Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Mostra Faroeste Spaghetti resgata emoções perdidas na memória

Django arrasta o caixão misterioso pela paisagem lamacenta, Claudia Cardinale é socorrida pelo gaitista de bigode, um Charles Bronson de 41 anos. Trinity não é alguém sem seu "braço direito do diabo", não o membro, mas a pistola, e o mercenário polaco de Franco Nero até tem coração para defender o atrapalhado Paco. Célio Miranda, de 65 anos, não esquece nenhuma dessas cenas. Colecionou todas elas em algum canto da memória e fez todo o esforço possível para revivê-las durante a última semana. "Se não fosse esse ônibus do CCBB eu ia chegar aqui que nem o Django, suado e com o joelho quebrado", brinca o sociólogo, morador de Taguatinga, que organizou como pôde a própria agenda para poder assistir ao máximo de filmes da mostra Faroeste Spaghetti, o bangue-bangue à italiana, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) até o dia 22. Miranda tem bons motivos para não querer perder os filmes. Assistiu a todos quando criança, em Maceió. O pai era dono do Cinema Luxor e, quando se tratava de um faroeste italiano, o garoto corria para a sala de projeção ou para a plateia logo depois de fechar a bilheteria. "Tínhamos como prioridade lançar os faroestes mais famosos da época e o Django me marcou muito. Quando assisti era cantado em italiano e aqui no CCBB me deu um remorso, porque estava em inglês", comenta o cinéfilo. De fato, a música-tema do filme de Sergio Corbucci sobre um pistoleiro misterioso que planeja uma vingança foi exibida em versão inglesa, mas o produtor rural Sebastião Figueredo, 60 anos, nem se incomodou. Morador do Núcleo Bandeirante, ele tirou a quinta-feira passada para acompanhar a mostra no CCBB. Viu Django aos 13 anos, no interior do Maranhão, acompanhado do irmão. "Na época cinema era diferente de hoje, era uma coisa irradiante, era lindo. Os bangue-bangues, e principalmente os italianos, eram os bons da época. Hoje quero reviver aquela situação." Alternativa A mostra faz uma homenagem ao que ficou conhecido como o faroeste spaghetti, filmes produzidos na década de 1960, a maioria na Itália e todos na Europa, cuja simplicidade trazia uma alternativa aos tradicionais bangue-bangues norte-americanos. Na lista de 20 filmes estão clássicos como Era uma vez no Oeste e Por um punhado de dólares (Sergio Leone), Keoma (Enzo Castellari), Os violentos vão para o inferno e Django (Sergio Corbucci) e Eles me chamam Trinity (Enzo Barboni). Graças aos três canhotos de ingressos, Miranda teve direito ao catálogo da mostra. No livrinho, especificações técnicas, imagens e sinopses de cada filme ganharam tratamento sofisticado. "É uma relíquia", descreve o sociólogo. O bangue-bangue italiano é mágico porque é econômico. "É fascinante pela originalidade, pela maneira sensível de tocar o assunto sem extravagância e pela simplicidade de grandes filmes como os que fez Sergio Leone." O servidor aposentado Ernesto Alves Muzzi, 84 anos, entrou no cinema pela primeira vez já na adolescência. Ficou espantado quando assistiu ao primeiro faroeste italiano. As paisagens lembravam o interior de Minas Gerais, que o garoto havia trocado por Vitória para poder estudar. "O faroeste era como reviver o interior de Minas, as montanhas, os campos, o gado. Embora o faroeste seja mais no deserto, a gente transladava com facilidade", conta Muzzi, que acompanhou boa parte da mostra. "Rever os filmes é importante porque a gente vê que a vida é uma corda cheia de elos e não pode desligar o passado do futuro. Me fez reviver a vida com alegria." Impacto Alegre também estava o arquiteto Amilcar Coelho Chaves. Ele veio do Rio de Janeiro para Brasília aos 