A linha entre DJ, VJ, músico e artista plástico é tênue para os quatro grupos que participam hoje do projeto Depois das fronteiras ; Experiências sonoras de visuais no Planalto. Muitos dos integrantes já circularam pelas picapes de boates e festas ou experimentaram associar imagens às batidas sonoras enquanto cuidavam de manter a pista de dança movimentada. Mas hoje o público será convidado a ficar sentado e assistir a uma apresentação em repouso.
V-Doc, Hol, Sang Fezí, VJ Submagem e o Grupo Mesa de Luz se apropriam dos jardins do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) a partir das 22h para mostrar performances que misturam música e imagem. Idealizado pelos curadores Samantha Endo, Maira Endo e Guilherme Fogagnoli, o Depois das fronteiras teve início no último fim de semana com apresentação de oito grupos e se encerra amanhã com direito a concerto para laptop e interação entre desconhecidos que se unem para compor um mosaico de videomusical.
;A gente percebe uma aproximação muito grande desta linguagem que vem da pista de dança, da balada, da música eletrônica com as artes visuais, que abraçam essa maneira de construir. Esses trabalhos mostram como isso está se transformando em pesquisas artísticas mais elaboradas;, explica Maira. Boa parte dos autores das performances começou a manipular sons e imagens em pistas de dança e, aos poucos, passou a desenvolver pesquisas mais sofisticadas.
Surrealista
O Mesa de Luz, único de Brasília nos últimos dias de programação do evento, apresenta hoje a performance Cotidiano, na qual tudo acontece ao vivo. Formado pelos artistas plásticos Marta Mencarini e Hieronimus Vale e pelo músico Tomás Seferin, o grupo trabalha com um personagem fictício cujo cotidiano é simulado em cima de uma mesa de vidro e acompanhado por uma câmera. ;Nossa maneira de contar a história não é linear, é um tanto surrealista. O interessante da linguagem é a sobreposição de camadas;, avisa Marta, que encarna a personagem. As imagens transmitidas para um computador são sobrepostas e editadas ao vivo, diante do público, enquanto Seferin toca instrumentos para criar uma ambientação sonora.
O Mesa de Luz surgiu em 2008 com apresentações na festa FunFarra. O público da pista de dança era o alvo dos artistas. ;Mas a gente sentiu a necessidade de ter um som saindo daquela máquina e o que era apresentação em festa foi parar em festivais e ficou mais refinado;, conta Marta. O grupo se apresentou no Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (File), em São Paulo, e inaugurou uma etapa na qual a performance nasce de uma combinação de imagens ao vivo, som e manipulação eletrônica do conjunto.
Hegel
A narrativa surrealista do Mesa de Luz cede espaço à abstração no trabalho do mineiro Henrique Roscoe, ou Hol, uma das atrações de noite de hoje. Conhecido como VJ 1mpar, o artista trocou as pistas das boates pelas apresentações para explorar linguagem mais conceitual. Seu Aufhebung mistura a filosofia de Hegel com performance audiovisual. ;É para assistir sentado e prestando atenção;, brinca. ;Apesar de não ter narrativa, tem uma história.; A ;história; é uma tentativa de transmitir visual e musicalmente o conceito da fenomenologia do espírito desenvolvido pelo filósofo alemão. Roscoe constrói sensações a partir de imagens geradas ao vivo para falar de dialética, tese, antítese e síntese. O tema é espinhoso, mas o resultado, o artista promete, é sensorial.
Na apresentação do DJ San Fezí, quem comanda as imagens é um integrante do grupo VJ Submagem. A performance combina sons pré-gravados com ritmos programados pelo computador e interferências visuais. Já Monóxidomaresia funciona como uma experiência de narrativa a partir da edição de imagens gravadas na Praia de Copacabana e na Marginal Tietê. Idealizada pelo grupo V-DOC, o trabalho reúne VJs e documentaristas na tentativa de subverter a linguagem do documentário.
Depois das fronteiras
; Hoje, às 22h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Amanhã
; Conversa aberta, às 16h, com Daniela Bousso, Lucas Bambozzi, Luiz Duva e Patricia Canetti.
; Apresentações às 22h dos grupos Hapax (RJ), Du Cabelo (SP) e Eletro-I-Man (MG e Barcelona), Embolex (SP) e Duva (SP).