Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Festival de Montreal exibe curta inédito e filmes de Jafar Panahi

O iraniano foi perseguido por suas posições políticas em seu país

; Mario Abbade
Especial para o Correio



O Brasil não é a única nação que busca de estreitar o relacionamento com o Irã, pelo menos no que diz respeito ao cinema. Pelo segundo ano consecutivo, o aclamado cineasta Jafar Panahi vai mobilizar o Festival Mundial de Filmes de Montreal, Canadá, iniciado na última quinta-feira, com encerramento agendado para 6 de setembro. Em 2009, Panahi estava presente na condição de presidente do júri. Mas, neste ano em que o cineasta causou uma comoção internacional ao iniciar uma greve de fome para protestar contra sua detenção pelas autoridades iranianas, contrárias ao seu cinema-denúncia, seus filmes irão representá-lo no festival canadense.

Panahi terá retrospectiva de todos os seus longas. Filmes premiados como O balão branco (Camera d`Or no Festival de Cannes de 1995), O círculo (Leão de Ouro no Festival de Veneza em 2000), O espelho (Leopardo de Ouro no Festival de Locarno), Ouro carmim (Un certain regard em Cannes 2003) e Fora do jogo (Urso de Prata no Festival de Berlim de 2006) farão parte da mostra, que será toda exibida em película. Mas a cereja do bolo será o curta-metragem inédito Accordion (acordeão, em tradução literal).

Será a primeira exibição de Accordion, que é parte de um longa, no qual estarão reunidos outros 15 curtas de cineastas de renome. Este será apresentado no Festival e Fórum de Cinema dos Direitos Humanos, em Genebra, no início de março de 2011. O projeto tem a tutela da Aliança das Civilizações da ONU, sob o patrocínio do Conselho da Europa. O curta tem como tema o fim da violência e é uma metáfora para as futuras gerações que, lideradas pela compreensão, preferem a solidariedade ao conflito, marca do diretor. ;Eu sou um cineasta que presta a atenção no aspecto social da vida e que acontece ao seu redor. Accordion reflete minhas próprias emoções em face aos acontecimentos e da forma que eu observo a realidade;, disse Panahi, em declaração à direção do Festival de Montreal.

Seleção
Serge Losique, presidente do festival, justificou a homenagem ao cineasta: ;Estamos muito felizes de poder realizar uma retrospectiva em tributo ao seu imenso talento.; A escolha por Panahi demonstra o quanto o Festival de Montreal preza em selecionar filmes com mensagens sociais e políticas, como também cineastas em início de carreira.

Jafar Panahi é muito querido por cinéfilos e críticos no Brasil. Em 1995, O balão branco ganhou o prêmio do júri na 19; Mostra de Cinema de São Paulo. Depois Panahi foi convidado para ser jurado na 22; Mostra. Vale ressaltar que O balão branco foi seu primeiro longa ficcional para a tela grande, depois de documentários e filmes para a televisão.

O cinema de Panahi é embasado na crítica social. Ele procura retratar a realidade de opressão que a mulher iraniana sofre na sociedade muçulmana. Panahi faz parte de um grupo de cineastas denominado ;o novo cinema iraniano;, que reúne profissionais como Abbas Kiarostami (roteirista de O balão branco) e Moshen Makhmalbaf. Uma escola de cinema que influenciou diversos diretores pelo mundo, como o brasileiro Walter Salles.

Por conta do engajamento social em sua obra, Panahi teve vários filmes banidos no Irã, como O círculo e Ouro carmim, apesar de suas produções já terem sido exibidas em mais de 40 países diferentes, e vencedoras de vários prêmios. Não é só nas artes que o diretor demonstra sua insatisfação com o governo iraniano. Ele apoia a oposição ao presidente iraniano Mahmoud Ahamadinejad, sendo a favor de uma reforma dos conceitos da atual administração. Ano passado, o cineasta expressou publicamente seu apoio ao candidato presidencial Mirhossein Mousavi. Por essa razão, ele foi preso em março deste ano acusado pelas autoridades iranianas de denegrir a imagem do país que causou uma mobilização da classe cinematográfica mundial ; o abaixo-assinado incluía os nomes dos atores Robert de Niro e Robert Redford.

Panahi chegou a iniciar uma greve de fome por ter sido impedido de ver sua família, seu advogado e por não ser submetido a um julgamento. Após passar dois meses preso, foi solto depois de pagar uma fiança de US$ 200 mil. Apesar de seu futuro ser incerto no Irã, suas ideias sempre ultrapassarão fronteiras por intermédio de seus filmes.