15 anos e assistiu aos 20 filmes exibidos no CCBB, ainda garoto, no Cine Brasília. "Eu morava ao lado e era fácil. Nunca vi um faroeste bom que não fosse lá. A primeira vez que a gente via um desses filmes era aquele impacto fantástico, tudo em technicolor, os cenários incríveis", lembra. Hoje, aos 66 anos, ele identifica características que na época nem eram tão percebidas, como as trilhas de Enio Morricone para os filmes de Sergio Leone. O arquiteto também repara que muitas estrelas dos bangue-bangues ficaram conhecidas mais tarde por outros papéis, mas para ele Gian Maria Volonté sempre será um excelente vilão e Clint Eastwood, um bom pistoleiro. As sessões da mostra lotaram a pequena sala do CCBB no sábado. Quem chegou em cima da hora para assistir a Três homens em conflito não conseguiu ingresso. O cineasta Vladimir Carvalho tentou assistir ao filme de Sergio Leone, mas os ingressos estavam esgotados. "Com o fechamento do Cine Academia ficamos sem opção", lamentou, com certo desânimo ao pensar nas alternativas cinematográficas para sábado à noite. Programação: Terça, 17 de agosto 17h - Trinity - Ainda é Meu Nome (117 min.) 19h - A Morte Anda a Cavalo (120 min.) Quarta, 18 de agosto 17h - O Retorno de Sabata (100 min.) 19h - Quando Explode a Vingança (157 min.) Quinta, 19 de agosto 17h - Trinity - A Colina dos Homens Maus (97 min.) 19h - Vamos Matar, Companheiros (118 min.) Sexta, 20 de agosto 17h - Por Um Punhado de Dólares (100 min.) 19h - Três Homens em Conflito (161 min.) Sábado, 21 de agosto 17h - Vamos Matar, Companheiros (118 min.) 19h - Por Uns Dólares a Mais (132 min.) Domingo, 22 de agosto 14h - Quando Explode a Vingança (157 min.) SINOPSES A MORTE ANDA A CAVALO, Giulio Petroni (Da Uomo a Uomo, Itália, 1967), Cor / 35mm / 120 min. / 14 anos %u2013 Quando era criança, Bill (John Phillip Law) foi a única testemunha do assassinato de toda a sua família por quatro assaltantes. Quinze anos depois, ele vai atrás dos assassinos em busca de vingança. Durante sua jornada, cruza o caminho de Ryan (Lee Van Cleef), um ex-condenado que acaba de sair da prisão, e também quer se vingar dos bandidos que o colocaram na cadeia. Juntos os dois formam uma dupla nada comum em busca de um mesmo objetivo de vingança. Dias 08 e 17. O RETORNO DE SABATA, Gianfranco Parolini (È Tornato Sabata... Hai Chiuso un/'altra Volta, Itália / França / Alemanha, 1971), 35mm / Cor / 100 min. / 14 anos %u2013 Sabata (Lee Van Cleef) chega a um pequeno vilarejo do Oeste seguindo um homem que fabricava dinheiro falso. Ele descobre que o comprador desse dinheiro é o "gangster" irlandês McIntock (Giampiero Albertini), que rouba sistematicamente os habitantes da cidade e se esconde atrás de uma fachada honesta de empresário. Com ajuda de Clyde (Reiner Schöne), seu ex-companheiro da Guerra Civil e de alguns pilantras da cidade (entre eles Pedro Sanchez), Sabata planeja um golpe contra a gangue dos irlandeses. Dias 07 e 18. OS VIOLENTOS VÃO PARA O INFERNO, Sergio Corbucci (Il Mercenario, Itália / Espanha, 1968), 35mm / Cor / 110 min. / 14 anos %u2013 Na região da fronteira do Texas, durante a Revolução Mexicana, uma cidade é controlada pelo Coronel Alfonso Garcia (Eduardo Fajardo), um ganancioso proprietário de minas que conta com o apoio do governo. O mercenário Sergei Kowalski (Franco Nero) é contratado para proteger um carregamento de prata de Garcia em direção aos EUA, mas se descobre no meio de uma revolta de trabalhadores oprimidos. As coisas se complicam quando ele bate de frente com o também mercenário Ricciolo (Jack Palance). Dias 08 e 14. POR UM PUNHADO DE DÓLARES, Sergio Leone (Per Un Pugno di Dollari, Itália / Espanha / Alemanha, 1964), 35mm / Cor / 100 min. / 14 