O garotinho paulistano Ibraim Roberson tinha 6 anos quando furtivamente encontrou um gibi em casa. "A partir daquele momento, tudo ficou claro para mim", relembra, como num momento de iluminação espiritual. O filho de comerciantes do Jabaquara, em São Paulo, passou a infância imitando os desenhos de outros quadrinistas consagrados até desenvolver o próprio traço. Assim como numa história de super-herói, o protagonista dessa narrativa teve de enfrentar obstáculos até alcançar seus objetivos. Trabalhou como professor, foi funcionário de galeria de arte e até administrador de empresas. Nada a ver com a vocação que queria seguir, mas que deixava os pais preocupados. Mesmo assim, enviou desenhos de sua autoria para um agente norte-americano. Eis a reviravolta.
Entre candidatos de vários países, ele foi o escolhido pelo escritor norte-americano Max Brooks para ilustrar uma graphic novel baseada no Guia de sobrevivência a zumbis. "Ele enviou alguns desenhos para a editora e simplesmente destacou-se entre os candidatos. Quando vi as amostras, pensei: 'Esse é o cara'. Ele é tão brilhante. Nunca o vi pessoalmente. Não sei como se parece. Ele pode estar vivendo numa árvore, numa cabana no meio da floresta ou na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro", imagina Brooks sobre o ilustrador, que, na verdade, mora em Curitiba. "A gente nunca se viu. Ele trabalhava lá e eu aqui. Ele acompanhava tudo por e-mail", comenta Roberson.
"Por um acaso, zumbis é um dos meus temas favoritos", confessa o fã do cineasta George A. Romero, diretor do seminal A noite dos mortos-vivos (1968). "Ele fixou o gênero zumbi como outros autores fixaram os vampiros. Sem dúvida, o trabalho dele é uma referência. Mas também não desprezo visualmente outros zumbis", comenta o artista sobre suas influências. Depois dessa experiência desembestou a fazer trabalhos com os gringos.
As editoras gigantes do ramo, DC Comics e Marvel, não param de passar trabalhos para Roberson. "Eu tenho um estilo realista, muito detalhado, que as editoras apreciam. Uso muitos tons de cinza para dar volume ao trabalho", explica. Alguns deles são séries importantes, aguardadas ardorosamente pelos fãs. É o caso de X-men second coming e X-men origens. Na DC, ele desenhou um episódio da Liga da Justiça e outro da Mulher Gato. A procura é tanta que dá até para esnobar. "Eu fiz alguns trabalhos para a DC, mas tenho feito mais com a Marvel porque me identifico mais", afirma ele.