O universo das histórias em quadrinhos se confunde, muitas vezes, com a vida de quem é fã do gênero. É o que ficou claro nos três dias de palestras e oficinas do evento Quadrinhos na Cultura, promovido no último final de semana pela Livraria Cultura do shopping CasaPark. Na ocasião, estiveram presentes roteiristas e ilustradores brasilienses que apresentaram ao público o simbolismo por trás de traços, cores e diálogos de HQs clássicas e de produções independentes.
Mesmo que todos estivessem ali pelo interesse comum em histórias em quadrinhos, o público diversificado era composto por adultos, crianças, quadrinistas jovens e experientes e por curiosos, prontos para conhecer a linguagem e características do gênero. "Viemos para conhecer o pessoal de Brasília que produz quadrinhos. Estamos começando agora a produzir uma HQ independente e, por isso, conhecer o processo todo é importante", disse Lucas Loiola que, aos 20 anos, juntou-se ao amigo, que assina simplesmente Luis Carlos, para fazer parte de um grupo de quadrinhos independente cujo objetivo é "publicar um ensaio com boas histórias com temas variados", completa.
Além das trocas de figurinhas sobre técnicas de desenho e roteiro, os mais experientes deram dicas de como ser reconhecido em um mercado cujo retorno financeiro não é tão favorável. "É uma profissão que não é fácil, mas também não é impossível. É preciso insistir, investir em você", explicou Nestablo, responsável pela série de quadrinhos Zona Zen, que garantiu a ele a indicação ao prêmio HQMIX como roteirista revelação em 2007.
O tema
Segundo o ilustrador do Correio e ganhador do Prêmio Esso de Criação Gráfica Maurenilson, outro ponto importante é a escolha do tema. "É importante escolher assuntos que sejam comerciais. Por exemplo, temas ligados à sustentabilidade estão na moda", orienta. Para ele, o mercado de ilustração na cidade não é muito expressivo. "As agências de publicidade de Brasília estão com os olhos voltados para fora. Eu quero acreditar que a capital do país ainda vai se tornar um lugar interessante para a gente dessa área. Por enquanto, o eixo é Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte", constata.
No entanto, o baixo retorno financeiro parece não ser motivo de desistência para a maioria dos quadrinistas que relataram ser a paixão o que de fato os mantem ativos no mercado. "Quem quer fazer quadrinhos para ganhar dinheiro pode desistir. A gente faz porque ama", disse Gabriel Mesquita, um dos editores da revista Samba. O roteirista Rafael Fernandes, criador do super-herói brasiliense Dinâmico Erre, concorda com o colega. "Minha primeira revista eu fiz com minhas economias. Sabia que não teria retorno, mas fiz porque queria ter a publicação em minhas mãos", pontua.