anos %u2013 Joe (Clint Eastwood) é um pistoleiro barra pesada que chega a uma cidade que está em guerra. Quando percebem o potencial de Joe, as partes em conflito se interessam por contratá-lo. E então ele percebe que pode ganhar um bom dinheiro com a situação, aceitando a proposta dos dois lados. Dias 11 e 20. POR UNS DÓLARES A MAIS, Sergio Leone (Per Qualche Dollaro in Più, Itália / Espanha / Alemanha, 1965), 35mm / Cor / 132 min. / 12 anos %u2013 Este é o filme do meio da "Trilogia do Homem Sem Nome", também conhecida como "Trilogia do Dólar". Aqui, dois caçadores de recompensa, Monco (Clint Eastwood) e Cel. Douglas Mortimer (Lee Van Cleef) estão atrás de um mesmo homem, El Indio (Gian Maria Volonté). Em busca de sua recompensa, os dois decidem formar uma parceria. Dias 13 e 21. QUANDO EXPLODE A VINGANÇA, Sergio Leone (Giù la Testa, Itália, 1971), 35mm / Cor / 157 min. / 14 anos %u2013 Juan Miranda (Rod Steiger) é um ladrão mau e desajeitado que tem seu caminho cruzado por John Mallory (James Coburn), um terrorista irlandês fascinado por explosivos e que está fugindo dos ingleses. Miranda convence Mallory a usar seus conhecimentos em explosivos no roubo de um grande banco e eles acabam entrando de cabeça na Revolução Mexicana. Dias 15, 18 e 22. TRÊS HOMENS EM CONFLITO, Sergio Leone (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo, Itália / Espanha / Alenmanha, 1966), 35mm / Cor / 161 min. / 14 anos %u2013 Três homens %u2013 o Bom (Clint Eastwood), o Mau (Lee Van Cleef) e o Feio (Elli Wallach) %u2013 estão atrás de um tesouro escondido em um cemitério. Cada um deles conhece apenas uma parte da sua localização, o que faz com que eles tenham que se unir. O problema é que nenhum deles está disposto a dividir o que encontrarem. Dias 14 e 20. TRINITY %u2013 A COLINA DOS HOMENS MAUS, Giuseppe Colizzi (La Collina degli Stivali, Itália, 1969), 35mm / Cor / 97 min. / 12 anos %u2013 Honey Fisher (Victor Buono) se tornou um homem poderoso numa pequena cidade do Velho Oeste que cresceu devido à exploração de ouro na região. Fisher e sua gangue controlam o dinheiro e as minas de ouro. Oprimidos, os cidadãos pedem a Cat Stevens (Terence Hill) para combater o vilão. Mas Cat sabe que não conseguirá derrotar a gangue sozinho e recorre a seu parceiro Hutch Bessy (Bud Spencer) e Tom (Woody Strode), um artista de circo que quer se vingar dos criminosos. Dias 08 e 19. TRINITY %u2013 AINDA É MEU NOME, Enzo Barboni (Continuavano a chiarmarlo Trinità, Itália, 1971), 35mm / Cor / 117 min. / 12 anos %u2013 Trinity (Terence Hill) e seu meio irmão Bambino (Bud Spencer), se encontram mais uma vez na casa dos pais para o banho "anual" e um pacífico jantar em família. Logo depois, partem para a cidade de San José, onde Trinity dá uma lição em um jogador trapaceiro e os dois passam a ser confundidos com agentes federais. Trinity e Bambino resolvem tirar vantagem da confusão que foi criada. Dias 05 e 17. VAMOS MATAR, COMPANHEIROS, Sergio Corbucci (Vamos a Matar, Compañeros, Espanha / Itália / Alemanha, 1970), 16mm / Cor / 118 min. / 14 anos %u2013 O contrabandista de armas Yodlaf Peterson (Franco Nero) planeja fazer uma venda para Mongo (Francisco Bódalo), mas o dinheiro está trancado num cofre no banco e somente o Prof. Xantos (Fernando Rey), um prisioneiro dos norte-americanos, sabe a combinação. Yodlaf concorda em soltar Xantos, acompanhado do relutante guerrilheiro El Vasco (Thomas Milian), mas um antigo parceiro de negócios de Yodlaf, John (Jack Palance) tem outras idéias. Dias 10, 19 e 21. Local: Centro Cultural Banco do Brasil - SCES, Tr. 2, Lt. 22 - Asa Sul - 3310-7087 Preço inteira: R$ 4 Preço meia: R$ 2 De: 03/08/2010 Até: 22/08/2010 Informações: 3310-7087