Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Não interessa o material, o grupo Stomp gosta mesmo é de fazer festa

Junte vassouras, latas de lixo, caixas de fósforo, folhas de jornal, pneus de trator e, em vez de uma montanha de entulho, você terá instrumentos musicais de primeira. Essa é a proposta do grupo britânico de percussão Stomp (1), que contabiliza 19 anos de estrada e já impressionou espectadores de mais de 35 países. Em turnê por cinco capitais brasileiras, eles encerram a temporada em solo brasiliense, onde pisam pela primeira vez. De hoje a domingo, os espectadores conhecerão a performance vigorosa de artistas que investem na seguinte máxima: qualquer objeto suscetível ao toque certeiro produz música, e música das boas. A base da performance será a mesma que corre o mundo desde a década de 1990: oito integrantes do grupo desenvolvem uma coreografia frenética e sincronizada, tirando sons variados de tampas de panela, galões de plástico, canos cortados em diferentes comprimentos, boias e até isqueiros. Não há espaço para instrumentos convencionais. Uma busca pela internet revela que o grupo também investe em performances urbanas, situações em que transforma conteiners de lixo e até bolas de basquete em parte da batida rítmica. Entre eles, brilha o baiano Marivaldo dos Santos, 37 anos, porte atlético, sorriso farto e dreadlocks de impressionar. Único integrante brasileiro, ele entrou para o elenco da companhia em 1997. Criado no coração da baianidade, entre rodas de capoeira e a bateria da escola de samba Diploma de Amaralina, o músico parece talhado à perfeição para o grupo. Desde que passou a fazer parte do time, já se apresentou três vezes no Brasil. ;Percebo uma animação maior por parte da plateia. As pessoas começam a conhecer o show. Nos anos 1990, aquilo, provavelmente, era muito estranho;, destaca o artista, que conduz carreira paralela como produtor. Um de seus últimos trabalhos é o álbum novo da cantora Daniela Mercury. Segundo ele, mesmo quem já viu o espetáculo em algum outro lugar encontrará novidades e surpresas: dois novos números foram incluídos na turnê. Um deles é Paint Cans, performance feita com latas de tinta, e justamente a que mais deu trabalho para ser assimilada. Marivaldo conta que a sincronia precisa ser perfeita. ;Existe um tempo certo para fazer a música, se movimentar e jogar a lata para o outro. No começo, quando estávamos aprendendo, levei três ou quatro latadas na cara. Até sangrou;, admite. Outra criação da dupla responsável pelas coreografias, Luke Cresswell e Steve Mac Nicholas, é Donuts. Neste número, cordas elásticas sustentam câmaras de pneus ao redor da cintura dos performers e todos os objetos acabam entrando na ciranda sonora. Passagens já conhecidas da plateia ganharam roupagem mais moderna. É o caso do quadro Boxes e de Bins, a sequência de batucadas nas latas de lixo que ganhou aprimoramentos. Depois de anos de tentativas, finalmente os criadores do espetáculo conseguiram reproduzir com fidelidade o som do guiro, uma espécie de reco-reco inventado na América Central, usando embalagens recicláveis de lâmpadas fluorescentes. As novidades, no entanto, não afastaram a estética urbana do espetáculo. Posições Na passagem por terras brasileiras, Marivaldo foi alçado ao posto de comandante do espetáculo. ;É o cara que está o tempo todo interagindo com o público, puxando as palmas, fazendo coisas engraçadas. Mas existe aquele que é o palhaço, faz tudo errado, e há o supermusical, que faz os movimentos mais intensos. Cada um tem uma função e se destaca em algum momento;, explica. Meia hora antes de as portas do teatro se abrirem, os integrantes da trupe exploram o palco, para marcar posições, treinar as inversões de papel e aquecer o corpo para a maratona. Na hora de manter a forma a longo prazo, cada um escolhe o próprio exercício. O brasileiro mantém a silhueta em dia com abdominais e alongamentos. Os pés, duramente exigidos durante as apresentações, recebem atenção especial. Antes de guardá-los na botina que extrai som do tablado do palco, ele calça quatro meias grossas e pisa sobre três palmilhas, além de um protetor de calcanhar. Em cada cidade por onde passa, a companhia contrata um massagista local. O sucesso veio em avalanche e o Stomp precisou se multiplicar para dar conta dos compromissos ao redor do globo. Hoje, quatro grupos diferentes executam o mesmo show. Dois cumprem temporadas fixas em Nova York e Londres, e os outros dois rodam por Europa, Ásia e América. Integrante do grupo que fixou residência na Big Apple, Marivaldo foi convidado a matar as saudades da América Latina. Metade do time selecionado para vir ao Brasil foi treinado pelo baiano. Juntos, eles têm se esbaldado por onde passam. ;Em Curitiba, fomos a um bar de samba e acabamos subindo no palco para tocar;, diverte-se. 1 - Batida do coração Stomp não tem palavras ; todos podem entender. Há pouca ou nenhuma melodia no sentido tradicional. Por isso, não importa se seu estilo favorito é jazz, música clássica, dance ou pop. Stomp é ritmo, comum a todas as culturas. Todos sabem o que é ritmo, apenas pelo batimento dos próprios corações ; a base de toda música. TRABALHO EDUCATIVO Além de impressionar plateias mundo afora, o Stomp se dedica a ações educativas e de inclusão. Em 2007, a trupe desenvolveu um workshop para internos da prisão Bullingdon, na Inglaterra. O trabalho costuma durar de três a quatro semanas e envolve o despertar gradual da noção de ritmo, a exploração de tempos e compassos musicais, coordenação motora, habilidade auditivas, verbais, noções de espaço e capacidade de trabalho coletivo. No fim da oficina, os alunos fazem uma apresentação para as famílias. A companhia também organiza workshops em escolas. Stomp Apresentação do grupo britânico. De hoje a domingo, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Claudio Santoro. Hoje e amanhã, às 21h30; domingo, às 16h e às 20h. Ingressos: hoje (R$ 200 e R$ 100, meia); amanhã (R$ 240 e R$ 120, meia); domingo, às 16h (R$ 160 e R$ 80, meia), às 20h (R$ 200 e R$ 100, meia). Pontos de venda: bilheteria do Teatro Nacional, Fnac (ParkShopping) e pelo site . Classificação indicativa livre. Informações: 8432-3661.