Engana-se quem pensa que a Quermesse do Templo Budista da 315/316 Sul é feita só de monges e yakisoba. O evento realizado anualmente, nos fins de semana de agosto - este ano acontece a 37ª edição -, se tornou ponto de encontro de jovens aficionados na cultura pop japonesa. Em meio a seguidores do budismo, agora encontram-se cosplayers (pessoas que se fantasiam de personagens de mangás ou desenhos animados), barracas de animes, novos estilos de dança e músicas que fogem ao tradicional clima zen.
No último fim de semana, um dos que transitavam pela festa vestido igual a seu personagem favorito era Yan de Mello, 15 anos, fã do Sasuki, do desenho animado Naruto. "Comecei a me vestir há dois anos e tenho muito trabalho para colocar o meu cabelo comprido dentro da peruca, mas ainda assim vale a pena", conta o tímido garoto. Fantasiado, Yan olhava atentamente os passos de uma grande turma que se formava em frente ao palco e, em ritmo acelerado, dançava uma música japonesa com os passos exatamente iguais. "Quero muito aprender a dançar, mas acho difícil pegar o tempo da música", lamentava o estudante.
A dança a que o garoto se refere é o matsuri dance, estilo criado pelo grupo londrino Sansey. Incorporado à programação da quermesse desde 2008, o matsuri é um dos pontos altos da festividade, segundo o organizador cultural e DJ Takehiro. "Os jovens têm entre 12 e 17 anos e dançam a noite toda. Uma das músicas mais pedidas por eles é Bye bye boy", revela Takehiro, referindo-se à canção de Aikawa Nanase, que até já mereceu versão em inglês feita por Paris Hilton.
O organizador geral do evento, Rubem Cauduro notou que, com o passar dos tempos, o número de adolescentes aumentou principalmente após a introdução do Matsuri. "A dança mudou a cara da quermesse e muitas famílias se assustaram no início, mas hoje as pessoas já se acostumaram", diz Cauduro, que contabiliza um público médio de 4 mil pessoas por dia de quermesse.
Alegre e "divertoso"
Agnes Araújo, 14 anos, cresceu entre mangás. A menina diz frequentar a quermesse desde pequena por considerar o ambiente alegre e "divertoso". "Fiz amigos e nos reunimos na escola, em shoppings e casas de amigos para conversar e dançar o matsuri. Não me visto de um personagem específico, por que não me identifico com um anime só. Tenho um pouco de cada", explica a adolescente, que tem como referência os desenhistas de mangá Matsuri Hino e Tite Kubo e as cantoras Aikawa Nanase e Nana Mizuki.
Yohanna Tainná, 17 anos, frequenta o evento há três edições e vai todos os fins de semana durante o mês de duração. Na festa, a menina fez amigos e conheceu mais da cultura japonesa. "Após a quermesse passei a pesquisar mais sobre o Japão, vejo vídeos no YouTube e vou a encontros de cosplayers, como o Kodama (encontro realizado anualmente em Brasilia)", conta Tainná.
Mas a inspiração para os cosplayers não vem somente da cultura nipônica. Lorena Malschik, por exemplo, demorou uma hora para vestir a indumentária à altura de sua "ídola", a cantora norte-americana Lady Gaga. As referências estavam espalhadas por todo o look: óculos no estilo Mickey Mouse e boca pintada parcialmente de batom preto (igual a Gaga no clipe de Paparazzi) enfeitavam o visual, que se completava com uma lata de refrigerante enrolada no cabelo, em clara referência ao clipe de Telephone.
Paralelamente aos cosplayers e matsuri dancers, famílias se encontram para celebrar a cultura japonesa. Os pequenos Maki, 3 anos, Hayate, 5, e Kasumi, 7, estavam vestidos com roupas trazidas do Japão pelos pais Miyaji Shuhei e Tatsumi, que estão no Brasil há pouco mais de um ano. Eles aguardavam a hora da apresentação do Bon Odori, celebração feita, na maioria, por mulheres mais velhas. Segundo a tradição, a dança dá boas vindas aos espíritos dos antepassados que retornam nos meses de julho e agosto. A Quermesse do Templo Budista da 315/316 Sul termina no próximo fim de semana, quando haverá apresentação de lutas marciais com um grupo da terceira idade. O evento tem entrada franca.
Mercado de variedades
» De olho na demanda de jovens que frequentam o evento budista e consomem produtos pop japoneses, o dono da loja Vicious Dragons, Marco Aurélio, apostou em um espaço na quermesse e nesta edição abriu uma banca com livros, camisetas, banners e acessórios de mangás. Segundo o proprietário, o consumo triplicou em dois anos e a garotada soma 60% do público comprador. A série Death note é a favorita entre os jovens, com 12 volumes e uma enciclopédia. O box custa R$ 150. "A série trata de uma guerra psicológica entre mentes inteligentes, por isso os jovens gostam tanto. Além disso, os personagens têm muito carisma", explica Marco Aurélio.