Moska ficou seis anos sem lançar um disco de estúdio. Quando o fez, mandou logo dois CDs para a gravadora. ;Sou muito metido, né?;, ri o cantor e compositor, que nesse meio tempo gravou cinco temporadas do programa Zoombido para o Canal Brasil, cantou em palcos de vários países, fez milhares de autorretratos em banheiros de hotéis e lançou o DVD novo de novo, com show gravado em Brasília misturado a um filme meio documentário meio ficção. Os dois álbuns que chegam agora às lojas ; um de pop rock, chamado Muito, e outro mais intimista, batizado de Pouco ; são, de certa forma, um retrato desse período. E uma resposta aos ;excessos; do artista.
;Sou exagerado;, ele afirma. ;Há seis anos, desde que me tornei um artista independente, comecei a fazer um monte de projetos diferentes, tudo que sempre gostei. Não me sinto especialista em música, não me cobro isso. Não quero ser o melhor cantor nem o melhor ator nem o melhor fotógrafo. Quero ser um pouco de cada coisinha. Esta é minha onda: misturar as práticas que me atraem e tentar estabelecer uma assinatura.;
Em 2008, quando começou a pensar em gravar um disco, Moska separou 30 músicas, a maioria composta por ele. Algumas canções nem eram tão novas, mas só tinham o registro de outros intérpretes ; casos de Saudade (dele e Chico César), gravada por Maria Bethânia; Soneto do teu corpo (dele e Leoni), por Mart;nália, e Muito pouco, por Maria Rita. Depois de cortar, cortar, e não conseguir sair de 18 faixas, o cantor viu que cinco delas poderiam estar num outro álbum, mais silencioso do que o que ele tinha imaginado inicialmente. ;Comecei a fazer em casa uma pré-produção desse disco ;frugal; para gravá-lo depois, mas fui me apaixonando tanto por ele que quase deixei de lançar o outro para fazer este;, conta.
Gêmeos
Ao notar que Muito pouco (a canção antes gravada por Maria Rita) era, mais do que nome de música, um conceito que poderia ser desmembrado, Moska se deu conta de que não precisava abandonar um para cuidar do outro. ;Daí em diante, passei a pensar neles como gêmeos bivitelinos, separados, mas gerados juntos, com o mesmo amor;, diz Moska, que foi dividindo ideias para um e outro (e às vezes trocando algumas de lugar), decidido a fazer com que os dois se comunicassem, que houvesse uma relação entre o Muito e o Pouco.
Um é pra fora, o outro pra dentro. Muito é o disco que tem som de banda, bateria em todas as faixas e só uma participação especial (a do grupo uruguaio-argentino Bajofondo Tango Club). Pouco é mais leve e introvertido. Para este, Moska convidou alguns amigos com quem vem dividindo palcos mundo afora(1). São do argentino Pedro Aznar o baixo e o piano no blues Provavelmente você, e a voz e o violão em Nuvem (versão de Moska para Nube, do chileno Nano Stern). Já o argentino-americano Kevin Johansen assina (e toca violão e canta) Oh my love, my love e Waiting for the sun to shine (esta em parceria com o anfitrião e com direito a Maria Gadú no coro).
Pouco começa com piano de brinquedo, em Semicoisas, canção sobre o que está por vir, feita em homenagem a Valentim, o filho de Moska que nasce em agosto. Na sequência vem O tom do amor, escrita para Antônio, o filho de 13 anos, uma das três parcerias do compositor com Zélia Duncan que entraram no álbum (as outras são Sinto encanto e Não, já gravadas por ela). A cantora é, como ele diz, ;amiga de segredos;. Moska a conhece desde os tempos em que assinava Zélia Cristina. Já fizeram umas oito músicas juntos. Não à toa, ele levou essas três para seu disco ;frugal;. Queria um clima acolhedor. De amigos de segredos. Como Zélia e Chico César, que canta com ele a bela faixa de encerramento, Saudade.
1 - Entre hermanos
Moska tem bom trânsito entre os músicos sul-americanos. Já fez shows com Kevin Johansen e Jorge Drexler em cidades como Buenos Aires, Montevidéu, Madri, Barcelona e Sevilha. Há três anos, também trouxe os dois ; e Pedro Aznar ; ao CCBB de Brasília, para o projeto Mercosul musical. Com essas andanças, acabou virando uma espécie de embaixador. ;Os artistas me procuram, dizem que adoram música brasileira;, conta. ;Nano Stern, por exemplo, é um garoto de 24 anos que toca e compõe muito bem, gosta muito daqui. Acho que o Brasil ia gostar muito dele também.;
Três perguntas - Moska
Você diz que Muito pouco é um retrato dos últimos seis anos. De que forma o Zoombido, um programa em que você recebe convidados para cantar e conversar sobre música, entra nisso?
Na escolha das canções, na maneira de cantar. Acho que estou cantando melhor, tocando melhor, justamente porque me transformei um pouco nos outros no meu programa. Sou um pouco Zelig (o homem-camaleão, personagem de Woody Allen). Gosto de entrar no universo do outro, o outro me melhora. Esses encontros musicais do Zoombido me colocam num tipo de intimidade com o artista que é bem diferente da amizade e que me modifica muito.
Você tem um ;baú; de canções ou de pedaços delas que ficam ali guardadas para um dia serem usadas ?
Ah, tenho sim. Fazendo uma mudança na minha casa, encontrei muita coisa. Fiquei impressionado. Perdi minha juventude toda escrevendo (risos). Fiquei com pena de mim.
Alguma coisa aproveitável?
Espero que sim. Muitas anotações, muitas frases. Às vezes, eu recorro a um caderno, mas eu não sabia que eram tantos. Achei uns cinco cadernos inteiros, mais um monte de papel solto, com pedaços de coisas. Sempre fui muito ladrão. Sempre li livro e vi filme roubando frases. Acho uma delícia isso. Quero que roubem todas as minhas frases. Porque eterno é o que não morre. E nada é eterno se tiver dono. Só a liberdade pode alcançar a eternidade.