Diversão e Arte

O que eles pensam - Diogo Nogueira

postado em 25/07/2010 09:59
Bom de bola ele não é, um peladeiro talvez, mas ele dá show mesmo é no samba; isso sim. Diogo Nogueira faz parte da seleta geração de sambistas que une os bambas do passado com a moçada nova. Nessa conversa com o Correio, ele fala do legado do pai, João Nogueira, da Velha Guarda da Portela, da malandragem carioca e da crise que aflige o mercado fonográfico nacional. ;Hoje as pessoas baixam tudo na internet, não pagam direitos autorais a ninguém;, lamenta. Para Diogo, também se faz política com o samba: ;É uma maneira de fazer o povo pensar, refletir, se conscientizar;.

Bamba como o pai

José Carlos Vieira
Teresa Mello

Qual a diferença do samba que você canta hoje para o samba que seu pai representava?
Em meus shows canto muitos sambas antigos, importantes clássicos, do meu pai e de outros grandes compositores. Mas também canto sambas atuais, de compositores da nova geração e sambas de minha própria autoria. Não vejo muita diferença, exceto em algumas temáticas. Tem sambas antigos que sempre foram modernos e atravessaram gerações, assim como tem gente da nova geração que compõe no estilo dos compositores da Velha Guarda. Ou seja, sempre teve de tudo. O importante é ter qualidade, ter uma boa melodia e uma poesia inspirada.

Por que não existem mais (ou são poucos) os sambas que todo mundo canta e lembra numa roda, como os de Zé Kéti, por exemplo?
Nosso tempo é outro e muita coisa mudou. Antigamente, as coisas eram passadas de pai pra filho, numa tradição oral, cantada. E isso valorizava e eternizava muitas obras, sem contar que muitas delas tinham uma alta qualidade. Com a mudança dos tempos, com a velocidade das coisas, a chegada da internet e das novas mídias, tudo ficou mais descartável, sem contar o nível ruim de muita coisa que se apresenta por aí. Hoje em dia, todo mundo faz um CD em casa e, de uma hora para outra, vira cantor e compositor. Mas também acho que ainda existem ótimos compositores, muita gente boa, ajudando a manter a tradição do samba bom, do samba que fica para sempre. Esse que todo mundo canta e gosta de cantar.

Que lição o bamba João Nogueira deixou para você?
Meu pai sempre foi um exemplo, como cantor, como compositor, mas principalmente como ser humano. Um cara digno, correto, justo, amigo, solidário. E esses ensinamentos eu busco trazer para minha vida e para a dos meus filhos.

Duplas sertanejas gostam de afirmar que são pop, nada de caipira, uma maneira de ampliar o público. No samba também é assim, tipo ;samba universitário;?
Eu respeito todas as formas de se fazer samba, e procuro não me ligar nesses rótulos. Tem espaço para todo mundo.

Sambista é preocupado com política?
Isso varia muito de pessoa para pessoa. Mas, de uma maneira geral, o samba sempre traz uma reflexão, algumas vezes um protesto. E isso é uma maneira de fazer o povo pensar, refletir, se conscientizar.

A Lapa hoje é um lugar de mauricinhos? Ainda há espaço para os sambistas, compositores, os boêmios de verdade?
A Lapa é hoje um lugar democrático. Tem espaço para os mauricinhos, para os descolados, os hippies, para os sambistas, compositores e boêmios de verdade.

Malandragem hoje em dia no Rio é só para turista ver?
O termo ;malandragem; mudou de significado com o passar dos anos. O cara pensa que é malandro, fazendo armações, passando os outros pra trás... Mas não sabe que ele é o verdadeiro ;mané;! E um dia a casa cai...

As gravadoras estão minguando, o mercado fonográfico passa por uma crise de sobrevivência. Como ganhar dinheiro produzindo CDs? Quais as saídas para um músico se manter no mercado e conseguir pagar suas contas?
Realmente o mercado fonográfi coico mudou muito e hoje vive um momento delicado, diferente de outras épocas. Hoje as pessoas baixam tudo na internet, não pagam direitos autorais a ninguém. E o compositor, que vive disso, perde o seu sustento. Ficou complicado para o compositor (e para muitos artistas) se manter. Mas o brasileiro é um povo trabalhador, criativo e, com muito talento, vai dando seu jeito de se virar, de sobreviver e continuar mantendo o seu lugar ao sol.

Como é o seu convívio com a Velha Guarda da Portela. Os velhos sambistas têm algum preconceito?
A minha relação com eles é ótima. Se hoje tenho o privilégio de assinar quatro sambas enredo para a escola foi porque tive um dia a oportunidade de ser aceito nessa ala, e de participar das disputas de sambas, de igual para igual, incentivado pela própria Ala de Compositores da escola.

Hoje o samba se distanciou das benesses dos bicheiros, dos traficantes?
O samba continua sendo o que une, o que reúne, o que junta o patrão e o empregado, o jovem e o velho. Como já disse antes, os tempos são outros e as coisas vão mudando, de adaptando as novas realidades.

São Jorge te acompanha desde quando?
Desde sempre. Me protegendo e me guiando.

Como foi a escolha do seu repertório para o novo DVD? O DVD está tomando o lugar do CD? Fale um pouco desse novo trabalho.
O repertório do novo DVD, Sou Eu, é composto por músicas do meu último CD, Tô fazendo a minha parte, releituras para sambas de que sempre gostei, além de algumas músicas inéditas. Vai ser um trabalho bem bacana e acredito que o público vai gostar! Vamos contar com a participação de alguns convidados muito especiais. Fico feliz em fazer mais um DVD, pois hoje em dia quase todo mundo tem um DVD em casa, e é muito legal unir imagem e som. Quanto ao tipo de mídia do futuro, acho que tem muita coisa ainda por vir, e, em breve, o CD e o DVD já terão perdido espaço para novos formatos de mídia que estão chegando. O tempo não para e a tecnologia avança muito rápido.

Seu programa semanal de tevê, Samba na Gamboa, na TV Brasil, foi empurrado para um horário quase perto da meia-noite. Samba não dá Ibope em horário nobre?
O Samba na Gamboa é um dos programas de maior audiência na TV Brasil. Estamos muito felizes com esse trabalho e as noites de terça têm sido especiais na casa de muitas pessoas. Recebo muitos e-mails e, viajando por todo o Brasil, sempre encontro pessoas que vêm me dar os parabéns e falam que adoram o programa. A mudança do horário foi somente agora, por causa da Copa. Mas, por mim, acho que poderíamos ocupar um horário mais cedo na grade da TV Brasil.

O futebol brasileiro levou um baque na África do Sul, o que pode ser feito para ressuscitar a objetividade e a ginga do nosso futebol? Convocar mais Felipes Melos e Klebersons?
O futebol brasileiro é o melhor do mundo. Isso é fato. Mas a Copa é um momento único, muito especial, e não dá para vacilar, ainda mais quando chega na fase do mata-mata. Mas tudo bem. Em 2014 a gente monta um novo time, com essa molecada nova, e vamos ganhar o hexa em casa.

Qual a primeira impressão que você teve ao desembarcar em Brasília?
Brasília é um dos lugares do Brasil onde mais faço shows. Adoro a cidade e o público daí. Sem entrar em qualquer aspecto da vida política da cidade, no campo das artes, Brasília sempre teve ótimos músicos e um público exigente, que gosta da boa música. Por mim, estarei sempre tocando em Brasília.

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