Quem estiver em Brasília esta semana terá a chance de ver, rever ou mesmo conhecer uma das mais antigas artes do mundo ; o teatro de bonecos. Começa hoje e vai até domingo o 9; Festival Internacional de Teatro de Bonecos, no Complexo Cultural da Funarte. Serão 33 atrações nacionais e estrangeiras, em apresentações gratuitas e de técnicas variadas, entre elas o mamulengo nordestino, as marionetes e o teatro das sombras. A abertura fica por conta do premiado Grupo Contadores de Histórias, hoje sediado em Paraty (RJ), mas que percorre o mundo desde que nasceu, em 1971.
As atrações internacionais estão nas mãos de países da América Latina ; México, Argentina, Chile, Bolívia e Uruguai, que traz a delicada técnica do teatro das sombras. Do Brasil, são aguardadas demonstrações de grupos de seis estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Goiás, Maranhão e Piauí. O Distrito Federal, polo de bonequeiros, apresentará 22 espetáculos, a maioria de mamulengos (tradicionais no Nordeste). Entre as atrações, estão espetáculos simples, como A Peleja do vaqueiro Benedito, do grupo Roupa de Ensaio, de Samambaia, que aborda o coronelismo na capital do país, e O casamento de Chiquinha muito prazer filha do coronel João Redondo com Tião sem Sorte, da companhia Mamulengo Alegria, de Sobradinho.
Amanhã, a Bolívia, representada pelo grupo Paralamano Títeres, apresenta o primeiro espetáculo internacional. Histórias simples contém várias pequenas histórias que não têm conexão entre si, mas buscam expressar diversas faces das emoções humanas. Com técnica de manipulação direta de fantoches, o espetáculo dura 60 minutos e é inspirado em um poema de Nazim Hikmet (poeta e dramaturgo turco morto em 1963).
Como vem sendo feito nos últimos anos, além das peças teatrais, será reproduzida uma vila típica rural, feita de casas de taipa ; batizada com o nome de Cassimiro Coco (o personagem esperto que engabela cangaceiros e delegados na tradição dos bonecos do Ceará). Ali, todos os dias haverá demonstração de culinária regional, de mercados antigos (bodegas) e manifestações culturais típicas regionais, como a Danças do Lili (do Maranhão).
A HORA DO MAMULENGO
Na tradição dos mamulengueiros sempre cabe mais uma história entre o bem e o mal, o rico e o pobre, o capitão e o jagunço, o santo e o demônio e outros personagens típicos do teatro de bonecos, principalmente aqueles feitos na Região Nordeste. ;A primeira regra do teatro de bonecos é que o público não fique calado;, diz o mamulengueiro Miguel Mariano, de 37 anos, acostumado ao teatro de bonecos do Ceará, de onde saiu com 15 anos.
Quando se apresentar (no segundo dia do festival) com sua trupe familiar Roupa de Ensaio, Miguel estará dirigindo todos os bonecos da companhia enquanto sua mulher tocará pandeiro, fazendo as vezes de brincante (o elo entre a plateia e os bonecos). A pequena Maria Clara, de 7 anos, dançará com o pai no meio do espetáculo, mas antes ; em cima de pernas de pau ; conclamará, de forma lúdica e simples, o povo ao teatro. ;O Benedito é um humilde nordestino e a mulher dele está grávida. Eles trabalham na chácara de um fazendeiro que manda em tudo. E que tem uma cobra, a Madalena. Ela é manipulada pelo fazendeiro e come quem ele manda. A história começa a se complicar ;, adianta Miguel.