todos de todas as formas possíveis. Devagar, mas de forma organizada, esse disco vai ter sua versão de graça pra download, em CD, e até em LP - para tudo e para todos. Se conseguirmos um bom patrocínio, a idéia é distribuir de forma gratuita em um formato simples. Olhando em retrospecto, quais as principais diferenças entre o Lafusa do começo e a banda que gravou O preço do horizonte? Aloízio: A banda do começo era formada por garotos querendo criar uma coisa nova, só que com naturalidade. Hoje nós só queremos criar e naturalmente surgiu algo novo. Uma das mensagens no disco é a resposta para essa pergunta: toda mudança é válida, aproveite-a e cresça com ela.