postado em 18/08/2010 07:00
Quando os participantes do Jogo de Cena pisarem o palco do Teatro da Caixa Cultural hoje à noite, um ciclo histórico da cidade será reafirmado. Há 25 anos, metade da idade de Brasília, o encontro serve como vitrine, divulgação e celeiro de diferentes artes e artistas. Assim como todas as outras, a edição comemorativa será democrática, com apresentações de dança (com a companhia Antistatus Quo) e o comediante Heleno Goiaba (um dos veteranos do Cena) com a cena O motoqueiro.
As atrizes Adriana Nunes e Madelon Cabral, que também participam desde os primórdios, refazem a montagem do esquete As namoradeiras, 20 anos depois da primeira apresentação. O espetáculo seria o embrião do grupo de comédia Os Melhores do Mundo (leia quadro). Haverá projeção do vídeo Quem ganha com o Jogo de Cena?, de Similião Aurélio, produzido em 2003 (quando o projeto completou 18 anos). Participam também quatro bateristas da The Beat Brothers e o artista plástico Paulino Aversa, que pintará um quadro ao vivo.
Tudo começou de um jeito improvisado no Teatro Galpãozinho, no Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul), com apoio da extinta Fundação Cultural do Distrito Federal e coordenação de Léo Neiva. ;Sempre funcionou como um grande programa de auditório, com representantes de todas as artes. Estou agora mesmo editando uma fita com todos os anos do Jogo de Cena. São vídeos raros, mostram como era o programa. Tinha um ritmo muito mais lento, espécie de resquício do movimento hippie. Não tinha o ritmo frenético da televisão. Hoje em dia é capaz de ser considerado chato, talvez;, classifica o produtor do projeto desde o início, James Fensterseifer.
A cidade ainda respirava ares de chumbo e os participantes experimentavam um sentimento de libertação. ;Éramos a primeira geração adulta e produtiva da cidade. Nessa época explodiu o teatro, a dança, a música. Nós começávamos a ocupar os espaços sub-utilizados;, relembra o ator Murilo Grossi, um dos integrantes do grupo Paletó e Gravata, que sempre batia ponto na reunião. A população era bem menor e a cidade oferecia menos opções. ;Brasília era muito diferente. Havia menos shoppings, menos coisas para fazer. As pessoas se interessavam por cultura mesmo;, relembra Marcelo Martins, o DJ Nego Moçambique, frequentador do programa desde que tinha 11 anos. Martins começou a trajetória no quadro de improviso Desafio da Noite, ao lado dos amigos Welder Rodrigues e Ricardo Pipo desde 1992, que se transformaram nos apresentadores oficiais das noites culturais do Cena.
Durante os anos 1980, a continuidade do programa chegou a ser interrompida pelo período de três anos, por falta de apoio. Em 1989, ele passou a ser apresentado no Teatro Garagem (913 Sul), com a ajuda do Sesc do Distrito Federal, e os custos pagos por meio de bilheteria. ;É sempre bom pensar que o Jogo de Cena está se transformando em um forno de trabalhos para a cidade. Nele, as pessoas experimentam. É claro que estas tentativas, estes aprendizados deveriam ser patrocinados pelo Estado, que teria de criar cursos, ateliês, oficinas, para a preparação dos artistas da cidade;surge, então, o Jogo de Cena, onde são dados os primeiros passos;, escrevia o crítico de teatro e repórter do Correio Alexandre Ribondi, em 1991.
A vocação de oficina de aprendizado seguiu durante os anos 2000, quando o projeto foi acolhido pela Caixa Cultural de Brasília, por meio de editais anuais. ;O intercâmbio que acontece nos camarins entre veteranos e iniciantes é maravilhoso. Existe um bate-papo de cozinha que é muito importante;, atesta o ator e diretor Similião Aurélio, participante do Jogo de Cena há uns 10 anos, primeiro como espectador e depois como artista. ;O Jogo é ótimo para experimentação. Dá para apresentar um espetáculo ainda em formação e ver como funciona com a plateia. Daí se tira referência do que vai funcionar ou não;, avalia Aurélio.
JOGO DE CENA ; 25 ANOS
Hoje, às 20h, no Teatro da Caixa (SBS Q. 4, Lts 3/4, anexo do edifício matriz da Caixa; 3206-9448). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (estudantes, pessoas com 60 anos ou mais, empregados da Caixa e doadores de 1kg de alimento). Não recomendado para menores de 14 anos.