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Em alta nas paradas de sucesso, a surpresa independente Gaslight Anthem escreve hinos para o homem comum

Bruce Springsteen, o autor de Born in the USA, é a influência número um. Daí o aprendizado: o quarteto The Gaslight Anthem está vivendo o sonho americano, mas de olhos abertos. "Meus amigos me telefonam, perguntam se estou rico. O meu país é conhecido por dar chances a todos, é verdade. Mas a realidade americana é muito diferente de tudo o que nos ensinam quando somos pequenos", comentou o vocalista Brian Fallon à Paste Magazine. Patriotada, portanto, não é com eles. Nos versos de Fallon, um letrista apaixonado pela escola do punk britânico, as highways apontam para paisagens quase sempre descoloridas. Canções para cidadãos comuns, sem glória. "Não escrevo sobre pessoas extraordinárias, que descobrem a cura do câncer, mas sobre aquelas que sobrevivem dentro de circunstâncias nem sempre boas", explicou. O discurso franco - e realista - aproxima o Gaslight Anthem de um fã-clube que se sente cúmplice das crônicas de Fallon e que fez do álbum American slang, recém-lançado, um pequeno fenômeno independente. O compositor foi comparado a "operários" que também rezam na congregação de Springsteen, como o Hold Steady e o Titus Andronicus. Como eles, o vocalista viaja à década de 1970 para criar um atalho imaginário entre o punk e o rock de arena. Depois de lançar dois discos nada ordinários (o segundo, The %u201959 sound, entrou em várias listas de melhores de 2008), o talento de Nova Jersey se encontra em uma encruzilhada: decola nas paradas de sucesso, mas não abandona um selo pequeno, SideOneDummy. American slang estreou em 16º lugar na Billboard, vendendo 27 mil unidades na primeira semana. A revista britânica Uncut o elegeu "disco do mês" e a americana Spin o classificou como "álbum do verão". O próprio Bruce Springsteen acompanhou os pupilos na palco, na Inglaterra. O motivo da consagração precoce parece até simples: Fallon é um daqueles vocalistas que parece incapaz de cantar mentiras. O público se identifica com o herói sincero e desiludido, que abre o jogo sobre os perrengues da idade adulta. Um punk de coração mole. "Pare de esperar pelo momento que nunca vai chegar. Nada será como o tempo em que você era jovem", ele resume, em Stay lucky. Arredondado pela produção de Ted Hutt, o novo disco da banda não gasta munição: é curto, preciso. Na falta de definição melhor, aceita ser chamado de "rock clássico". O rótulo não incomoda uma banda que, quando entrou em estúdio, queria sair de lá com um disco que lembrasse Rolling Stones, The Clash, Eric Clapton e algo de Motown. Acabou recebendo um apelido que combina com o estilão de Fallon: "soulful punk". Ou: punk cheio de alma. "Os discos antigos não vão salvar a sua vida", ele canta. Deve ter razão. Mas, curiosamente, American slang soa como se fosse um álbum que, gravado por volta de 1978, só foi descoberto agora. E que vai durar. THE GASLIGHT ANTHEM Conheça a banda de Nova Jersey em www.myspace. com/thegaslightanthem. O terceiro disco do quarteto, American slang, foi lançado pela SideOneDummy Records. Importado. ****